terça-feira, 30 de setembro de 2008

Comentários II

Reproduzo nota do Estadão on line de ontem abaixo.

Um internauta de nome Flávio, a quem agradeço a honra de ter acessado meu blog e feito uma crítica valiosa; levantou uma questão pertinente sobre o fato de justamente ser o partido de Bush, que votou quase em massa contra o pacote de ajuda.

"...Os republicanos culparam um discurso que a democrata Nancy Pelosi, líder da Câmara americana, fez antes da votação do plano de resgate à economia de US$ 700 bilhões pela rejeição do pacote nesta segunda-feira, 29. No pronunciamento, ela atacou a política econômica do presidente George W. Bush "e essa ideologia de direita de deixar tudo sem supervisão, disciplina e regulamentação" do sistema financeiro. As palavras de Nancy "envenenaram a reunião, levando um número grande de colegas a votarem contra", disse o republicano John Boehner.
A derrota inicial do plano, que recebeu 205 votos a favor e 228 contra, causou a queda das bolsas de valores internacionais, entre elas Wall Street, que sofreu a maior baixa em pontos de sua história, e a Bolsa de Valores São Paulo (Bovespa), com forte baixa de 9,36%. Após a votação, tanto democratas quanto republicanos convocaram várias coletivas de imprensa para se acusarem mutuamente pelo fracasso da "Lei Emergencial de Estabilização da Economia."
Os democratas rejeitaram as críticas ao discurso de Nancy. O representante democrata Frank Barney ironizou os ataques dos republicanos ao discurso de Pelosi. "Só porque alguém machucou os sentimentos deles, eles decidiram punir todo o país?", perguntou.
Mais de dois terços dos republicanos e 40% dos democratas votaram contra o pacote. No total, 140 democratas e 65 republicanos aprovaram o plano, enquanto 133 republicanos e 95 democratas votaram contra.
No entanto, os dois partidos expressaram sua vontade de voltar à mesa de negociações, conscientes de que a crise não desaparecerá por mágica. "A crise continua conosco. Ainda nos preocupa (a situação) do cidadão, da classe média e como eles podem ser afetados pela crise em Wall Street", afirmou Nancy depois da votação do plano.
A Câmara deverá se reunir novamente na quinta-feira, ao invés de entrar em recesso. As ações começaram a despencar antes mesmo da votação. A queda de 777 pontos no índice Dow Jones superou a queda de 684 pontos no primeiro dia de pregão após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.."

Pelo que parece, o partido republicano tem um norte mais a direita e o partido democrata mais a esquerda. Entretanto fui justamente o partido de Obama que cedeu mais apoio ao plano. A desculpa de que um mero discurso da presidente da líder democrata na camara tivesse o dom de mudar o voto jutamente dos adversários é estapafúrdia. Claro, a opção seria qual? reconhecer a incompetência de convencer a própria base da necessidade do plano?

Talvez o fato do plano ser fluido demais, dando muitos poderes ao executivo seja um fator. O governo Bush chega ao seu fim com um sem número de explicações a dar sobre, a liberdade como agiu em determinados momentos e esse pacote seria mais um desses, aonde solicita liberdade de ação e fundos bilionários.

A pressão da opinião pública que vê o pacote como uma ajuda a quem foi com ganância atrás de altos lucros descolados da economia real também pode ser um fator que pesou na decisão, já que os congressistas terão que responder a isso e diferente daqui, lá, a população escolhe os representantes e os fiscaliza de perto.

O fato é que com essa "traição", McCain talvez tenha recebido a pal de cal que faltava em sua candidatura; até porque ele se afastou da campanha para ajudar a aprovar o pacote. A rejeição portanto também é, em parte, uma rejeição da liderança de McCain.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Comentários sobre a rejeição ao pacote americano

Achei curioso que o pacote visto como necessário por 99,99 em cada 100 especialistas tenha sido rejeitado. Também é curioso que faltaram poucos votos para alcançar o quorum mínimo e igualmente curiosa a alta taxa de rejeição ao pacote.

Com medo da Al-Quaeda, a aprovação do pacote relacionado com a segurança, recebeu enorme adesão ao ponto dos deputados e senadores sequer terem lido para aprovar, correndo atrás de uma caneta para assinar. Pergunto: - Se as medidas embora diferentes possuem igual ou similar urgência, o que mudou?

O partido adversário de Bush, o Partido Democrata inverteu a pouco tempo a mão no congresso, conseguindo a maioria da casa. Assim nos ultimos tempos, o governo executivo republicanpo teve de lidar com o legislativo de maioria democrata. Isso não impediu de conseguir, por exemplo, quantias de crédito extraordinárias para a guerra no iraque e vetar algumas leis consideradas inapropriadas.

Ocorre que segue a campanha para as eleições presidenciais e a crise americana é obviamente ruim para o candidato republicano McCain. Se é ruim para ele, significa que é bom para Barack Obama. Então o pacote é rejeitado. Será assim mais a frente? Não, porque o político americano não é burro. Ele será aprovado, mas não sem antes fazer o governo e por consequência a candidatura de McCain sangrar.

Como a crise, ao que tudo indica, ainda não é sistêmica e a rede de banco regionais está segura (quem sofreu foram os bancos de investimento, mais selvagens); ainda existe tempo de manobra.

Se a questão econômica fica resolvida ou bem encaminhada; resta a questão da segurança e internacional, áreas que Barack Obama demonstra inferioridade ou mesmo ausência de idéias e projetos. Do jeito que está, as atenções se voltam para a questão econômica, que quer queira McCain, ou não, explodiu no seu colo, por conta do governo Bush.

Outro ponto a poderar:

Aqui no Brasil a coisa seria tratada naturalmente com medidas provisórias e o legislativo que se danasse. A idéia é a urgência das coisas frente a demanda de tempo que negociações exigem e o perigo de perdas. Lá houve abalos mas o mundo ainda não acabou por conta da rejeiição do pacote.

Interessante, não!?!

Pacote de ajuda financeira é rejeitado pelo legislativo americano

29/09/2008 - 15h22

Câmara dos EUA rejeita pacote; Bovespa chega a interromper atividade

Da Redação
Em São Paulo
Texto atualizado às 16h20

A Câmara dos Estados Unidos rejeitou nesta segunda-feira o pacote de socorro ao setor financeiro por 228 votos contra e 205 a favor. Para aprovação, seriam necessários 218 parlamentares favoráveis.

Em conseqüência, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu mais de 10% e teve suas operações interrompidas, voltando a funcionar depois de meia hora.

Segundo informações da Casa Branca, após o anúncio da rejeição, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que ficou "muito decepcionado" e confirmou que se reunirá ainda nesta segunda-feira com seus assessores para determinar os próximos passos a serem dados.

Congressistas dos Estados Unidos haviam anunciado no domingo (28) que chegaram a um acordo sobre como seria o socorro do governo ao setor financeiro, informação que agora se mostra incorreta.

Ainda que as discordâncias entre parlamentares fossem nítidas, a rejeição à proposta pega muitos investidores de surpresa, uma vez que há um consenso entre os legisladores americanos de que é necessária alguma medida significativa contra a crise.

Instituições financeiras dos Estados Unidos passam por seu pior momento desde a Grande Depressão, ocorrida no final da década de 1920 e nos anos de 30.

Por terem grande liberdade de atuação, bancos americanos investiram fortemente em papéis ligados a empréstimos hipotecários de alto risco. Os títulos foram sendo repassados de uma instituição a outra, aumentando o número de bancos expostos a esse risco.

O aumento da inadimplência nos empréstimos hipotecários provocou fortes perdas nas instituições expostas a esses títulos. Os papéis se tornaram ilíquidos, ou seja, há pouquíssimo interesse dos investidores em comprá-los devido à incerteza em torno do seu valor real.

O debate sobre o salvamento do setor financeiro gira em torno de o que fazer com esses títulos e como evitar que, futuramente, ocorra novamente esse problema.

Nas últimas semanas, o governo dos EUA teve que resgatar grandes instituições, como as duas maiores empresas americanas que operam títulos de créditos imobiliários (Fannie Mae e Freddie Mac).

Outros bancos em dificuldade acabaram sendo comprados por instituições privadas. O Merrill Lynch foi adquirido pelo Bank of America; o Washington Mutual, pelo JPMorgan Chase; o Wachovia pelo Citigroup.

O pacote de socorro serviria apenas para apagar o incêndio financeiro nos EUA. Para remover de uma vez os escombros e reerguer o mercado com segurança, analistas têm defendido novas regras de regulação do setor.

Furto de energia

O furto de energia elétrica

editorial
O Estado de S. Paulo
29/9/2008

Para tentar reduzir o furto de energia elétrica por meio de ligações clandestinas nos postes da rede pública, crime conhecido popularmente como “gato”, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende substituir os tradicionais relógios eletromecânicos, que fazem a medição do consumo mensal de energia dos imóveis residenciais, por equipamentos de medição eletrônica, que permitem fazer o controle de modo mais eficiente e em tempo real.

Divulgado essa semana, o plano da Aneel prevê a substituição, nos próximos anos, de 52 milhões dos 60 milhões de relógios eletromecânicos em operação no País, sem custo para o consumidor. A simples redução das perdas causadas por furto compensa o gasto de R$ 2,5 bilhões que as distribuidoras terão para instalar a nova tecnologia. Atualmente, 3 milhões de medidores eletrônicos já fazem a leitura da fatura mensal de imóveis residenciais, sob autorização da Aneel. A medida experimental trouxe resultados positivos para as distribuidoras de energia. Ela não atinge os consumidores industriais, que há algum tempo usam um sistema de leitura mais sofisticado.

O que justifica a substituição do sistema de medição de consumo de energia elétrica é o prejuízo que a proliferação desenfreada de “gatos” vem causando para as distribuidoras e para o próprio poder público. Segundo o presidente da Aneel, Jerson Kelman, as perdas têm sido de R$ 5 bilhões por ano, dos quais 45% são relativos a impostos federais e estaduais que deixam de ser recolhidos. Esses valores são tão altos que ameaçam o próprio equilíbrio econômico-financeiro de algumas distribuidoras, obrigando-as a cobrar tarifas mais caras para compensar a evasão de receita provocada pelas fraudes. “Quem paga parte desse prejuízo é o consumidor”, diz Kelman.

Na periferia das regiões metropolitanas, as ligações clandestinas costumam ser “garantidas” pelo narcotráfico e por “milícias”, que impedem a ação dos “leituristas” dos relógios eletromecânicos. Nas favelas, o crime organizado há muito tempo ameaça de morte os técnicos das distribuidoras encarregados de desligar os “gatos” dos postes da rede pública. Nem mesmo o apoio da polícia tem sido suficiente para dar segurança aos técnicos. Utilizando equipamentos eletrônicos, a nova tecnologia de medição de consumo dificulta a fraude, reduz em parte a necessidade de presença dos técnicos nas áreas mais problemáticas e tem um custo operacional muito inferior ao dos relógios eletromecânicos.

Apesar de todos esses ganhos, a adoção da medição eletrônica vem esbarrando na resistência de políticos com força eleitoral em bairros pobres e em favelas. Sob a bandeira demagógica da defesa do “direito dos consumidores”, eles querem barrar os planos da Aneel. No Rio de Janeiro, onde os “gatos” cresceram desabaladamente nos últimos anos, esses políticos chegaram a instalar uma CPI na Assembléia Legislativa.

Desde então, eles vêm tentando constranger os diretores de uma das distribuidoras que atuam no Estado, alegando que ela tem aumentado as contas de luz de forma abusiva. Mas a empresa comprovou que os valores das faturas correspondiam ao consumo real dos imóveis residenciais, que passou a ser aferido por medidores imunes a fraudes. Depois de também ter tentado indiciar várias autoridades estaduais e federais, a CPI encaminhou relatórios para o Tribunal de Contas da União e pediu aos órgãos policiais e ao Ministério Público a instauração de inquéritos criminais e a abertura de ações judiciais contra executivos das distribuidoras e funcionários públicos. Conhecendo os interesses eleiçoeiros por trás desses pedidos, delegados e promotores tiveram o cuidado de avaliar a procedência das denúncias e até agora não tomaram qualquer providência judicial.

A resistência que a Aneel vem enfrentando ao tentar acabar com o grave problema do furto de energia elétrica e os argumentos de natureza “social” invocados por políticos venais que se mobilizaram para impedi-la de cumprir sua obrigação funcional mostram o ponto a que chegou a afronta à ordem pública no País.

Acordo ortográfico

Novo acordo ortográfico visando unificar a lingua dos paises que falam o português será assinado pelo presidente. Aqui como lá, nos outros paises cuja lingua é o português existem vozes a favor e contra.

O que penso? Uma grande bobagem.

O português na sua forma culta, e é disso que se está a tratar quando se fala em "acordo ortográfico", nada muda no que diz respeito ao dia-a-dia, ao uso coloquial da lingua, uso de gírias, estrangeirismos, mistura com dialetos locais e por aí vai.

Pode ser que para as editoras, seja bom, já que prescindem de edições portuguesas, brasileiras, etc.

A lingua é quase um ser vivo, que cresce, se alimenta e porque não dizer, fica velho e por fim morre; ou alguem fala no cotidiano o aramaico bíblico, o sumeriano, o latim antigo?

Me parece, e posso estar errado, mas escrever agora ficou mais fácil, não é mesmo?

Seria o caso de pensar que, uma vez que o ensino está cada vez mais fraco e os brasileiros saem das escolas com cada vez menos traquejo no manuseio da lingua; que as regras foram alteradas para se adequar ao nivel baixo do ensino ao invez de elevar o nivel do ensino às regras?

Sem dúvida, o acima pode ser uma imensa desconsideração com aqueles que prepararam essa revisão; e antecipadamente peço desculpas se alguem se ofender; mas não posso deixar de pensar como uma hipótese razoável que o apedeutismo tenha se elevado a categoria oficial.

É só uma opinião!

PS: O presidente, em sua capacidade inesgotável de ver em cada gesto seu, um enorme avanço da humanidade (e depois dizemque FHC é o vaidoso da cena política), vai assinar a lei do acordo ortográfico. Como já disse que registrará em cartório suas obras, e assumiu a partenidade do plano real, jáque afirma que foi seu governo que trouxe estabilidade a econômia e não o plano real; é capaz de dizer que elemudou as regras de ortografia porque pobre não aprendia a escrever português porque as regras eram complicadas e elitistas mas agora "ele" simplificou a coisa. É esperar pra ver!

Principais acontecimentos da crise até o presente momento

A derrocada financeira global teve início nos EUA em março de 2007, com a crise do "subprime", como é chamada a modalidade de empréstimos de segunda linha no país. Com o aquecimento do mercado imobiliário, as financeiras americanas passaram a confiar de modo excessivo em pessoas que não tinham bom histórico de pagamento de dívidas.

O bom momento econômico de então, com taxas de juros baixas no país e boas condições de financiamento, fez os americanos se endividaram para comprar imóveis. Os bancos decidiram transformar os empréstimos hipotecários em papéis e venderam a outras instituições financeiras, culminando em uma perda generalizada. Alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos anunciaram prejuízos bilionários e tiveram de ser socorridos.

Veja abaixo os principais episódios da crise financeira:

Junho/2007:
O banco norte-americano Bear Stearns anuncia redução de 30%
no lucro do segundo trimestre por causa dos créditos imobiliários;

Julho/2007:
A Countrywide Financial
, maior empresa do ramo de crédito hipotecário dos Estados Unidos, divulga queda no lucro e reduz projeções para os meses seguintes;

Agosto/2007:
O banco BNP Paribas anuncia o congelamento
dos resgates em três fundos de investimento lastreados em hipotecas de alto risco;

Setembro/2007:
Ações do Northern Rock, quinto maior provedor de hipotecas do Reino Unido desabam
mais de 30% na Bolsa. Clientes sacam US$ 4 bilhões;

Outubro/2007:
O lucro líquido
do Citigroup cai 57% no terceiro trimestre de 2007, em relação a igual período de 2006, por conta dos ativos lastreados em hipotecas

Fevereiro/2008:
O banco Credit Suisse tem queda
de 72% em seu lucro líquido do quatro trimestre de 2007;

Em crise, o banco britânico Northern Rock é nacionalizado;

Março/2008:
A maior seguradora do mundo, a AIG, anuncia perdas
de US$ 5,3 bilhões no quarto trimestre de 2008;
O JP Morgan compra
o Bear Stearns por US$ 236,2 milhões, ou US$ 2 por ação. Um ano antes, o papel era negociado a US$ 70;

Abril/2008:
O banco Wachovia, quarto maior dos Estados Unidos, registra prejuízo
de US$ 393 milhões no primeiro trimestre e corta 41% do dividendo distribuído aos acionistas;

Maio/2008:
A agência de crédito hipotecário Fannie Mae, anuncia prejuízo
de US$ 2,19 bilhões no primeiro trimestre e também reduz dividendos;

Julho/2008:
O banco norte-americano IndyMac anuncia a quebra;


Agosto/2008:
O Tesouro dos Estados Unidos avisa que fará o resgate
das agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac e oferece garantias de até US$ 100 bilhões para as dívida de cada uma delas;

Setembro/2008:
O banco Lehman Brothers pede proteção à lei de falências
e ocasiona a maior queda nas Bolsas dos Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro de 2001;

O terceiro maior banco britânico, o Barclays, anuncia que vai adquirir o conjunto das atividades norte-americanas e a sede do gigante dos investimentos Lehman Brothers, por US$ 1,75 bilhão

O banco central dos EUA, o Federal Reserve, nacionaliza a seguradora AIG, concedendo-lhe um crédito de US$ 85 bilhões em troca de 79,9% de seu capital;

O Tesouro dos EUA anuncia a criação de um planode cerca de US$ 700 bilhões para comprar os títulos hipotecários que perderam valor e ameaçavam os bancos em crise

O lucro do Goldman Sachs desaba70% no terceiro trimestre e passa para US$ 845 milhões, ou US$ 1,81 por ação;

Os seis principais bancos centrais do mundo anunciam uma "medida coordenada" com a injeção de bilhões de dólares no mercado financeiro para enfrentar a falta de liquidez

O Merrill Lynch é vendidoao Bank of América por US$ 50 bilhões;

O Fed aceita a proposta que transforma o Goldman Sachs e o Morgan Stanley em bancos comerciais;

O grupo empresarial Berkshire Hathaway, dirigido pelo multimilionário americano Warren Buffett, anuncia o investimento de US$ 5 bilhões no banco Goldman Sachs, para reforçar a capitalização e a liquidez da entidade;

Após a liberação do Fed para se transformar em um banco comercial, o banco Morgan Stanley congelou as negociações para uma fusão com o também americano Wachovia;

O banco britânico Lloyd TSB compra o concorrente HBOS, que estava à beira da falência

O Fed volta a intervir no mercado e injeta US$ 20 bilhões no sistema financeiro do país para aumentar a liquidez;

O plano de socorro proposto pelo governo norte-americano gera resistência entre os democratas que dizem que a atual versão do pacote não é aceitável;

Diante da dificuldade de aprovação do pacote, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, utiliza um discurso mais rígido e afirma que a economia norte-americana pode entrar em recessão;

A crise se agrava com a quebra do sexto maior banco americano, Washington Mutual (WaMu), e a venda de suas atiividades bancárias ao banco JPMorgan Chase por US$ 1,9 bilhão;

Congresso dos EUA fecha acordo sobre pacote econômico, liberando US$ 700 bilhões para socorrer o setor financeiro;

Dois bancos europeus, o britânico Bradford & Bingley e parte do belga Fortis, são nacionalizados devido à crise.

Os principais pontos do programa de socorro ao setor financeiro nos EUA.

Segundo o site uol economia:

Congressistas dos Estados Unidos anunciaram no domingo 28 de setembro que chegaram a um acordo sobre como será o socorro do governo ao setor financeiro (veja na tabela abaixo os principais pontos). O projeto de lei ainda precisa ser votado pelos parlamentares.

Instituições financeiras dos Estados Unidos passam por seu pior momento desde a Grande Depressão, ocorrida no final da década de 1920 e início da de 1930.

SOCORRO AO SETOR FINANCEIRO
Principais pontos do pacote a ser votado pelo Congresso dos EUA
  • Serão liberados até US$ 700 bi ao governo, sendo:
    . US$ 250 bi imediatamente
    . US$ 100 bi caso o presidente dos EUA requisite
    . US$ 350 bi se o Congresso aprovar
  • O dinheiro será usado para compra de títulos podres associados a crédito hipotecário
  • O governo vai ficar com ações das instituições socorridas, podendo ganhar com dividendos futuramente
  • Quatro agências vão monitorar a operação de socorro, incluindo um conselho bipartidário
  • Executivos das instituições que receberão ajuda terão seus salários e indenizações limitados
  • Títulos podres terão um sistema especial de seguros de créditos, a ser criado pelo Tesouro e pago pelas empresas socorridas
  • As instituições financeiras serão taxadas se o governo tiver perdas por mais de cinco anos após a operação de salvamento
  • Os procedimentos de execução de hipotecas serão revistos
  • Fontes: Folha de S.Paulo e BBC Brasil


    Por terem grande liberdade de atuação, nos últimos anos bancos americanos investiram fortemente em papéis ligados a empréstimos hipotecários de alto risco. Os títulos foram sendo repassados de uma instituição a outra, aumentando o número de bancos expostos a esse risco.

    O crescimento da inadimplência nos empréstimos imobiliários provocou fortes perdas nas instituições expostas a esses títulos. Os papéis se tornaram ilíquidos, ou seja, há pouquíssimo interesse dos investidores em comprá-los devido à incerteza em torno do seu valor real.

    O debate sobre o salvamento do setor financeiro gira em torno de o que fazer com esses títulos e como evitar que, futuramente, ocorra novamente esse problema.

    Nas últimas semanas, o governo dos EUA teve que resgatar grandes instituições, como as duas maiores empresas americanas que operam títulos de créditos imobiliários (Fannie Mae e Freddie Mac) e o banco Lehman Brothers.

    Outros bancos em dificuldade acabaram sendo comprados por instituições privadas. O Merrill Lynch foi adquirido pelo Bank of America; o Washington Mutual, pelo JPMorgan Chase; o Wachovia pelo Citigroup.

    O pacote de socorro deve servir apenas para apagar o incêndio financeiro nos EUA. Para remover de uma vez os escombros e reerguer o mercado com segurança, analistas têm defendido novas regras de regulação do setor.

    sábado, 27 de setembro de 2008

    O que dizer a outros idiotas anônimos?

    Em quase todas as profissões, após atingirem um grau de expêriencia e conhecimento a tal ponto grandes que tornem o profissional digno de crédito; ele passa a ser ouvido com atenção pelos pares e demais membros da sociedade nos assuntos que ele domina.

    Curiosamente, foge da regra acima, a classe dos críticos de cinema que praticamente na sua totalidade, não obtiveram sucesso como atores ou diretores; embora sejam críticos das atuações dos outros.

    Devo acrescentar à lista de excessões a regra inicialmente levantada, os críticos de blogs.

    A) Se cito Reinaldo Azevedo é por que sou um direitista emperdenido, seja lá o que isso queira dizer;
    B) Se elogio um post de Mainardi é porque, se não sou desejo ser, remunerado por Daniel Dantas;
    C) Se avalio a posição do estado brasileiro frente as chicanas e manhas dos hermanos latino-americanos é porque sou vendido a interesses americanos;
    D) Se faço uma superficial avaliação de que a visão americana ainda é conservadora o suficiente para não eleger o Sr. Barack Obama é porque sou favorável a guerra do Iraque e a George Bush, como se ele dependesse de meu aval para fazer alguma coisa;
    E) Se critico posts de Luis Nassif em especial na questão BrtOi, a razão por traz da investigação Satiagraha; é porque sou contra o país;

    E assim por diante,

    Até o presente momento, de várias críticas recebidas, na totalidade fazendo uso da permissão do blogger para o anonimato; nenhuma rebateu os argumentos com outros argumentos, abalizados ou não, que permitissem uma debate inteligente dos assuntos. Todos foram desqualificações do emissor das idéias, no caso eu, e do que supostamente sou na cabeça dessa, como direi, gente.

    Teve um que reclamou de que postei respostas a um crítico sem no entanto tê-las publicado, atitude segundo ele, covarde e nada democrática.

    É curioso! Todos sabem que existem centenas de meios pagos e gratuitos para criar blogs, páginas pessoais, portais na internet, etc; mas ao invez de cria-las para publicarem sua, como dizer sem ofender os que realmente possuem, visão das coisas; querem que eu publique ofensas, chacotas e vitupérios que não engrandecem o debate mas apenas desqualificam o oponente.

    De duas, uma: Ou não possuem talento e qualificação para escrever, va lá, não possuem razoavel grau de alfabetismo para tanto; o que os impede de argumentar de igual pra igual me impedindo de publicar bobagens; ou pensam possuir tais qualidades mas não me consideram bom o suficiente para usa-las comigo; o que os impede de argumentar de igual pra igual me impedindo de publicar bobagens.

    As críticas, posições antagônicas e negação dos argumentos postados serão sempre bem vindos desde que sejam argumentos e não desqualificações e xingamentos. Pode até ser com ironia, desde que sejam argumentos.

    Só pra deixar claro: Argumento é o resultado de análise e raciocinio, certo?

    Para os que quiserem seguir na mesma toada, faço minhas as palavras de Reinaldo Azevedo: "Se você relincha, não entre no blog. Se entrar no blog, não relinche".

    O celular do Google

    Da revista VEJA:


    Google quer engolir o iPhone

    Na semana em que o celular da Apple chega ao Brasil, o gigante
    da internet lança no exterior o telefone que pretende superá-lo


    Leandro Narloch

    Mark Lennihan/AP
    Armas da disputa
    O G1, com teclado embutido (acima): aposta num futuro em que mais gente vai se conectar à internet pelo celular. Abaixo, anúncio do iPhone em shopping de São Paulo
    Mark Lennihan/AP

    O Google lançou na semana passada o celular com o qual pretende revolucionar o mundo dos aparelhos portáteis de comunicação. Batizado de G1, o modelo tem muitas das funcionalidades que equipam os smartphones mais avançados, como tela sensível ao toque e conexão wireless de terceira geração (3G). Além disso, carrega a marca da maior empresa de internet do mundo. Tais características tornam inevitável sua comparação com o iPhone, da Apple, a estrela entre os smartphones, que na sexta-feira passada foi lançado no Brasil por duas operadoras de telefonia. À primeira vista, na disputa entre os dois, o iPhone leva a melhor. O G1 é maior e mais pesado, e seu design não é exatamente um exemplo de elegância. A comparação entre os dois aparelhos, porém, é indevida. A principal novidade do celular do Google não é propriamente o aparelho, mas o sistema operacional que o equipa, o Android. Esse sistema é uma aposta do Google num futuro em que mais pessoas vão se conectar à internet por meio do celular. Hoje, apenas 11% dos celulares vendidos no mundo são smartphones, equipamentos capazes de executar tarefas semelhantes às de um computador e de estabelecer conexões rápidas à internet. O Android é uma interface que dá novas possibilidades de acesso à rede.

    O primeiro passo para usar as funcionalidades do G1 é entrar com o login do Google, como quem acessa um e-mail. Contatos, compromissos e arquivos não ficam guardados no celular, mas na conta on-line. A caixa de diálogo para uma busca no Google aparece a um clique da tela inicial – uma navegação mais simples até que a do iPhone. O Google Maps indica em que parte da cidade ou do planeta estão os interlocutores do programa de bate-papo. Uma característica que diferencia o Android é ser um sistema operacional aberto. Isso significa que qualquer programador pode criar versões personalizadas do sistema e nele introduzir novos aplicativos. É possível, por exemplo, colocar no G1 um programa que lê códigos de barra e, com isso, comparar preços na internet. Na maioria dos celulares, inclusive os smartphones, os sistemas só podem ser alterados pelo fabricante. Trabalhar com um sistema operacional aberto é parte da estratégia do Google para transformar o Android na plataforma-padrão dos celulares no mundo. O G1 é fabricado pela empresa HTC, de Taiwan, mas gigantes do setor, como Samsung e LG, já anunciaram que vão lançar aparelhos usando o Android. O Google não ganha dinheiro diretamente com o sistema operacional, mas a audiência que ele atrai para seus sites é garantia de lucro com a publicidade on-line – que representa 98% do faturamento da companhia.

    O Android é também uma forma de o Google manter sua supremacia na internet. Fundada há dez anos por dois garotões da Califórnia, a companhia é hoje a marca mais valiosa do planeta. Seu valor de mercado é de 86 bilhões de dólares. Em seguida, vêm GE, Microsoft e a centenária Coca-Cola. Na hora de fazer buscas na internet, o site é o preferido por 63% dos americanos, 80% dos europeus e 90% dos brasileiros. A intenção do Google é que programadores independentes criem uma grande massa de aplicativos para o Android, tornando o sistema cada vez mais atraente, divertido e rico em possibilidades. Para atingir esse objetivo, no ano passado a empresa instituiu um concurso aberto a desenvolvedores de softwares, que deu às vinte melhores idéias prêmios de 100 000 a 275 000 dólares.

    A briga que se desenha entre os celulares com o Android e o iPhone reaviva outra disputa, esta ocorrida no mundo dos computadores pessoais. Nos anos 80, a Apple e a Microsoft competiam para ver qual de seus sistemas operacionais – respectivamente, o Mac OS e o Windows – seria o escolhido pelos desenvolvedores de softwares para criar seus programas. O Windows levou a melhor. O G1 vai chegar às lojas dos Estados Unidos no fim de outubro. Não há previsão de lançamento do aparelho no Brasil. Em compensação, finalmente os brasileiros já podem comprar um iPhone. O modelo disponível é o 3G, capaz de se conectar à internet com velocidade equivalente à da banda larga caseira. O preço do iPhone no Brasil, dependendo do plano escolhido, vai de 899 a 2 599 reais – nos Estados Unidos, a opção mais cara sai pelo equivalente a 550 reais. Uma das novidades que o iPhone oferece no Brasil é um atalho para o site de VEJA (veja o quadro abaixo). Num mundo que depende da internet até para as ações mais corriqueiras, é natural que aparelhos como o G1 e o iPhone se tornem objeto do desejo de muita gente.

    As mil utilidades do G1

    • A grande atração é o sistema operacional Android, feito para rodar também em outros smartphones. Mais que um celular, o G1 é uma máquina portátil de acesso à internet

    • O Android é um sistema operacional aberto. Pode ser modificado e personalizado por qualquer programador

    • Contatos, compromissos e arquivos não ficam guardados no celular, mas na conta on-line do Google

    • O sistema de GPS localiza os contatos que estão on-line e mostra no Google Maps em que parte da cidade cada um deles está. Útil para localizar os filhos – ou o cônjuge

    Aplicativos

    • A câmera do celular lê códigos de barra de produtos e compara preços na internet

    • O Google Maps mostra quais os pontos de táxi mais próximos. Para chamar o táxi, basta clicar no link que aparece no mapa

    • O Pocket Journey usa o GPS para reconhecer as atrações turísticas próximas e exibe informações sobre elas

    • O Ecorio memoriza os trajetos que o dono do celular realizou durante o dia e calcula quanto de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, foi emitido nos deslocamentos

    Mainardi e uma visão sobre a crise americana

    Os americanos sempre ganham



    "Disseminou-se a idéia de que os contribuintes
    americanos sairiam perdendo com o pacote de
    ajuda às empresas quebradas. Na realidade, Ben
    Bernanke e Henry Paulson preparam-se para realizar
    um grande negócio para os cofres públicos"

    "Uma libra de vossa bela carne."

    Shylock, o agiota de O Mercador de Veneza, pede uma única garantia a Antonio, em troca de um empréstimo de 3 000 ducados. Em caso de calote, ele quer poder decepar um naco do corpo de seu devedor.

    Quem está no papel de Shylock, agora, é Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, em dobradinha com Henry Paulson, o equivalente ao ministro da Fazenda. Ninguém tem dinheiro no mercado financeiro internacional, só Ben Bernanke e Henry Paulson, se conseguirem arrancar aqueles 700 000 000 000 de ducados dos contribuintes. Por uns trocados, eles podem pedir as garantias que desejarem aos mercadores de Wall Street. Até mesmo uma libra de sua bela carne.

    Em momentos de incerteza, como este, o melhor a fazer é recorrer a William Shakespeare. Está tudo ali: o passado, o presente, o futuro. Nos últimos dias, disseminou-se a idéia de que os contribuintes americanos sairiam perdendo com o pacote de ajuda às empresas quebradas. Na realidade, Ben Bernanke e Henry Paulson preparam-se para realizar um grande negócio para os cofres públicos, abocanhando uma montanha de títulos hipotecários por uma ninharia. Como Shylock, eles podem atribuir qualquer valor a esses bens, porque ninguém mais tem interesse em comprá-los. De fato, nesta semana, em seu depoimento aos congressistas, Ben Bernanke chegou a dizer que o maior perigo do pacote era justamente este: comprar barato demais, desvalorizando os próprios ativos. As autoridades monetárias dos Estados Unidos querem cortar a carne dos mercadores que se arriscaram estupidamente no mercado de hipotecas, mas sem sangrá-los até a morte.

    Warren Buffett comparou o tombo do mercado hipotecário americano a Pearl Harbor. Como terminou Pearl Harbor? Os Estados Unidos ganharam a guerra. É o que acontecerá agora, mais uma vez. Para nossa sorte, eles sempre triunfam. Hurra, hurra, hurra! Em um ou dois anos, assim que o mercado se acalmar, o investimento feito pelo governo terá dobrado de valor. Foi pensando nisso que Warren Buffett comprou, por uma pechincha, uma libra da bela carne do Goldman Sachs. E já entrou na fila para comprar uma libra da bela carne da AIG.

    Se o tombo do mercado hipotecário americano é igual a Pearl Harbor, Lula só pode ser comparado ao almirante Yamamoto. O almirante Yamamoto comandou o bombardeio às tropas dos Estados Unidos em Pearl Harbor. Em Nova York, Lula preferiu bombardear o liberalismo, anunciando seu fim. Ele anunciou também que o mercado financeiro "precisa ter ética". É duro escutar os chutes de Lula sobre o liberalismo. Pior ainda é ter de escutá-lo falando sobre ética.

    Agências de risco e a crise americana

    Artigo publicado na revista VEJA desta semana

    As agências de avaliação de crédito desempenham um papel coadjuvante, mas fundamental, no sistema financeiro moderno. Elas aferem a capacidade de países e empresas pagarem seus débitos em dia. Essa função é chave na engrenagem das finanças porque, graças a elas, os investidores têm – em tese – a capacidade de saber se estão colocando seu dinheiro em uma aplicação confiável ou se correm o risco de comprar um grande mico. Por meio de modelos matemáticos e da análise de uma série de indicadores econômicos e contábeis, essas agências emitem notas, conhecidas em inglês como ratings. Quanto melhor o rating, mais confiável um investimento, dando ao emissor de uma dívida o direito de pagar juros mais baixos. Nesse vestibular financeiro, a melhor das avaliações é o triplo A. Da mesma maneira que em outras crises passadas, no entanto, mais uma vez essas agências de avaliação erraram feio e não perceberam o risco para o qual deveriam ter alertado, levando milhares de investidores a comprar gato por lebre.

    Os títulos que foram empacotados em uma série de fundos de investimento criativos eram, até pouco tempo atrás, considerados aplicações extremamente seguras. Aproximadamente 80% dos papéis derivados (por isso, derivativos) de hipotecas tinham a classificação AAA conferida por alguma das três grandes agências de classificação de crédito – Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Ratings. Outros 15% dos papéis tinham nota pelo menos A (isto é, de risco baixíssimo). Como se vê agora, essa segurança toda era uma ilusão. Existe uma montanha de títulos podres estimados em 1,5 trilhão de dólares que não encontram um comprador que seja, os quais intoxicaram o balanço dos bancos. Outro engano evidente foi o de ter mantido a seguradora AIG com avaliações positivas, apesar de suas dificuldades. Até um mês antes da intervenção federal na empresa, ela tinha nota AA, uma das melhores na escala.

    Erros desse tipo são recorrentes porque a análise das agências se baseia em modelos matemáticos que podem deixar de fora variáveis importantes na hora de determinar o risco. No caso das hipotecas, ele foi projetado com base no comportamento dos tomadores de empréstimo nos anos de 2001 a 2003, período de excessiva valorização do mercado imobiliário, com taxas de inadimplência mais baixas, incompatíveis com o momento atual. As agências não alteraram seus parâmetros a tempo. "Outra falha foi não terem previsto o impacto que uma retração na liquidez dos mercados financeiros provocaria nos complexos papéis emitidos para dar lastro às dívidas hipotecárias", diz José Luiz Rossi Júnior, professor do Ibmec São Paulo. As agências defendem-se dizendo que não foram apenas elas que não conseguiram antecipar a deterioração do mercado hipotecário – os bancos também erraram aí. Segundo Charles Calomiris, da Universidade Colúmbia, houve complacência dos envolvidos: "Os emissores dos títulos e as agências atendiam aos interesses dos investidores, que desejavam classificações infladas para driblar as restrições regulatórias de seus fundos". Essa ciranda deu muito dinheiro enquanto a bolha durou. Agora, espera-se que as medidas que já estão sendo tomadas por órgãos de governo realmente tragam maior transparência nos critérios utilizados pelas agências de risco, que seguirão como agentes relevantes no mercado financeiro.

    Agências de risco e a crise americana

    Artigo publicado na revista VEJA desta semana

    As agências de avaliação de crédito desempenham um papel coadjuvante, mas fundamental, no sistema financeiro moderno. Elas aferem a capacidade de países e empresas pagarem seus débitos em dia. Essa função é chave na engrenagem das finanças porque, graças a elas, os investidores têm – em tese – a capacidade de saber se estão colocando seu dinheiro em uma aplicação confiável ou se correm o risco de comprar um grande mico. Por meio de modelos matemáticos e da análise de uma série de indicadores econômicos e contábeis, essas agências emitem notas, conhecidas em inglês como ratings. Quanto melhor o rating, mais confiável um investimento, dando ao emissor de uma dívida o direito de pagar juros mais baixos. Nesse vestibular financeiro, a melhor das avaliações é o triplo A. Da mesma maneira que em outras crises passadas, no entanto, mais uma vez essas agências de avaliação erraram feio e não perceberam o risco para o qual deveriam ter alertado, levando milhares de investidores a comprar gato por lebre.

    Os títulos que foram empacotados em uma série de fundos de investimento criativos eram, até pouco tempo atrás, considerados aplicações extremamente seguras. Aproximadamente 80% dos papéis derivados (por isso, derivativos) de hipotecas tinham a classificação AAA conferida por alguma das três grandes agências de classificação de crédito – Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Ratings. Outros 15% dos papéis tinham nota pelo menos A (isto é, de risco baixíssimo). Como se vê agora, essa segurança toda era uma ilusão. Existe uma montanha de títulos podres estimados em 1,5 trilhão de dólares que não encontram um comprador que seja, os quais intoxicaram o balanço dos bancos. Outro engano evidente foi o de ter mantido a seguradora AIG com avaliações positivas, apesar de suas dificuldades. Até um mês antes da intervenção federal na empresa, ela tinha nota AA, uma das melhores na escala.

    Erros desse tipo são recorrentes porque a análise das agências se baseia em modelos matemáticos que podem deixar de fora variáveis importantes na hora de determinar o risco. No caso das hipotecas, ele foi projetado com base no comportamento dos tomadores de empréstimo nos anos de 2001 a 2003, período de excessiva valorização do mercado imobiliário, com taxas de inadimplência mais baixas, incompatíveis com o momento atual. As agências não alteraram seus parâmetros a tempo. "Outra falha foi não terem previsto o impacto que uma retração na liquidez dos mercados financeiros provocaria nos complexos papéis emitidos para dar lastro às dívidas hipotecárias", diz José Luiz Rossi Júnior, professor do Ibmec São Paulo. As agências defendem-se dizendo que não foram apenas elas que não conseguiram antecipar a deterioração do mercado hipotecário – os bancos também erraram aí. Segundo Charles Calomiris, da Universidade Colúmbia, houve complacência dos envolvidos: "Os emissores dos títulos e as agências atendiam aos interesses dos investidores, que desejavam classificações infladas para driblar as restrições regulatórias de seus fundos". Essa ciranda deu muito dinheiro enquanto a bolha durou. Agora, espera-se que as medidas que já estão sendo tomadas por órgãos de governo realmente tragam maior transparência nos critérios utilizados pelas agências de risco, que seguirão como agentes relevantes no mercado financeiro.

    Dicionário da crise -

    Especial ABC das finanças da revista VEJA
    O dicionário da crise

    Alguns termos em inglês, idioma oficial do mundo das
    finanças, têm tradução satisfatória para o português. Outros
    nem tanto. Para entender a crise, é bom conhecer todos


    Cláudio Gradilone

    Alavancagem – É a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor é até quarenta vezes seu patrimônio – quando o limite máximo de segurança recomendado internacionalmente é doze vezes (12:1). A fórmula mais simples de medi-la é L = D / E, em que L é leverage (alavancagem), D édebt (dívida) e E é equity (patrimônio).

    Bail-out – Pronuncia-se "beil aut". É o socorro financeiro que o governo dá a empresas falidas ou a setores inteiros da economia – no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o avião é abatido (foto abaixo)– ele se salva, mas Deus sabe onde cairão os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano é imediato: os ousados pilotos financeiros vão se salvar, mas os destroços cairão na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street.
    Bennie Davis/AP

    Banco comercial – Sua atividade básica é captar dinheiro mais barato de quem tem, emprestar mais caro para quem precisa e ainda cobrar uma taxa pela operação. É mais seguro, mais controlado e mais tedioso, e paga aos seus ases bônus anuais muito menores do que os pagos pelos bancos de investimento. Morgan Stanley e Goldman Sachs, os dois mais reputados bancos de investimento dos Estados Unidos, viraram bancos comerciais para tentar escapar da crise.

    Banco de investimento – É a variedade selvagem do banco comercial. Capta dinheiro de pessoas e empresas, mas ganha dinheiro mesmo fazendo investimentos ousados no mercado. É alavancado (veja o verbete alavancagem) e, por isso, mais arriscado. Não deve sobreviver ao terremoto de Wall Street. Um banqueiro de investimento com quinze anos de casa e salário de 300 000 dólares por ano podia ganhar bônus anuais de 3 milhões de dólares.

    Bankruptcy – Em português, é falência ou bancarrota, e seu significado é o mesmo. Refere-se à incapacidade de um banco ou uma empresa de pagar seus credores, o que leva à interrupção das atividades. Bankruptcy e bancarrota têm origem comum nas palavras latinas bancus(banco) e ruptus (quebrado) e se referiam ao hábito dos comerciantes da Idade Média de quebrar a loja do comerciante que dava o cano no mercado.

    Credit Default Swap (CDS) – Instrumento financeiro muito arriscado lançado pelos bancos americanos e europeus para se proteger da inadimplência. Um banco que emprestou muito dinheiro para uma empresa recorre a outro banco e "troca" (swap, em inglês) parte do seu direito de receber por uma garantia. O duro é descobrir que essa garantia também se evaporou, como agora nos Estados Unidos.

    Chapter 11 – É o capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil é a recuperação judicial. Menos grave que a falência, permite que a empresa (ou pessoa física) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação é supervisionado por um dos tribunais de falências.

    Depressão – Situação de grave crise econômica, em que o crédito desaparece, o desemprego explode, as falências se multiplicam, o comércio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos períodos. Uma depressão é uma forma grave de recessão.

    Derivativos – Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. É mais ou menos como pagar alguém (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tão complexos a ponto de ninguém saber exatamente com quem está o risco. Difícil mentalizar? Imagine uma família tão heterodoxa a ponto de alguém descobrir que é seu próprio avô.

    Desalavancagem – É o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimônio (E), mas também diminuindo a dívida (D) – veja o gráfico de um exemplo real, o da Goldman Sachs.

    Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) – Seguradora Federal de Depósitos. É uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depósitos até 250 000 dólares estão protegidos.

    Federal Reserve (Fed) – O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) é o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal é garantir o valor do dólar controlando a inflação, mas nas duas últimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancário.

    Foreclosure – É o despejo de um comprador inadimplente de imóvel, algo muito mais fácil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador.
    Bennie Davis/Erin Siega/Reuters

    Hedge funds – São fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em ações, títulos de dívida, matérias-primas básicas, as commodities, moedas e até ouro, jóias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilações relativas de preços. O nome é quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglês) quer segurança, algo que esses fundos têm estado muito longe de oferecer.

    Mortgage – É a hipoteca, um empréstimo garantido por um imóvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhão de dólares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhões de dólares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano.

    Panic selling – É o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pânico e acham que as cotações vão cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarões") ganharem dinheiro comprando ações de boas empresas muito barato. O movimento contrário é chamado de panic buying, a compra irracional.

    Recessão – Uma situação em que a atividade econômica diminui seu ritmo por um período (para alguns economistas, mais de três trimestres consecutivos). Uma recessão é menos grave do que uma depressão.

    Securitização – Emissão de títulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda será recebido –.ou seja, uma dívida. O emissor desses títulos (em inglês, securities, daí o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papéis para investidores. A crise explodiu quando muitas dívidas não foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras também não seriam.

    Subprime – A atual situação caótica dos mercados será conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime"é o título emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dívida. Subprime é o contrário. A malandragem que deu a confusão toda foi justamente empacotar títulos prime junto com subprime e usá-los no processo de securitização com ajuda de derivativos – uma versão de alta tecnologia da venda de gato por lebre.
    Istockphoto.com

    Tesouro – O Departamento do Tesouro é o órgão encarregado de administrar as finanças públicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do Ministério da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou também o responsável por tributar os pobres para ajudar os bancos.

    Análise correta

    Em post de ontem das 08h21 publiquei uma análise sobre a ação do Equador. Hoje saiu a edição semanal da revista com um artigo que coincidentemente segue a mesma linha de raciocinio incluso a alusão a postura de gigante ou grandão.

    O populismo dos vizinhos inconvenientes

    Pode bater, que o gigante é manso

    O presidente do Equador expulsa a Odebrecht do país,
    seqüestra os bens da empresa e ameaça dar calote no
    BNDES. E mais uma vez o Brasil apanha sem reclamar


    Duda Teixeira


    Os presidentes populistas da América do Sul esbravejam o tempo todo contra os Estados Unidos. Contam-se nos dedos de uma só mão, contudo, as medidas concretas contra interesses americanos adotadas por esses governos. Em lugar disso, quando querem agitar uma causa nacionalista para unir a nação em torno do presidente, o golpe é desferido contra o Brasil. Fazem isso com total desfaçatez, pois a experiência dos últimos anos demonstrou que o vizinho grandalhão engole passivamente as humilhações. Na semana passada, Rafael Correa, presidente do Equador, expulsou a Odebrecht, seqüestrou os bens da construtora, ocupou com tropas quatro de suas obras e proibiu quatro diretores de deixar o país. Dois deles escaparam a tempo de volta para o Brasil. Os outros dois buscaram refúgio às pressas na casa do embaixador brasileiro em Quito. Os engenheiros brasileiros que permanecem nas obras passaram a ser escoltados e dormem em quartos de hotel com soldados vigiando no corredor. Por fim, Correa ameaçou não pagar um empréstimo de 243 milhões de dólares concedido pelo BNDES. Mediante tal flagrante desrespeito às regras internacionais e aos direitos humanos, a diplomacia brasileira tratou mais uma vez de defender os direitos nacionais... dos equatorianos. "Houve, digamos, ações preventivas por parte do Equador. Não houve conflito", desconversou o chanceler Celso Amorim.

    As vítimas mais expostas dessa excessiva tolerância do governo petista em relação aos abusos cometidos pelos hermanos são as empresas e os cidadãos brasileiros nos países vizinhos. "O Brasil está pagando o preço por ter uma economia saudável, em crescimento e aberta para o mundo", disse a VEJA o advogado americano Allen Weiner, professor da Universidade Stanford e ex-diplomata. "Países vizinhos que não gozam do mesmo sucesso naturalmente pensam que isso ocorre porque os brasileiros estão tirando vantagem deles. A tendência é isso aumentar cada vez mais." O momento anuncia um drama pior. No Paraguai, os produtores brasileiros de soja foram escolhidos como alvos prioritários da reforma agrária do novo presidente. Na semana passada, brasileiros que vivem em dois departamentos da fronteira foram intimados a dar explicações ao Indert, o instituto de terras paraguaio. Eles terão de dizer quando compraram suas terras, de quem e quanto pagaram por elas. Na Bolívia, em duas reuniões da Federação dos Camponeses do Norte de Santa Cruz, ficou decidido que as primeiras terras a ser invadidas serão as dos brasileiros.

    Desde que Evo Morales ocupou impunemente com tropas duas refinarias da Petrobras em 2006, bater primeiro, conversar depois virou a regra nas relações bilaterais. Na época, Lula defendeu a ação como direito da Bolívia – como se o Brasil também não tivesse direitos previstos nos acordos assinados. Desta vez, ele usou uma metáfora familiar para explicar o imobilismo. "Você imagina, na sua casa, quando você morava com três ou quatro irmãos menores, você podia estar com a razão, mas eles ficavam te cobrando coisas", disse o presidente. O Equador seria esse irmão menor, que não tem razão, mas precisa ser tolerado. Correa alegou que problemas no funcionamento da usina hidrelétrica de San Francisco, parada há três meses por motivos técnicos, haviam motivado a medida. Segundo a Odebrecht, a culpa é dos técnicos equatorianos que fizeram o projeto da usina. Eles não levaram em conta a existência do vulcão Tungurahua, a 20 quilômetros da unidade. Uma erupção em agosto de 2006 aumentou em 35 vezes a concentração de sedimentos na água do Rio Pastaza, os quais danificaram as turbinas.

    Nas doze reuniões tensas que ocorreram nas últimas quatro semanas para encontrar uma solução, a construtora se comprometeu a colocar a usina em funcionamento no dia 4 de outubro, nesta semana. Os funcionários equatorianos deixaram claro que cumpriam ordens diretas do presidente e que um acordo não seria possível. Correa precisou de um factóide nacionalista para aprovar seu projeto de Constituição em um referendo no domingo 28. Se conseguir metade mais um dos votos, terá poderes para dissolver o Congresso e poderá se reeleger. Azar do Brasil. "Ao expulsar a Odebrecht e ameaçar brasileiros, Correa solapou o Judiciário e agiu como se estivesse em estado de sítio", diz a advogada Maristela Basso, especialista em direito internacional e professora da Universidade de São Paulo (USP). "É preciso deixar de considerar esses presidentes como amigos camaradas para vê-los como realmente são, chefes de estado que subvertem o estado de direito." Em outras palavras, chega de apanhar calado.

    sexta-feira, 26 de setembro de 2008

    Ponto a ponderar

    Se o socialismo, enquanto sistema de organização da sociedade é bom para a população; seus principios norteadores também devem ser, não é mesmo?

    Nesse caso seria o caso de saber se, separados os valores para manter as necessidades básicas do indivíduo, os militantes desse sistema distribuem o que sobra de salários e rendas para os mais desprovidos.

    Tem um economista de sobrenome Kanitz que escreveu que seus amigos de faculdade todos militantes de esquerda deixaram de lado os ideais e todos estão devidamente inseridos no mercado, buscando seus objetivos. Já seus colegas americanos, todos de "direita", após terem atingido suas metas pessoais e profissionais dedicavam, dinheiro, tempo e esforço em ações beneficentes e de apoio a causas e comunidades.

    Qual dos dois grupos atingiu mais objetivos pessoais e públicos?

    Um blog sobre gestao

    Se quiser conhecer mais sobre assuntos relacionados a "GESTÃO", recomendo o blog abaixo:

    http://marcelao.wordpress.com/

    Crise Americana II

    Explicação pormenorizada retirada do site da revista VEJA:



    Até o fim de julho de 2007, a economia mundial atravessava um dos períodos de maior prosperidade dos últimos trinta anos: as empresas nunca lucraram tanto, a China crescia a 10% ao ano, o Brasil exportava matéria-prima em volumes e preços recordes. Em total contraponto a esse ambiente saudável, as bolsas de valores e as moedas de todo o planeta foram abaladas por um terremoto. Em duas semanas, trilhões de dólares evaporaram dos mercados de ações sem que houvesse um ataque terrorista, como o de 2001, ou a quebra de um país emergente – como a Tailândia, em 1997, a Rússia, em 1998, e o Brasil, em 1999. Um pânico de origem incerta e difusa dominou os agentes financeiros. Bancos europeus e americanos subitamente cortaram o crédito a empresas, mesmo as de primeira linha. Os bancos centrais, por sua vez, despejaram dinheiro no mercado para conter a saída de liquidez. Estava configurado um novo período de instabilidade sem prazo para acabar. Entenda as razões desta nova crise financeira.


    1. Por que as bolsas de valores vêm caindo em todo o mundo?
    2. O que há de errado com o mercado imobiliário dos EUA?
    3. Como esses problemas influenciam as bolsas mundiais?
    4. Qual é a real extensão desta crise?
    5. No que ela difere de turbulências globais anteriores?
    6. Os bancos centrais devem agir para conter a crise?
    7. E o que eles têm feito para afastar essa ameaça?
    8. E o governo americano, como reagiu à crise?
    9. Quais são os efeitos sofridos pelo Brasil?
    10. Por que o país não corre tantos riscos desta vez?
    11. Por que o dólar sobe quando a bolsa cai?
    12. É possível uma nova onda de desemprego?
    13. É seguro investir em ações nesse período?

    1. Por que as bolsas de valores vêm caindo em todo o mundo?

    Os principais mercados de ações do planeta estão sofrendo os efeitos de um problema ocorrido no mercado imobiliário dos Estados Unidos. A descoberta de que alguns americanos não estão pagando as prestações dos financiamentos de suas casas espalhou pânico entre investidores em todo o mundo – muitos fundos de investimento possuem parte de seus papéis lastreados nestes financiamentos. Como um segmento da população não consegue pagar as suas parcelas, criou-se um temor de que os americanos possam também diminuir o seu ritmo de consumo. Este medo de retração da economia dos EUA, aliado à suspeita da existência de papéis “contaminados” nos fundos de investimentos, fez com que muitos investidores vendessem as ações que possuíam. Quando há muita gente querendo vender, o preço das ações cai. O conjunto do das ações em queda derrubou a cotação das bolsas de valores.

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    2. O que há de errado com o mercado imobiliário dos EUA?

    Os seguidos anos de crescimento econômico fizeram com que os bancos e instituições financeiras americanas abrissem a carteira para todo tipo de gente e empresas. Empréstimos foram concedidos até a pessoas em má situação financeira (no setor imobiliário, o crédito às famílias de baixa renda chama-se subprime). Como os juros eram extremamente baixos, muitos americanos financiaram ou refinanciaram o pagamento de alguns bens – especialmente o dos imóveis. Depois, porém, não conseguiram cumprir os compromissos. Embora a taxa de inadimplência não tenha aumentado significativamente, o temor de um calote em massa contaminou o mercado financeiro.

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    3. Como esses problemas influenciam as bolsas mundiais?

    Nos últimos anos, os bancos que emprestaram dinheiro para o financiamento imobiliário nos Estados Unidos “empacotaram” boa parte das hipotecas americanas em novos produtos financeiros que foram revendidos a muitos fundos de investimentos em todo o mundo. Como os juros estavam baixos na Europa e no Japão, esses fundos, que ofereciam retornos maiores, tornaram-se atraentes para os pequenos e grandes investidores. Criou-se uma pirâmide de investimentos de cerca de 1 trilhão de dólares por meio da qual a poupança de milhões de empresas e aposentados, europeus e japoneses, foi usada para financiar a construção e a compra de casas nos EUA. Embora tenham sido vendidas como aplicações extremamente seguras, na prática não era bem assim – muitos americanos não cumpriram seus compromissos e o dinheiro nunca chegou aos fundos como era previsto. Quando alguns destes fundos de investimento tentaram se desfazer das hipotecas americanas na esperança de passar adiante o mico do risco, não conseguiram e perderam dinheiro. Tiveram então que vender ações até de empresas saudáveis para se recuperar – isso derrubou as bolsas do planeta.

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    4. Qual é a real extensão desta crise?

    Ainda não se sabe ao certo. Embora mantidas inicialmente no terreno do mercado financeiro, as turbulências já batem na chamada economia real. Algumas empresas americanas começaram a mostrar números decepcionantes, caso das varejistas Wal-Mart e Home Depot, espécies de termômetros do consumo local. Em agosto de 2007, os EUA cortaram 4.000 postos de trabalho – primeira queda do nível de emprego do país desde 2003. O maior risco de a crise extrapolar o mundo das finanças e atingir a economia real está na retração do crédito. Devido à incerteza sobre o futuro da economia global, instituições financeiras americanas reduziram sua tolerância em relação a empréstimos arriscados – não apenas no setor imobiliário. Essa postura reduziu o fluxo de dinheiro que irriga o caixa das empresas. Crédito é um dos principais motores da economia – empresas e negócios surgem e crescem num cenário onde têm acesso a empréstimos para viabilizar seus negócios. As dificuldades no crédito devem comprometer o bom momento atravessado pela economia mundial.

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    5. No que ela difere de turbulências globais anteriores?

    Mais do que qualquer outra crise anterior, esta traz consigo características cuja existência só foi possível graças ao aprofundamento do processo de globalização da economia. Por meio de inovações recentes, bancos e instituições financeiras pulverizaram os riscos de prejuízos e lubrificaram o mercado. Pegue-se o exemplo do setor de imóveis dos Estados Unidos. Para não arcarem sozinhos com o risco de calote nos empréstimos que fizeram a consumidores americanos de segunda linha, os bancos fracionaram e empacotaram o crédito referente a esses empréstimos em títulos, repassados a milhares de fundos de investimento. A lógica é a seguinte: se os consumidores americanos pagarem suas hipotecas, os lucros serão dispersados entre todos os que compraram esses títulos; se houver calote generalizado, o prejuízo será socializado. O problema é que, ao dissiparem os riscos, esses mecanismos também aceleram e aumentam o alcance das fases de turbulência. Como ninguém consegue saber quem está saudável e quem comprou títulos podres, a desconfiança se espalha e paralisa inúmeras negociações.

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    6. Os bancos centrais devem agir para conter a crise?

    Sim, e sem muita demora. Um dos mais importantes estudos econômicos do século XX, de autoria dos americanos Milton Friedman e Anna Schwartz, concluiu que a quebra da Bolsa de Nova York de 1929 e a depressão que se seguiu durante os anos 30 foram precipitadas pela decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de estrangular o crédito, elevando os juros e diminuindo a quantidade de dinheiro em circulação. Sem moeda na praça, e sem a possibilidade de fazer empréstimos junto aos bancos, inúmeras empresas foram à falência, e a economia dos Estados Unidos retraiu dramaticamente. Desde a publicação do estudo, BCs em todo o mundo têm agido de forma mais enérgica para tentar socorrer seus respectivos mercados antes de um colapso generalizado.

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    7. E o que eles têm feito para afastar essa ameaça?

    Os bancos centrais têm atuado na linha de frente para conter o avanço da atual crise financeira. Em setembro de 2007, o Fed mostrou que aprendera a lição do crash de 29: cortou os juros nos Estados Unidos em 0,5 ponto porcentual, depois de 4 anos sem mexer na taxa. A decisão pretendia estimular novos pedidos de empréstimos e conter parte da retração no crédito. Antes disso, porém, o Fed, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão despejaram juntos quase 500 bilhões de dólares no mercado, para socorrer bancos e conter a escassez de dinheiro. É, de longe, a maior cifra do gênero na história - após os ataques de 11 de setembro de 2001, o aporte foi de 230 bilhões. Diante da persistência da crise, porém, as medidas não tiveram o efeito desejado. Por isso, o Fed voltou a reduzir os juros em meados de janeiro de 2008. Desta vez, o corte foi de 0,75 ponto porcentual - o maior desde outubro de 1984.

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    8. E o governo americano, como reagiu à crise?

    Após meses de turbulência, o presidente George W. Bush finalmente anunciou, no início de 2008, as linhas gerais de um pacote para salvar a economia americana de uma possível retração no crescimento. O plano de 140 bilhões de dólares, que precisa de apreciação do Congresso, foi avaliado em 1% do PIB. O objetivo do governo é diminuir impostos para consumidores e garantir incentivos fiscais para empresas americanas. Dessa forma, calculou a Casa Branca, os Estados Unidos escapariam da recessão - trazendo ainda benefícios para todo o planeta.

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    9. Quais são os efeitos sofridos pelo Brasil?

    Por estar cada vez mais inserido no contexto da economia global, o Brasil não sairá ileso desta crise. Os primeiros efeitos já foram sentidos no mercado de ações. Para estancarem os prejuízos decorrentes da crise, investidores estrangeiros venderam papéis não só nos Estados Unidos e na Europa, mas também em mercados emergentes, como o Brasil. A fuga do dinheiro externo explica os dias de forte queda da Bolsa de Valores de São Paulo. A médio prazo, o crescimento da economia brasileira pode sofrer o baque de uma eventual retração global, o que manteria o aumento do PIB na mediocridade atual por mais tempo. A desaceleração mundial derrubaria o preço das commodities e afetaria diretamente a economia brasileira, que tem, na exportação desses produtos básicos, sua maior fonte de renda externa. Além disso, se o dólar subir demais, a baixa inflação brasileira pode ficar comprometida, já que uma série de produtos, a maioria importados, têm seu preço baseado na moeda americana. Para conter a inflação, o Banco Central pode interromper a queda na taxa de juros e ameaçar ainda mais o crescimento do país – juros altos desestimulam os empréstimos que fazem a economia andar. De todos esses cenários possíveis, o único que parece provável é o atraso da promoção do Brasil ao chamado grau de investimento, categoria que indica os países com baixa propensão ao calote.

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    10. Por que o país não corre tantos riscos desta vez?

    Durante os anos 90, o Brasil atravessou, aos trancos e barrancos, as crises nos mercados financeiros do México (94), da Ásia (97), e da Rússia (98), e sucumbiu ao ataque especulativo contra o real, no início de 1999, desvalorizando a moeda. Nesta última ocasião, o país tinha reservas de apenas 35 bilhões de dólares – no auge da crise, o mercado brasileiro perdia 1 bilhão por dia. Desta vez, o cenário é bem diferente: o país tem dólares de sobra e o drama da dívida externa faz parte do passado. Segundo o Banco Central, o Brasil tem quase 160 bilhões de dólares de reserva que podem ser injetados no mercado para conter a fuga de capitais. O país, portanto, não vai quebrar.

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    11. Por que o dólar sobe quando a bolsa cai?

    De forma simplificada, o que acontece é o seguinte: quando o mercado de ações passa por um período de instabilidade, o valor dos papéis sobe e desce imprevisivelmente. Como não sabem se a cotação das ações que possuem vai subir ou descer, os investidores preferem comprar dólares e desfazer-se dos papéis. O dólar é um investimento muito mais seguro, já que a moeda americana não tem a mesma chance de se desvalorizar do que as ações de uma empresa – que pode, por exemplo, falir e causar prejuízos enormes. Quando os investidores tiram dinheiro da bolsa – o que provoca sua queda – muitos correm para comprar dólares. A alta procura eleva a cotação da moeda americana.

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    12. É possível uma nova onda de desemprego?

    Ondas de desemprego estão normalmente associadas a cenários de recessão econômica mais graves, quando o nível de produção cai e as empresas costumam dispensar parte de sua mão de obra para diminuir os prejuízos. Pelo menos por enquanto, não é caso desta crise. Mesmo que a economia dos Estados Unidos venha a se retrair como prevêem os analistas – o que com certeza provocará uma redução do crescimento brasileiro – a situação no país é estável, e as variações na taxa de desemprego devem continuar leves, para cima e para baixo.

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    13. É seguro investir em ações nesse período?

    Sim. Diante da crise, os analistas não se arriscam a prever uma data para o fim da oscilação das bolsas, embora muitos apostem que ela se estenderá por boa parte de 2008. Isso não significa, no entanto, que a bolsa transformou-se da noite para o dia em território restrito a grandes jogadores e alguns poucos entendidos, como já foi um dia. Mesmo com as turbulências, segue sendo seguro investir no mercado de ações - mas, mais do que nunca, deve se esperar retorno a longo prazo, quando os efeitos mais graves da crise já tiverem passado e o mercado recuperar a tendência de alta. Em 2007, mesmo com momentos de fortes perdas, o índice Bovespa, principal da Bolsa de Valores de São Paulo, registrou valorização de 43,6%. No futuro próximo, a turbulência pode reduzir um pouco esses ganhos - mas eles deverão se manter acima de outros investimentos. Outro argumento dos analistas para manter os investimentos: a bolsa brasileira está barata em termos internacionais.
    Para quem já tem dinheiro em papéis, o mais importante é não sair - a regra é ter cautela, já que voltar para o mercado depois, em épocas de alta, pode sair muito mais caro. Recomenda-se também que o investidor fique de olho nas pechinchas que surgem com a crise. Neste cenário, muitos estrangeiros vendem ações de empresas saudáveis e derrubam sua cotação. A longo prazo porém, elas podem se valorizar e beneficiar quem comprou-as na baixa. Diversificar as apostas também é indicado para tempos de bolsa volátil - eventuais perdas com uma companhia podem ser compensadas com ganhos em outras. Por fim, o investidor da bolsa deve avaliar o desempenho de sua aplicação em particular: a variação das ações que estão no fundo escolhido não vai ser necessariamente igual à do Ibovespa, que segue as 64 ações mais negociadas nos pregões da bolsa. Para se ter uma idéia, no início de 2008, já havia cerca de 450 empresas com papéis na Bovespa.

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    O DICIONÁRIO DA CRISE

    Toda crise econômica populariza termos e expressões
    próprios do mercado financeiro. Não é diferente agora

    PRIME
    Em inglês, o melhor. No mercado de crédito, é a classificação conferida aos clientes mais confiáveis, de primeira linha

    SUBPRIME
    Clientes de segunda linha, menos confiáveis. Os juros cobrados são maiores, assim como o risco de calote

    MORTGAGE
    Hipoteca. No setor imobiliário, serve para garantir o financiamento imobiliário

    SUBPRIME MORTGAGES
    Hipoteca nos financiamentos para clientes de segunda linha

    EMPRÉSTIMOS NINJA
    Concedidos a pessoas sem renda, emprego ou bens (No INcome, Jobs or Assets)

    CDOs (Collateralized Debt Obligations)
    Na tradução literal, "títulos que têm dívidas como garantias". Por meio deles, os bancos pulverizaram o risco de calote no setor imobiliário para milhões de investidores

    FUNDOS HEDGE
    São fundos para grandes investidores que prometem rentabilidade bem superior à dos títulos americanos. Investem em qualquer tipo de ativo, desde café do Vietnã até títulos da Eletrobrás. Atualmente estão entupidos de CDOs de péssima qualidade

    CREDIT CRUNCH
    Forte contração de crédito, um cenário em que nem os bons pagadores conseguem obter novas linhas de financiamento