terça-feira, 18 de maio de 2010

Acordo Nuclear do Irã - II

O Irã continuará a enriquecer urânio a 20%, suficiente para produção de isótopos médicos em seus reatores, mesmo após a assinatura do acordo de troca de urânio pouco enriquecido por combustível nuclear. O anúncio deve fortalecer o ceticismo do Ocidente e dar mais argumentos para as potências que insistem em nova rodada de sanções contra o programa nuclear iraniano.

O Irã começou a enriquecer urânio a 20% no último dia 9 de fevereiro, após o fracasso do acordo proposto pelas potências, em outubro de 2009, para a troca do urânio iraniano enriquecido a 3,5% por urânio a 20%, enriquecido em solo exterior.

O enriquecimento incitou uma campanha dos Estados Unidos por uma quarta rodada de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). EUA têm apoio do Reino Unido, França e Rússia, mas ainda enfrenta a resistência da China.

"Não existe relação entre o acordo de troca e nossas atividades de enriquecimento [...] Vamos continuar nosso trabalho de enriquecimento de urânio a 20%", disse Ali Akbar Salehi, diretor da Organização de Energia Atômica do Irã.

O porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, também afirmou que o país mantém seu programa de enriquecimento de urânio.

O acordo assinado pelo Irã sob mediação do Brasil e da Turquia determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã no prazo de um ano.

A troca acontecerá na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e vigilância iraniana e turca.

Os presidentes Mahmoud Ahmadinejad e Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, decidiram enviar a proposta no prazo de uma semana para a a avaliação da AIEA.

Sanções continuam

A manutenção do enriquecimento, duramente criticado pelas potências ocidentais e que alimenta as suspeitas de que Teerã mantém fins militares para seu programa nuclear, deve renovar os argumentos dos membros permanentes do Conselho por novas sanções.

Nesta segunda-feira, França e Reino Unido já decretaram que os esforços pela aprovação da quarta rodada de sanções continuam.

O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, afirmou que os países fazem "progressos bastante importantes" na campanha pelas novas sanções.

"Progressos na resolução nas Nações Unidas bastante importantes foram alcançados nos últimos dois dias", disse Kouchner, sem revelar detalhes.

Kouchner elogiou o acordo obtido com mediação brasileira e disse que cabe a AIEA posicionar-se sobre o acordo.

"Não somos nós que devemos responder. É a AIEA", declarou Kouchner à agência de notícias France Presse.

Já o funcionário do Ministério de Relações Exteriores britânico, Alistair Burt, disse que o trabalho pelas novas sanções continua até que o Irã consiga provar ao mundo que seu programa nuclear é pacífico.

"Irã tem a obrigação de garantir à comunidade internacional suas intenções pacíficas", disse Burt, em comunicado.

"A Agência Internacional de Energia Atômica disse que não consegue verificar. é por isso que nós estamos trabalhando com nossos parceiros por uma resolução de sanções no Conselho de Segurança da ONU. Até que o Irã tome atitudes concretas para provar que seu programa é pacífico, este trabalho continua", disse.

Caminho fechado

As declarações de França e Reino Unido contradizem as expectativas do Brasil e da Turquia, que apostavam no caminho da diplomacia para evitar as sanções e obter um acordo.

Mais cedo, os chanceleres brasileiro e turco afirmaram que o acordo fecha o caminho para as novas sanções.

O brasileiro Celso Amorim disse que o acordo deve ser suficiente para encerrar a polêmica em torno do programa nuclear do Irã e cessar a pressão.

"Em nossa opinião, deve ser suficiente. Por que deve ser suficiente? Porque nós ouvimos todos, nós conversamos muito com os franceses, conversamos, aliás, o presidente acaba de falar até com o presidente Sarkozy", disse Amorim.

Segundo o chanceler brasileiro, também houve diálogo com os norte-americanos, russos e chineses. "Conversamos muito com os americanos, conversamos muito com os russos, os chineses", disse o chanceler.

"É claro que nós não estávamos negociando em nome deles. Nós negociamos com a consciência das questões e preocupações que eles tem."

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