sábado, 1 de novembro de 2008

A verdadeira questão das Teles.

As coisas são muito curiosas neste pedaço do planeta abaixo da linha do Equador.

Uma navegação sem destino certo na blogosfera demonstraria ao internauta que existem três grandes assuntos sendo tratados:

a) A "unção" de Barack Obama como a pedra de toque que faltava para a "esquerda" tomar o poder e não perca seu tempo, leitor amigo, de tentar convencer os, como direi, analistas e pensadores, que o que se chama de esquerda americana não tem nada ver com a esquerda petista, com Lula e muito menos com a visão de esquerda de Evo Molares, de Chavez e daquele padre com nome que lembra brinquedo de armar, Lugo. Ah!, é claro, não perca seu tempo em faze-los voltar a razão porque a maioria imagina um mundo dourado com o novo presidente mudando tudo que lá está aí e sendo o redentor do mundo. Só dois exemplos apenas: McCain e sua vice usaram aviões da Embraer porque ou já estavam disponiveis ou inham custo mais barato e foram pressionados a usar Boeings, produtos americanos. McCain é favorável ao fim de subsídios ao etanol americano favorecendo o produto brasileiro e Obama votou contra o fim dos subsídios.

b) Construção de explicações para a derrota do PT em São Paulo ou descontrução das vitórias e não perca tempo, leitor amigo, de tentar convence-los, até porque a maioria é militante, de que não tem nada a ver dizer:

- Que houve preconceito contra a candidata, por ser mulher. Não adianta argumentar com o fato de que a cidade já escolheu mulheres antes e desse mesmo partido. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a desconstruir as próprias vitórias num enome paradoxo, para legitimar a explicação. Dizem que Erundina só ganhou porque na época não havia segundo turno, e no caso de Marta, ela só ganhou porque o governo anterior, de Pitta foi extremamente ruim. Viram? Não houve mérito ou qualidade nas candidatas para atingirem a vitória, houve falha ou defeito nos outros.

- Que houve preconceito pela questão homossexual. Não adianta argumentar com a fato de a cidade escolheu como prefeito justamente alguem acusado de esconder ser homossexual. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a descontruir as próprias ações do partido como por exemplo a reação ruim a campanha pelo pessoal GLT e a retirada da peça publicitária. Alegam que nunca ocorreu nada, mas a imprensa, essa malvada de sempre, fez as ilações terriveis para que o povo mandasse a candidata petista para escanteio.

- Que houve apoio de malufistas e dessa turma nojenta da direita. Não adianta desenhar que o partido de Maluf é o PP que é por sua vez o antigo PDS e que por sua vez era a antiga Arena, partido de apoio aos governos militares; partido esse que nadou de braçada no mensalão e que tem ministério no governo Lula, por ser da BASE de apoio do governo federal. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a desconstruir as proprias alianças porque o que vale é a contextualização, a relativização, a troca dos fatos por sua particular interpretação.

- Tem um monte de outras explicações e contra-explicações. A que me causa mais risos é a força como os militantes petistas afirmam que o governador Serra não ganhou nada com a vitória do candidato do DEM. Os risos vem de saber que se eventualmente a candidata do PT tivesse levado a eleição, os mesmos militantes e "analistas" estariam escrevendo como a vitória da candidata foi uma vitória do Lula por causa de seus 80% de popularidade.

c) A crise e os efeitos dela no Brasil.

Enquanto isso, um importante assunto vai se consolidando e que está meio que entrameado com outros assuntos que estão em aberto. Esse assunto importante é a fusão da Brt e Oi.

A Brasil Telecom era uma empresa de telefonia resultante da privatização do sistema telebrás. Essa em especial ficou com Daniel Dantas, telecom Italia e fundos de pensão, enquanto que a Telemar ficou com Carlos Jereissati do grupo Laforte e fundos de pensão. A telesp ficou com a telefonica espanhola. O BNDES entrou com empréstimos para os interessados que em troca cederam as ações e participações como garantias.

De lá pra cá, uma série de brigas e disputas foram se sucedendo entre planos de pensão, Daniel Dantas e sócios estrangeiros. Enquanto isso; as empresas de telefonia iam marcando posições e o mercado de celular era o filão. Assim as teles atráves de participações tinham empresas na área de telefonia móvel além da fixa. Com a compra da Embratel por Carlos Slim, mexicano, o sistema de telecomunicação brasileiro não tinha nenhuma estatal mas diversas empresas e as chamadas concorrentes espelhos com áreas de concessão determinadas pelo govenro e controladas pela ANATEL e sua lei de outorga.

Uma das cláusulas dessa lei era o impedimento de um grupo ser controlador de mais de uma empresa de telecom. Na prática essa cláusula impede que uma empresa compre a outra ou se funda, evitando assim uma dominância de mercado, ainda mais porque esse mercado é dividido em concessões, não é um mercado livre. Explico: o cliente é livre em termos, para escolher sua operadora de celular desde que ela tenha autorização para operar na aréa de concessão aonde está o cliente. Por exemplo, em SP, você pode escolher usar um celular da Vivo, da Claro, da Tim, mas não podia usar da OI, porque a OI não tinha concessão para operar em SP. No caso das tarifas de DDD você pode usar as disponiveis no mercado; mas se quiser adquirir uma linha fixa de telefone, em SP você é obrigado a comprar essa linha da Telesp. Adiante;

Com o crescimento e incremento do uso do sistema celular; essa operação foi ficando tão importante que a OI, a operadora de serviço de celular da Telemar ficou maior que a mesma e a Telemar passou a comunicar como Oi-Telemar e agora simplesmente Oi.

A BrasilTelecom, designada Brt não adquiriu a mesma força que a Oi ou mesmo outras empresas da área.

Falemos dos donos;

Daniel Dantas era a estrela dos anos 90 adquirindo essa fama e posição, pelos contatos que tinha no governo e sua ascenção no mundo dos negócio na época do governo FHC. Ele era sem sombra de dúvidas um dos grandes financiadores de campanha do então PFL atual DEM e PSDB. Daí o ojeriza com que a militância de esquerda e do PT o tratam até hoje.

Ocorre que agora sabe-se o que alguns já haviam advertido e muitos fecharam os olhos; que Daniel Dantas também financiava os partidos agora no poder, e da pior forma possivel, aquela por baixo do pano. Segundo Mainardi, que foi o primeiro a falar nisso, Dantas era a verdadeira fonte do mensalão.

Então temos em uma ponta, Daniel Dantas, que sempre apoiou financeiramente partidos e políticos, com um problema enorme nas mãos que era a briga pelo controle da Brasil Telecom com a itália Telecom, fundos de pensão e Citibank. (Não esqueça, leitor amigo, que em parte essa briga ocorre porque um lado dos petistas no governo, que controlam os fundos de pensão eram contra Dantas e outra facção, nos ministérios era a favor).

Na outra ponta, temos os donos da Oi que são os maiores financiadores e apoiadores de campanha do PT e do presidente Lula.

Adular o presidente e criar meios de força na área de telecom é um caminho natural, embora não seja lá muito ético, de defender interesses comerciais.

Dantas fez isso, bancando despesas de uma empresa pequena que começava seus primeiros passos e que tinha como sócios, filhos de petistas, um deles, filho de Lula. Após bancar despesas pequenas, Danta deu o bote com proposta de capitalização da empresa, a gamecorp, através da BrasilTelemar. Lula, no entanto, aconselhado por petistas amigos, fez o filho rejeitar a oferta.

Mas a empresa precisava de sustentação e em socorro dela apareceu a Oi então ainda Telemar comprando participação ao custo de alguns milhões de reais e a gamecorp passou a desenhar jogos para celular para a Oi.

O crescimento foi tão frenético que a gamecorp fez um acordo comercial com a TV Bandeirantes e passou a controlar a programação de televisão do canal 21 com o nome de PlayTV.

Lembram-se das pontas? De um lado, temos a BrT, de Daniel Dantas que deu sustentação a base do governo alimentando o mensalão e na outra ponta a Oi, do grupo La fonte, que não é qualquer empresa mas é a empresa que deu sustentação a gamecorp, empresa do filho de Lula e tambem foram grandes se não foram os maiores, financiadores da campanha petista e da campanha de Lula.

Como amarrar essas pontas que são do mesmo novelo, o emaranhado resultante da mistura de interesses comerciais, políticos, financeiros?

A resposta é a fusão da Brt com a OI. Porque?

1) A receita da fusão, enquanto negócio, é sem dúvida um belo retorno pelo financiamento de uma campanha tão vitoriosa quanto a petista. Abre caminho para o OI ter atuação nacional, com uma campanha promocional no mínimo simpática ao cliente e que tem e terá enorme resultado.

2) É um meio de ressarcir Dantas do jogo em que esteve metido e como a BrT não tem tamanho nem poder para comprar a OI, o jogo lógico é a OI comprar a Brt e dessa compra, Daniel Dantas sai com mais de 01 bilhão de reais no bolso, sem as pendengas judiciais com os sócios e os fundos de pensão com tamanho e poder de decisão mais reduzidos, fortalecendo a atual e mais forte facção do PT no poder, já que a fusão encerra uma disputa interna dos militantes.

Como explicar no entanto, uma operação comercial dessas, além do que, é ilegal, já que a lei de outorga entçao vigente proibe essa operação?

Deve-se mudar a lei, obviamente, mas como fazer isso e ainda contar com apoio da turma, da manada?

Usa-se a velha tática do nacionalismo bocó.

O governo passado foi entreguista e estamos nas mãos dos malvados estrangeiros. O que fazer? Criar uma estatal? Não dá! Convenhamos, esse motivo "nacionalista" é só uma desculpa. A resposta é fortalecer uma empresa NACIONAL. Qual? a Oi. Mas ela não é Nacional em termos de abrangência. Então tá, ela se funde com a Brt, outra coitadinha, pequenina, que está no meio de uma briga de investidores estrangeiros malvados e elas, juntas terão "sinergia" para negociar com fornecedores e fazer frente ao mexicano capitalista, aos espanhois imperialistas e ao ET de Varginha.

A coisa é tão certa, que o BNDES entrou com um financiamento gigantesco para que a Oi e Brt façam a fusão. Mais a frente, a OI conseguiu outro empréstimo gigante com o Banco do Brasil.

Com tantos nobres interesses a serem atingidos, o governo indica para a cadeira vaga na direção da ANATEL, uma pessoa indicada por José Sarney que por mera coincidência, era favorável a fusão das teles e votou a favor da mudança da lei. (é curioso que esse raciocinio torto a favor dessa mudança, não considera que o malvado mexicano com o talão de cheques recheadissímo, pode adquirir por exemplo a Telefonica dos espanhois, a VIVO dos portugueses e espanhois, a TIM dos italianos e ficar dez vezes maior que a OI).

Enquanto isso, tem jornalistas e blogueiros que lançam uma cortina expessa de fumaça em torno do assunto, levantando uma bandeira de luta contra Daniel Dantas e acusando revistas, jornais e outros profissionais da mídia de vender sua "pena" aos interesses de Dantas. Quando o governo age em favor desses mesmos interesses, concordam por conta da "sinergia". Quando o BNDES financia uma operação até então ilegal, concordam com seu silêncio. Quando a FSP, a revista VEJA, Mainardi e outros publicam críticas ao governo, a Lula, a Dantas; tudo não passa de armação para defender Dantas.

E assim as coisas vão se sucedendo...

Tem mais uma coisa interessante. Paulo Henrique Amorim, acusou a Brasil Telemar ou Brt, dona do portal IG de censura-lo e manda-lo embora por sua luta contra a fusão Brt e OI. Ele então cria uma página e passa a cantar as glórias de ser independente. Mas se você olhar o registro do site verá que a empresa que mantêm o site tem como um de seus principais clientes com direito a banner enorme no site da empresa, adivinha quem? a OI que na verdade é telemar, uma das pontas da fusão BrtOI.

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