segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sobre Itaipu e Paraguai II

Segue trechos de artigo do Sr. Jorge M. Samek, diretor-geral da Itaipu Binacional, na Folha de São Paulo de 27.04.08

1. Itaipu é uma grande obra de engenharia política, jurídica e diplomática. Os artífices do tratado tiveram a inteligência de perceber que essa parceria não poderia prosperar em bases comerciais. Se tivesse sido pensada como um simples negócio, os direitos em Itaipu teriam de ser proporcionais ao aporte financeiro de cada uma das partes. Dadas as dimensões do projeto, o Paraguai não teria condições de arcar com a parcela de encargos (capital e garantias para empréstimos) correspondentes ao seu inalienável e indiscutível direito a 50% da produção da usina.

2. Como os encargos da construção de Itaipu foram repartidos proporcionalmente à capacidade econômica dos parceiros, coube ao Brasil assumir 100% dos financiamentos, dívidas no exterior e garantias aos credores. Falharão, portanto, todas as tentativas de interpretar o tratado a partir de uma ótica puramente econômica ou comercial.

3. A viabilidade de Itaipu foi assegurada com base em três garantias que desafiam a lógica de mercado: (i) receita anual suficiente para cumprir com todos os seus compromissos financeiros; (ii) obrigação das "altas partes" (Eletrobrás e Ande) de contratar toda a potência instalada; e (iii) mercado cativo para a energia produzida.

4. Em troca dessas garantias -que protegeram e continuam protegendo Itaipu dos riscos inerentes às oscilações de mercado-, ficou estabelecido que toda a energia produzida deve ser destinada ao consumo exclusivo de Brasil e Paraguai. A venda a terceiros abriria a possibilidade de qualquer dos sócios especular em benefício próprio, o que geraria benefícios desiguais para os países, em flagrante conflito com o espírito do tratado.

5. A dívida estará integralmente paga em 2023, com recursos obtidos da energia produzida, o que comprova que as bases do tratado são justas e sustentáveis.
Itaipu responde hoje por 20% de toda a energia consumida no Brasil e 95% da energia que abastece o Paraguai -que se tornou um dos poucos países que têm soberania energética assegurada pelas próximas quatro décadas, um ativo valioso para impulsionar seu desenvolvimento.

6. Além disso, o Paraguai já recebeu US$ 4,5 bilhões referentes a royalties e compensação por cessão de energia -benefícios que não podem ser desconsiderados. Sem ignorar o fato de que o tratado permitiu ao país tornar-se co-proprietário de uma empresa que tem hoje um valor de mercado estimado em US$ 60 bilhões. Assim, Brasil e Paraguai devem se orgulhar do Tratado de Itaipu.

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