terça-feira, 4 de novembro de 2008

A fusão do Itaú e Unibanco

(texto revisto em 05.11.08)

Não sou economista e de banco o que sei é quanto devo a eles. Mas analisemos alguns aspectos dessa fusão.

Fusões não acontecem porque os donos dos bancosem questão, acordaram certa manhã com vontade de "fundir". A fusão só ocorre por que uma das partes ou ambas enxerga forte impedimento ao crescimento no futuro próximo, seja por alguma deficiência interna seja por conta de um cenário externo desfavorável. E nesse caso, me parece, acontecem as duas coisas.

Fundir para manter-se vivo.

O Brasil assistiu um sem número de solavancos e crises econômicas e não por acaso, ostenta com razão possuir a tecnologia bancária mais moderna e confiável do mundo. Então o que assistimos hoje é praticamente a consolidação de um modelo de força. Foi-se o tempo em que os bancos eram empresas particulares pequenas quando muito regionais, vivendo a sombra de um poderoso Banco do Brasil. Um sem-número de fusões, compras e recompras foram se sucedendo, a criação de redes e bandeiras e grandes quebradeiras, em especial de bancos pequenos deixaram o mercado bastante compactado sem muito espaço para os pequenos sobreviverem.

Sejamos francos, qual nome de banco particular que você lembra? Puxe pela memória? Itaú, Unibanco, Real, Bradesco? Tem outros? Pois é. O mercado é para grandes.

Essa é uma das razões que explica a fusão.

A cultura organizacional e nicho de mercado

A segunda explicação é cultural. Embora diferentes, uma boa observação das duas instituições mostra que possuem uma cultura semelhante. Não é a toa que o Bradesco sempre teve uma imagem de banco do povo, popular e o Itaú uma imagem mais elitista. O unibanco possui mais semelhanças com o Itaú nesse sentido, do que com outros bancos. E acredito que por isso, ao invez de se manterem em luta constante pelo mesmo tipo de cliente, a fusão é a saída mais indicada para o momento; momento esse que está sendo ditado pelo crescimento e fortalecimento dos bancos públicos federais. Volto a isso mais tarde.

A crise financeira

A crise financeira, sem nenhuma dúvida, é outra razão que "adiantou" a fusão. Mas esse bancos iam quebrar? Claro que não! Até porque os bancos vivem de emprestar dinheiro ao governo e não ao mercado, diga-se de passagem; pelo menos aqui no Brasil. Mas em uma situação em que o crédito internacional escasseou, o tamanho é importante para manter rentabilidade num cenário no qual o crédito para ser concedido passará por mais filtros do que já passava antes.

Os bancos públicos federais

E o mercado atual? Voltemos a questão dos bancos públicos. Existem uma série de entraves jurídicos e ideológicos que impedem um banco privado de adquirir um público, o que não ocorre com bancos públicos querendo adquirir bancos públicos.

O Banco do Brasil, por exemplo, trabalha para adquirir o Nossa Caixa paulista e mais outros três bancos estaduais. Com a crise, o governo emitiu Medida Provisória para que o BB e a CEF adquiram empresas em dificuldades. Para um banco privado atuar dessa forma é mais difícil. Por exemplo, no caso do NossaCaixa; se um banco privado resolve brigar para comprar o banco concorrendo com o BB; ele até pode levar o banco; mas o que realmente importa no banco não é sua capilaridade que se restringe a São Paulo, mas o gerenciamento de depósitos judicias feito pelo NossaCaixa, contas públicas que a lei determina fiquem em um banco público. Assim esse volume enorme de recursos irão fatalmente para o BB ou CEF.

O governo obviamente aponta para uma concentração do mercado para enfrentar a crise econômica e seria estupidez os bancos privados ficarem ao largo desse movimento.

Alguns dizem, que o governo torceu o nariz para a fusão, porque significa o fortalecimento de um concorrente privado para competir com os públicos. Isso é bobagem, principalmente se considerarmos que o governo atuou fortemente para legalizar a fusão de duas empresas privadas na área de telecomunicações, a BrtOi para o país ter uma empresa de Tele forte. Porque não um banco, o maior do hemisfério, por enquanto?

O cenário a frente

Existe outra razão, o cenário a frente, que torna positiva essa fusão, embora esse cenário a frente não tenha relação direta com os bancos. Alguns apostam na rodada de Doha, que ela será liberalizante por conta da crise, etc. Pelo menos é essa a fala do governo federal.

Sinceramente, eu não acho.

Gostaria de estar errado; mas quando o mundo inteiro surfava a gigantesca onda de crescimento e riqueza, a chamada rodada de Doha foi uma sucessão de reuniões que terminaram em fracasso. Paises emergentes querem a abertura dos mercados consumidores dos paises desenvolvidos mas querem proteger suas índustrias. Paises desenvolvidos querem abrir seus mercados desde que possam inundar os mercados emergentes. Alguma novidade nisso? Não

Qual será o cenário agora com a grande maioria dos paises desenvolvidos tomando caldo da onda e perdendo a prancha e os emergentes aguarrado nas pranchas com medo de ficar de pé?

Não são apenas os índices de desemprego que crescem. Junto com eles, crescem os gastos públicos de subsídios e gastos "sociais" e diminui a entrada de impostos. A soma impressionante de recursos que foram colocados a disposição dos governos para debelar acrise não deixa de criar outro buraco, nas contas públicas que deverá ser, mais cedo ou mais tarde, coberto. Alguem sinceramente acha que nessa situação os governos irão abrir mercados mais do que o necessário?

Se enquanto os benesse da globalização se faziam sentir com toda a força, não houve essa abertura, porque haveria agora, que o mundo sente os efeitos negativos dessa mesma globalização?

Nesse cenário, com crédito mais curto e mercados mais fechados, o tamanho das organizações fará diferença.

É nesse sentido, me parece, que a fusão de iguais é um acerto.

Problemas resultantes da fusão

Existem dois problemas com fusões ou compras desse tamanho e que não será a ultima que veremos.

O primeiro problema é a diminuição das opções de crédito para o cliente. O segundo problema é uma possivel demissão de funcionários.

Quanto ao primeiro problema, tendo a relativiza-lo um pouco. Numa economia com o crédito escasso ou liberado mas com juros mais altos por conta da política do BC que mantêm juros altos para conter o crédito para conter o consumo para manter a inflação em baixa; uma opção a mais ou a menos num mercado que é muito planificado não me parece exatamente um grande problema, nem será sentido pelos usuários das instituições tão fortemente assim.

Quanto ao segundo problema, é inevitável que isso ocorrerá. Porém as duas instituições são por demais enxutas. Não sendo públicas, não são usadas politicamente nem são cabides de emprego; então me parece que esse problema também não irá ser fortemente sentido.

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