quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Sobre o flme Bird Box

Não assisti e pra falar a verdade, não me senti motivado a tanto.

Como sou um leitor e telespectador curioso, li a sinopse, as criticas, etc.

Trata-se de mais um filme apocalíptico da vertente "invasão alien". Os invasores são seres de tal sorte medonhos que uma vez visualizados, os humanos sãos ou supostamente sãos, se matam e os loucos se tornam instrumentos; como mais a frente o medonho se traveste de ente queridos perdidos...O filme optou por não mostrar os invasores, embora em uma determinada cena, desenhos feitos por um "enlouquecido" deem uma idéia da coisa; porem...é preciso um senão.

O filme e o livro não explicam. De uma hora para outra a visão do horror ou de ente queridos perdidos levam as pessoas a se matar. Os loucos e psicóticos no entanto, não são afetados pelo horror mas acabam sendo instrumentos dos "invasores", de forma a forçar os "normais" a enxergar a beleza. E nesse ponto, como não se explica, tanto podem ser aliens, quanto espíritos ou demônios, reais ou aqueles internos. Ou seja, entenda como quiser.

O nome do filme vem do fato de que pássaros avisam que os "invasores" estão próximos. E na parte final, a personagem principal solta pássaros de um caixa, por se sentir segura.

No livro e o filme deixou de lado, os cães tem reações com as "coisas".

O filme não é um registro exato do livro e nem poderia sê-lo mas além de diferenças de personagens ou a inexistência de alguns, o filme destoa mais no final que possui um tom mais positivo que o livro. O filme mostra que ela se refugiando em uma escola para cegos, mas o livro mostra que o refugio no final é formado por pessoas que furaram os olhos para não correr riscos.

Existe uma explicação bem psicológica. O filme trata da cegueira que uma doença de cunho mental traz para a pessoa. No caso, depressão pós-parto meio que se justifica no processo, já que a medica dela está no refugio, o uso de uma peça azul a todo o momento, menos no final quando ela demonstra real afeição pelos filhos. Ou seja, o uso de alegorias para explicar os horrores das doenças mentais.

Ocorre que...

A questão principal do filme (a perda da visão), já teve tratamento em outro filme, "Ensaio sobre a cegueira", e me pareceu muito mais intrigante, já que a falta da visão levou aos homens a colocar a frente seus instintos mais primitivos e os dotes da civilização logo são deixados de lado. Embora o livro e nesse aspecto, o filme, não tivessem por objetivo descrever um mundo apocalíptico; mas como o "não enxergar" faz parte da natureza humana em especial no que diz respeito à relação com o próximo; é impossível não lembrar dele e perceber sua superioridade.

Mas se ficarmos apenas no nicho "filmes pós-apocalípticos"...

Há pouco tempo, em abril deste ano, foi lançado o filme "um lugar silencioso". Mesma coisa, mesma temática, na qual uma família acha refugio em uma fazenda, de um mundo que foi invadido por aliens, mas o sentido atacado no caso é a audição. No caso, os aliens que são cegos atacam qualquer ponto de origem de sons, daí a necessidade de absoluto silêncio. Dito de outro modo, para sobreviver não se deve falar e tudo deve ser feito com muita calma e sem barulho. No caso de Bird Box, para sobreviver, se deve abrir mão da visão.

Nos dois casos, abrir mão de um dos sentidos para sobreviver em um mundo sem a ordem civilizatória é o cerne dos filmes e dai a sensação de deja vu.

Tem mais, como a origem das "coisas" não é explicada e sequer elas aparecem, outra ligação impossível de não ser feita é com o filme "Fim dos tempos", mais antigo no qual os humanos se matam, atacados pelo que se vê depois, pela "natureza", com o vento levando uma espécie de pólen ou feromônio que ataca os humanos, os levando a se matar. A solução é abandonar os grupos humanos e se isolar até passar a devastação, o que vai contra o credo civilizatório de que vivemos e nos protegemos melhor vivendo em coletividades e ajudando uns aos outros.

Logo, guardadas as proporções, Bird Box é uma mistura de "Um lugar silencioso" com "Fim dos Tempos".

Não fosse pelo inusitado de não ser produto das grandes empresas produtoras mas da Netflix, um empresa de stream e possui um estrela de primeira grandeza no elenco, Sandra Bullock, é possível que esse filme passasse despercebido. Ou se o roteiro fosse condensado devidamente, poderia ser um belo episódio de Black Mirror








Algumas questoes sobre o João que não era de Deus...

Antes de qualquer coisa, o que se pretende é apontar algumas questões sobre um caso recente de crimes sequencialmente praticados sob o manto da religião; e não atacar essa ou aquela religião.

Isso posto...

  1. João de Deus é um médium que atua curando espiritualmente pessoas que o procuram por pelo menos 40 anos. 
  2. João de Deus "incorpora" espíritos que curam as pessoas que o procuram desde que ele se iniciou na religião.
  3. João de Deus, por orientação do considerado "papa" do espiritismo, Chico Xavier, já falecido, se estabeleceu em Goiás e alí ficou até hoje.
  4. João de Deus, sabe-se lá porque, se tornou o médium preferido de politicos e de artistas, criando fama internacional com a entrevista para a americana Oprah, que notoriamente é forte formadora de opinião através de seu programa na televisão americana.
  5. João de Deus, através de sua base de atuação, possuía acordos comerciais com a Federação Espírita Brasileira para publicação e venda de livros.
  6. João de Deus tornou-se fonte de renda para essa Federação e se tornou um homem milionário.
  7. João de Deus foi preso em regime preventivo, após dezenas e agora centenas de mulheres relatarem terem sido vítimas de abuso sexual, e com isso se descobriu até agora que o mesmo é como já dito, milionário, guardando em bunkers construídos em suas casas mais de 1 milhão de reais, armas sem registro e as denúncias apontam para relacionamento com outras áreas criminosas como o garimpo clandestino.
  8. No auge do caso a Federação Espirita Brasileira, publicou notas na imprensa dizendo que não apoia "curadores" que agem sozinhos com os pacientes e sempre precisa ter alguém junto. Que não é espirita quem não segue as regras da Federação e que o médium perde a mediunidade se sua atuação é baseada em ganancia e desejo pessoal.

Esses são os fatos em resumo sobre o tal João de Deus.

Ao acompanhar o tema na mídia, não foi difícil perceber que algumas questões se levantam naturalmente e não vejo quase ninguém fazendo essas perguntas.

A primeira que percebi logo de cara, foi o silêncio que em especial os artistas estão fazendo. É obrigatório lembrar como a classe artística, em especial as mulheres, foram rápidas em se posicionar na campanha do "ele não" em relação a eleição de Bolsonaro. E o eventual leitor pode concordar ou não com isso, mas elas tinham o direito de se posicionar, como fizeram. Também rapidamente me vem a mente, as artistas se posicionando no "mexeu com uma, mexeu com todas", a versão tupiniquim do "me too", no caso de assédio que atrizes e profissionais de televisão sofreram de atores e diretores. E esse movimento é importantíssimo para se criar uma cultura de respeito a mulher, tão em falta hoje em dia. Entretanto, muitas das artistas que se fizeram presentes nas duas campanhas e que já foram ao centro do João de Deus receber tratamento ou passes, estão praticando um silencio obsequioso até agora e a falta de apoio dessas atrizes às vítimas do João de Deus é inacreditável. 

A segunda é a rapidez com que essa Federação tratou de se descolar dos fatos, com uma explicação pra lá de interessante que pode ser resumida assim: o sujeito não é espirita porque não seguiu a orientação da federação. Não é medium, porque a mediunidade se perde. dito de outro modo, o "espirito" se afasta do sujeito se ele não tiver boas intenções. Faltou a essa entidade apontar em qual livro ou normativa, entregue ao tal João de Deus, o informava das orientações e porque ela não as tornou públicas desde o inicio. Também faltou a entidade explicar que se o sujeito não é espirita por conta disso, porque ela manteve as relações comerciais com sua base. E por fim e não menos importante, porque nenhum desses espíritos de luz que se afastaram do dito João de Deus não avisaram a entidade do desserviço que o sujeito estava fazendo a causa.

A terceira é o tratamento da mídia e a reação da população. Fosse o sujeito um pastor evangélico, as esquerdas estariam se esgoelando na mídia e nas tribunas contra o fundamentalismo cristão e seu apoio a Bolsonaro e a involução dos direitos humanos e das mulheres e por ai afora. Não faltaria quem apontasse as igrejas evangélicas, no geral, como centros de crime organizado e que as ditas curas são teatro para apanhar os incautos. Como se trata de um espirita, ai existe todo um cuidado de se separar a religião do criminoso. Mal comparando é o que ocorre quando islâmicos praticam atentados e logo a mídia corre para separar a religião dos criminosos. E talvez isso se explique por ser uma religião de origem não cristã e ter "sofrido" preconceito da denominada "cultura católica", embora o sincretismo e o tráfego de conceitos se fizeram e fazem muito comuns no país. Mas que são formas distintas de reagir isso são e isso, não se discute.

A quarta é o modus operandi do sujeito. A escolha das vítimas demonstra que tudo era conscientemente planejado. Todas elas eram mulheres desconhecidas, sem acesso a mídia e adeptas da fé que se sujeitavam ao que o "cavalo" do espirito de luz dizia ser necessário. Ele não abusou de nenhuma artista famosa ou gente com acesso à mídia e televisão. E isso não enfraquece a denuncia, mas a fortalece, pois se o sujeito tivesse se esfregado em uma juliana paes ou xuxa da vida, elas teriam botado a boca no trombone na mesma hora. A atriz e cantora Alessandra Maestrini
 afirmou que ela poderia ter sido uma vítima. Ledo engano. Afinal o médium usava as famosas e famosos para ter visibilidade e usava as não famosas para saciar seus desejos.

A quinta é que a memória quase de imediato linka com o caso do médico Roger Abdelmassih que por conta de 52 casos de assédio contra 39 mulheres, foi condenado a mais de 180 anos de prisão e cumpre a pena em prisão domiciliar. E como praticamente todo mundo já esqueceu dele; é natural que mais cedo ou tarde, o mesmo ocorra com o tal João de Deus.

A sexta é de fundo religioso. Se o sujeito curava as pessoas, ou era efeito placebo ou de fato havia a intervenção de forças superiores. Se o sujeito estava sob controle dessas forças superiores e pela teoria são seres de luz e bons, porque não impediram o "cavalo" de atacar as pacientes? Se era efeito placebo, o sujeito de fato estava a praticar medicina sem ser médico o que é mais um crime a ser averiguado.

Se como disse a Federação Espirita, o medium perde o "poder" se usar para o mal, por assim dizer, porque esse "espíritos de luz" não alertaram outros médiuns sobre os crimes cometidos, sob o manto da religião e que se afastaram do dito cujo? - Ou, e isso é uma alternativa, se voce se basear no cristianismo bíblico; os ditos espíritos não eram de luz.

De qualquer forma, mais um criminoso que usando poder e controle fez centenas de mulheres vitimas.






quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Liminares pra cá...Liminares pra lá...

Tirando toda a bobajada militante pró-lula, o movimento de liminares e anulações no STF a respeito da prisão após segunda instância, não passa de firula e jogo pra torcida, na minha opinião. Explico o porque dela: O ministro Marco Aurélio é o relator de duas ações contestando a inconstitucionalidade da prisão em segunda instância. O ministro em questão é contrário a esse procedimento e neste sentido o faz por fazer uma leitura da letra fria da lei. Ocorre que...Essas duas ações estão colocadas para julgar ao menos desde o ano passado. E se antes não havia nada no caminho, desde abril deste ano, o ex-presidente Lula, que está preso por ter sido condenado em segunda instância, é o nome mais famoso entre os presos e há por certo o componente politico na decisão do juiz. O problema, a meu sentir, é que se havia grave prejuízo a ser combatido com a emissão de uma liminar que cancelava as prisões em segunda instância, porque não a emitiu antes, quando a então presidente do STF entendeu que não iria pautar as ações tão cedo, porque o tema já havia recebido a atenção da corte em três ocasiões distintas (me poupo de tecer comentários se haviam ou não outras razões, de outras ordens)? E porque a emissão da liminar se o atual presidente pautou as ações para julgamento para Abril de 2019? E porque a emissão da liminar em horário tal que seria impossível reunir a corte, já que a mesma entrou em recesso e nesse caso cabe ao presidente decidir sua revogação, anulação ou aquiescência? A mim, o ministro emitiu a liminar sabendo que o presidente do STF seria provocado a revoga-la. Ao faze-lo o ministro se torna alvo das esquerdas, agora em posição de defesa com a entrada de um novo governo, que não pode ser chamado de companheiro. Ao mesmo tempo, cria uma imagem de zelo pela constituição em tempos que a mesma tem sido deixada de lado em muitos casos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Carrefour, animais, crimes menores e maiores

Voltei ao blog. E o tema é uma somatória de achismos, erros e verdades incompletas. Em tempos de fakenews, todo cuidado é pouco na hora de ler noticias e apostas em fontes. E o que temos? 1. Uma rede de supermercados que possuem como é natural, um grupo terceirizado de colaboradores: vigilância, limpeza, caixas, etc. Para o público e consumidores pouco importa. Dentro das dependências da empresa ou voce é um consumidor/cliente ou você é um funcionário e se é funcionário voce é a cara da empresa e o que voce faz, na verdade é a empresa que está fazendo. Dito de outro modo, se voce já foi recepcionado por uma caixa nervosa que lhe tratou mal, a empresa lhe tratou mal, porque a fonte pagadora daquela profissional não diz respeito aos clientes. Ok até aqui? - Conclusão lógica: a atitude do vigilante de eliminar o animal, não importa se por iniciativa própria ou por ordem indireta do chefe como se alegou de inicio foi uma atitude da empresa e errou o Carrefour quando de inicio querendo se livrar jogou a culpa no terceirizado. 2. Crimes são crimes. Esse é de pouca monta, por se tratar de um animal. Mas partindo pras hipóteses: E se fosse um crime mais grave, o estupro de uma mulher, o roubo de um veiculo, o espancamento de um morador de rua que tentasse entrar no local para pedir comida? A teoria das janelas quebradas se faz presente aqui. O descaso com a morte do animal, de forma cruel e desnecessária, deixada pra lá, se permite olhar com desdém para outros crimes que possam vir a ocorrer. Não se trata de valorizar a vida do bicho acima do homem, mas ao tratar a vida do bicho sem valor, acabamos relativizando o valor da vida do homem. 3. O Carrefour errou no tratamento da questão. Errou na questão do tratamento de situações adversas quando ficou emitindo notas à imprensa tentando fazer de conta que a empresa nada tinha com aquilo. Errou na questão de treinamento de seu pessoal que não soube lidar com a questão do transito de animais em locais que exigem um mínimo de asseio e limpeza. Errou ao não emitir a ultima nota, correta, desde o inicio. Errou ao não abrir investigação interna e procedimentos administrativos mas aguardar pronunciamentos da policia. 4. Ai começam as boatarias. A fonte menos crível que se pode ter são funcionários da empresa. Por óbvio defenderão a empresa e na era do fakenews, aparecem as bobajadas de que a loja do carrefour fechou, que pessoas perderão o emprego...tudo mentira. 5. Ativistas fizeram campanha contra o carrefour. Em grande parte essa campanha é resultado dos erros da própria empresa, apontados acima. Tivesse agido mais rápido e melhor, as noticias seriam elogios e positivas. 6. Especialistas ouvidos pela revista Exame, ponderaram que clientes mais fieis da loja e aqueles que possuem relacionamento mais forte com animais tendem a boicotar a loja por um tempo. As ações positivas da empresa se ocorrerem e saírem do discurso tendem a reverter a situação. 7. O boicote é legitimo e é a única arma que o consumidor possui. Aqui no Brasil, a população pouco se mobiliza, mas nos EUA e Europa a coisa é levada a sério, mesmo que em alguns casos, seja fruto de ignorância. Querem exemplos? - A Acelor-Mittal anos atrás começou a perder volume de vendas na europa. Como possuía todas as ISO exigidas foi pesquisar o que estava ocorrendo e as empresas que comprovam seu aço estavam deixando de faze-lo, porque seus clientes queriam uma garantia de que não se usava carvão vegetal feito com madeira de arvores em extinção e da amazonia. A primeira ação da empresa foi se encher de paciência e explicar que usavam carvão mineral e não carvão para churrasco. Não adiantou. O volume de vendar só foi retomado quando a empresa gastou alguns milhões para "certificar" que o carvão mineral usado na produção do aço não vinha de madeira de arvores em extinção. - O Santander sofreu pressão de seus clientes por conta do financiamento de uma exposição de arte considerada pornográfica. A pressão acabou quando o financiamento parou. E quando se condena manifestações e a coisa se alinha com a tese de que empregos são importantes e que boicotes e manifestações são erradas? - O caso da cidade de Mariana está aí. A empresa até hoje se recusou a pagar as multas ambientais e as famílias, praticamente a cidade toda foi destruída e nada de ser ressarcida. Boicotes..a tese dos que defenderam que a empresa é mais importante está ai. Ninguem sabe mais o que ocorreu por lá e as vitimas aguardam ressarcimento até hoje.