sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ainda há risco energético

Segue reprodução de análise sobre o tema no blog do jornalista Luis Nassif (projetobr.ig.com.br):

Coluna Econômica - 03/04/2008

No começo do ano se falava em “apagão”. Choveu, passou-se a falar menos. Qual a moral da história? Há um problema estrutural na matriz energética brasileira, segundo o consultor Mário Veiga, da PSR. Esse problema foi agravado pela crise do gás da Bolívia.

Segundo Veiga, no final de 2004, as projeções para oferta de energia firme em 2008 era de 57 mil MW médios, enquanto a demanda era de 54,5 mil MW médios. Portanto, havia uma “folga” de 2,5 mil MW médios (volume pouco superior à usina de Santo Antônio, no Rio Madeira).

No final do ano passado, as projeções foram revistas: a demanda caiu para 53,2 mil MW médios. Por outro lado, por conta da perda dos 6 mil MW médios de gás, a oferta despencou para 51,4 mil MW, passando de excesso de oferta para um déficit de 1,8 mil MW médios.

Não se tratava de um fenômeno de seca. A do Nordeste foi particularmente severa, mas não chegou a comprometer fundamentalmente os reservatórios. O risco é estrutural, diz ele.

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Em janeiro, o cálculo de risco de racionamento chegou aos 22% em 2008 – para 2009, o risco cai para 20,5%, mas as chances de um racionamento mais severo saltariam de 6% neste ano para 9,5% no ano que vem.

Para minimizar o risco, há a possibilidade de interromper o suprimento do setor de gás para aumentar a geração das térmicas a gás. Haveria 12,5% de chance de ocorrer cortes no GNV (Gás Natural Veicular) e 11,5% de probabilidade de corte total do GNV e de corte na indústria. Caso isso seja feito, o risco de racionamento cairia de 22% para 2,5%. O duro seria explicar para os motoristas de táxi e para as indústrias consumidoras.

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No médio prazo (entre os anos de 2011 e 2013) a situação é um pouco menos desconfortável. Isso porque ainda há tempo de tomar algumas medidas para ampliar a oferta de energia no Brasil.

Segundo dados do Plano Mensal de Operações (PMO) de fevereiro deste ano, somente em 2010 a oferta superaria a demanda em 0,9%. Para 2011, a proporção vira para déficit de 0,6% (61,2 mil MW firmes de oferta e 61,6 mil MW de demanda) e para 2012, para 1,8% negativos (64,2 mil MW de demanda e 63 mil MW de oferta).

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Para Mário Veiga, há cinco opções que podem ser adotadas para minimizar o problema de oferta de energia no país. Confira a viabilidade de cada uma delas, na avaliação do especialista:

1 - Hidreletricidade

O país tem poucas opções de hidrelétricas, por conta do fim do estoque. As novas só começariam a operar em 2014.

2 – Gás Natural

O gás natural foi apontado, inicialmente, como a segunda maior alternativa para geração de energia. No entanto, o desequilíbrio entre oferta e demanda e a perspectiva de aumento de até 25% no preço do gás traz incertezas para investidores.

3 – Óleo Combustível

Como o petróleo subiu consideravelmente, as térmicas ficaram muito caras.

4 – Carvão

As térmicas a carvão enfrentam um adversário de peso: é a tecnologia de maior emissão de CO2, o que desperta a ira dos grupos ambientais.

5 – Bioeletricidade

A melhor opção, em sua avaliação. E com potencial para atender ao aumento de demanda entre 2011 e 2013.


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