quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Comentários sobre uma avaliação da crise americana

Do blog do Noblat, reproduzo artigo de Bruno Lima Rocha é cientista político - www.estrategiaeanalise.com.br, sobre a crise americana com alguns comentários meus:

A possibilidade de fraude na crise financeira global

Na 2ª feira 29 a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos rejeitou ao projeto de ajuda do sistema financeiro por 228 a 205. O pacote de Bush Jr. e equipe foi negado majoritariamente por políticos do Partido Republicano. Uma variável explicativa válida é o fato de que o pacote é impopular. Como o sistema distrital, o eleitor cobra diretamente o seu deputado, pressionando pelo voto contrário.

Comento: Realmente, avaliei da mesma forma no ultimo post que fiz sobre o tema, após dúvida levantada por um leitor. Diferente do que ocorre aqui, com comparecimento obrigatório em cotações, cálculo de votos que levam aos cargos candidatos que não foram votados e distância de eleitores dos eleitos, salvo os muito militantes; lá os eleitores exercem forte pressão sobre os eleitos e cobram posições adotadas.

Outra variável é a possível semelhança entre a fraude do sub prime e a de 1987, da Saving & Loan's (cadernetas de poupança). Quando a bomba estourou, o então presidente Ronald Reagan executou o resgate das instituições financeiras aplicando dinheiro público. Esta hipótese parte de fonte especializada.

Comento: Até onde sei e peço que os leitores me corrijam se estiver errado, Reagan arrumou a casa e a economia americana tornou-se mais vigorosa. Cardenetas de poupança, lá como cá, sempre foram consideradas economia de "pobre", aquele sujeito que não tem recursos para investimentos mais rentáveis ou aguentar o jogo das bolsas. No lugar de deixar guardado dentro do colchão, aplica-lo em cardenetas de poupança. Logo resgatar a poupança de uma quebra geral foi antes de tudo, proteger o cidadão mais pobre; da mesma forma que quando o plano Collor avançou sobre as cardenetas de poupança, a ação foi considerada abusiva e cruel.

Na 5ª 25 de setembro o jornal La Vanguardia, o maior da Catalunha (Espanha), apresenta em sua contra capa uma entrevista a um comissário divisional (equivalente ao posto de coronel) da Direction de La Surveillance du Territoire (DST, agência de contra espionagem francesa). O especialista, Jean-François Gayraud, é autor de um livro a respeito da geopolítica da macro criminalidade financeira e é o encarregado do órgão para combates a crimes econômicos.

Ele apresenta uma tese bastante razoável, cuja semelhança com a fraude de 1987 está no modus operandi. Afirma Jean-François que um banco pode se equivocar em até 10% dos empréstimos, mas não em milhares deles. Isso por si só já caracteriza gestão temerária.

Comento: Tenho comigo um dificuldade imensa em aceitar certas explicações, em especial, aquelas que possuem uma orquestração muito grande, porque em geral a verdade ao contrário da ficção é menos interessante como disse Mark Twain. Some-se isso ao fato de que a "outra explicação variável", ou melhor dizendo teoria conspiratória parte de um jornal regional espanhol trazendo uma entrevista com um funcionário público francês. Adiante. A explicação começa por uma obviedade. A de que bancos podem se equivocar em até 10% dos empréstimos, mas não milhares. Isso é gestão temerária.

Realmente, o conceito é esse mesmo. Ocorre que até ontem, os bancos regionais americanos estavam sólidos, com liquidez e fora do epicentro da crise. E esse epicentro são os bancos de investimentos. Aqueles que não possuem agencias, caixas, que recebem pagamentos, etc. São instituições que jogam milhões em tudo que pode ser considerado comodites, derivativos, etc até taxas e câmios futuros do dolar, etc. Daí, tais "operações" são por natureza, mais agressivas, já que os ganhos podem ser extremamente altos quanto são as perdas.

O erro está na sobrevalorização excessiva dos preços dos imóveis já que a procura pelos mesmos e o financimaento dos mesmos através de hipotecas e para um público mais pobre descolou o mercado do mundo real e criou uma bolha. A crise tomou proporções mundiais, porque os EUA são, bem...são os EUA; e instituições basearam investimentos em papeis baseados no pagamento de hipotecas que não ocorreram e pronto, estourou a bolha.

Gestão temerária em investimentos de risco? Claro que não! Alguma ação ilegal? Ora, detectada e comprovada, cadeia pros responsáveis como ocorreu com os escândalos contabeis de empresas de energia e telecom no inicio do governo Bush.

Partindo dessa premissa a fraude se inicia através de tráfico de influência. Mediante contatos políticos, operadores ocupam postos-chave em uma instituição financeira, controlando as operações de crédito e risco.

Após, pessoas de confiança se concedem montantes volumosos de empréstimos, sem garantia real. A forma de aumentar a bolha especulativa é através da indústria imobiliária, via contratos com construtores, incorporadoras, corretores. Simultaneamente, funcionários públicos e privados aprovam os créditos podres avalizados por empresas de análise de risco que corroboram a aventura financeira. Qualquer semelhança com a bolha imobiliária japonesa do final da década de '80 não é nenhuma coincidência

É impossivel que a cadeia de açoes acima tenha ocorrido? Não, claro que não, aliás, como toda boa teoria conspiratória é igualmente verossímel. Mas é provável que isso ocorreu? Não , não me parece provável. E porque não? Porque estamos falando de uma rede tão extensa e empresas de nome tão conhecidas que uma organização dessas não ficaria incôlume por tanto tempo sem que ninguem tivesse percebido nem o "especialista" que deu a entrevista.

As agências de risco não compactuaram com criminosos, mas falharam inequivocamente em seus sistemas de análise. Isso é fato. Mas apontar agentes e funcionários como membros de uma máfia, talvez seja um pouco demais.

O raciocínio do comissário François aponta essa cadeia de eventos como um método recorrente. Isto também é verificável no livro "McMáfia, crime sem fronteiras" (Cia das Letras, 2008) do jornalista inglês Misha Glenny. Para Glenny, o nexo político-criminal passa pela fraude como forma de crime sem vítimas físicas. Nesta modalidade, que é filha direta da liberalização do fluxo entre mercados financeiros, quem sofre é o dinheiro do contribuinte. O rombo sempre é pago deslocando os recursos de toda uma sociedade.

Os recursos de toda uma sociedade sempre cobrem rombos de um sistema. Governos só possuem uma unica fonte de renda que são os impostos. Quando a falencia de empresas em sequência podem gerar uma crise sistêmica, o estado tem a obrigação de intervir de uma ou mais formas para impedir que a sociedade pague mais tarde um preço maior ainda. Isso não significa que os autores do esbulho, em especial se houve a prática de crimes sairá livre, leve e solto. Os administradores das telecom e ENRON que o digam. Aqui no Brasil, tivemos o tal do Cacciola que foi preso, condenado, fugiu fazendio uso de passaporte italiano e agora foi reconduzido a cadeia. O dono do banco Santos, é outro. Todos com contatos políticos, todos com dinheiro no bolso, todos com os devidos processos legais. Qual o crime? Gestão temerária entre outros. No primeiro caso, recursos públicos evitaram uma crise sistêmica que até Luis Nassif crítico contumaz do governo FHC reconhece que havia. No caso do segundo, o banco foi fechado sem riscos sistêmicos.

Se é verdade que bilhões de recursos públicos serão usados para restabelecer a confiança no sistema, também é certo que bilionários como buffet injetou 5 bilhões de seus fundos em uma das instituições para mante-la viva. Não é dinheiro público e o mega-investidor não é um chefão da máfia, não é mesmo?!?





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