quarta-feira, 23 de abril de 2008

Da série (DESCON)gestão familiar

O caso do crime de guerra.

Nos anos em que grassava a 2a. guerra mundial, o Brasil foi adiando a entrada no teatro de operações até que por volta do ano de 44 enviou tropas para lutas ao lado dos aliados. Nessa época o açucar, a gasolina, o leite e o sal eram racionados. Os tres primeiros por conta de esforço de guerra e a dificuldade de exportação e o ultimo por ser um componente na fabrição de munição (pelo que me informaram). Na ocasião ocorreu um escandâlo porque o leite embora racionado era usado sem restrição na alimentação de cavalos do Jockey Club, situação que fez Assis Chateaubriand fazer uma verdadeira campanha nos seus jornais contra o governo que permitia aquele abuso.

Nessa ocasião, em 1945, meu avô era o presidente do sindicato dos carvoeiros de São Paulo e por conta desse título, possuia alguns benesses como evitar certas cotas e racionamentos. Um amigo fazendeiro falou da dificuldade de obter sal para seu gado e pediu se o "compadre" poderia ajuda-lo e meu avô não pensou duas vezes. Mandaria um caminhão para a região buscar carvão e levaria sacos de sal.

O problema é que esse transporte de um produto racionado era contra a lei no caso era crime de guerra; e alguem delatou para o PID, a polícia de Getúlio o "contrabando de produto sob racionamento". O caminhão foi parado pela polícia, a carga confiscada e quando verificaram os documentos do carro com o motorista (que tremia de mêdo), foram prender o dono e autor do crime.

Bateram na porta da casa de minha vó e só não a levaram presa porque estava no final do oitavo mês de gravidez de meu tio mais novo. Entretanto ela deveria prestar depoimentos e seria processada. Coisa que acabou não ocorrendo porque logo a guerra acabou poucos meses depois.

Para quem ainda não entendeu, explico. O caminhão estava registrado no nome de minha avó que não tinha a menor idéia do que se passava.

Quando meu avô chegou tarde da noite e foi enquadrado por minha vó, ele explicou cândidamente que tinha mandado alterar o registro, porque caso o caminho fosse parado pela polícia e vissem o contrabando, ele seria preso e ela não saberia o que fazer para tira-lo da cadeia, mas se ela fosse presa, em pouco tempo ele conseguiria liberta-la.

Pois é, isso é (descon)gestão familiar de empresas.

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