domingo, 29 de junho de 2008

Sobre a nova legislação de trânsito e o alccol.

Ações consideradas de saúde pública adotadas pelos governos e pelos legislativos; tem em seu cerne um verdadeiro contra-senso. A atual mudança na lei que rege o trânsito pode ser considerada espartana nos costumes que deseja que sejam adotados e draconiana no quesito "direitos". O limite de alcool no sangue do motorista é tão baixo que na medida que deseja evitar que pessoas bêbadas trafeguem, impede que um sujeito que leve a família para almoçar no domingo e que tome um copo de vinho ou dois chopes seja multado e tenha o carro apreendido se para azar dele, ninguem que o acompanha saiba dirigir. Irônicamente, um sujeito que porte um trouxinha de maconha é liberado por força de lei, sem nenhum tipo de constrangimento. um jovem pode sair da balada após ter tomado esctasy ou cheirado uma carreira de cocaina e absolutamente nada ocorrerá com ele, se for pego dirigindo. No entanto esse mesmo jovem se tiver tomado vodca, cerveja ou outra bebida com teor alcoolico e for pego; sai de baixo.

As leis devem coibir sim, dirigir após ingestão de bebidas alcoolicas. Isso porque não está em risco somente a vida do motorista mas os dos outros que por azar estiverem passando em seu caminho.

Por isso entendo que sendo o alcool uma "droga" legalizada; é preciso haver campanhas de esclarecimento e mais do isso, tornar a associação de alccol e direção como crime previsto no código penal e não mera irregularidade administrativa resolvida com suspensão de carteira e multa. Venhamos e convenhamos, um sujeito que se alcooliza e dirige, sendo pego e perdendo a carteira, vai parar de beber ou de dirigir? Só rindo mesmo!!

A nova lei abre a guarda apenas para o achaque por parte de um ou outro polícial que irá solucionar o problema de outra forma, afinal para os acusados será preferivel perder 100 ou 150 reais do que uma multa de quase mil reais. Sejamos realistas; se existem policiais honestos e eles existem; também existem os desonestos, os que recebem pra olhar pro lado e mesmo os que estão envolvidos em crimes pesados, que deveriam estar combatendo.

Ao mesmo tempo, a lei aprova a obrigatoriedade de bebedouros em boates e danceterias porque beber agua é importante para manter o usuário de esctasy saudável. Não é impressionante, que a lei não determine que policias sejam postados para evitar a entrada de ecstasy? Nem que os pegos com as pílulas no pulo não recebam voz de prisão.

Enfim, segue um artigo muito bom do Reinaldo Azevedo sobre o tema que considero definitivo:

A boçalidade dos aiatolás das proibições
A lei que pode cassar a carta de motorista, com multa de quase R$ 1 mil, de quem tomar uma taça de vinho ou uma lata de cerveja é uma boçalidade. Coisa típica de país em que as leis são flagrantemente desrespeitadas pelos próprios governantes, que dividem o seu reinado com o crime organizado, mas que decidem ser draconianos com o cidadão comum. Abstenho-me de perguntar se Lula e Roberto Teixeira estavam sóbrios quando discutiam o caso Varig, por exemplo. Até porque tenho certeza: sim, eles estavam.

Não há nada que possamos fazer bêbados que Lula e Teixeira não façam muito pior estando sóbrios.

Será que estou aqui a defender que as pessoas saiam barbarizando por aí, já que o país, no ponto de vista legal, está se transformando num lupanar — para usar vocábulo acima da linha da cintura, embora a palavra designe o que vai abaixo? É claro que não. Apenas sustento que é uma estupidez impor limites tão baixos para o consumo, o que coloca o país entre os mais restritivos do mundo.

Como foi tomada essa decisão? Quais são os números? Há casos de acidentes graves no trânsito provocados por quem tomou uma lata de cerveja apenas? Ou uma taça de vinho? Duvido. É rigidez de país bananeiro — que contou, no caso, com a soma de várias militâncias da estupidez e do obscurantismo pseudo-humanistas. E reitero: que a lei seja dura, sim. Mas para punir o alcoolismo no trânsito.

Obscurantismos
Os lobistas da droga devem estar felizes a esta altura, não? A lei já lhes faculta carregar um fuminho apenas para seu consumo. No máximo, o sujeito leva um pito. Se, numa festa, o valente fumar maconha até ficar com os olhos esgazeados ou cheirar pó até eles ficarem vidrados, nada a temer: pode soprar o canudo, que a passagem está livre. É um homem de bem. Perigoso é o pobre contador que vem atrás, coitado, ou um gerente de banco: tomaram uma cerveja... Como é mesmo? “Dançou, playboy!”. Ah, sim: também dá pra mandar ver no ecstasy. O viciado tem até direito a bebedouro, garantido por lei. É um despropósito!

Alguns idiotas, proxenetas do onguismo que pretende nos sufocar com seus carinhos — embora, de fato, encham de dinheiro os seus bolsinhos —, acusam o lobby da indústria da bebida de ser contra isso ou aquilo. Eu quero que o lobby da bebida, do fumo ou das comidas que engordem se dane. O que acho insuportável é esta, com vou chamar?, “medicalização” da cultura, que nos transforma a todos em menores idiotizados, estupidificados pela suposta desinformação, dependentes de que o papai estado venha nos dizer: “Não fume, não beba, não consuma calorias, não isso, não aquilo... Nós só queremos o seu bem”.

Alguém poderia dizer: “Curioso, Reinaldo! Por que fazem o contrário com o sexo, botando máquinas de camisinha nas escolas?” Não há contradição nenhuma, mas coerência na estupidez. A “camisinha” também é a transformação do sexo apenas em questão médica: “Encape o bicho, e aí tudo é permitido”. Em qualquer caso, trata-se de diminuir o espaço da arbitragem individual.

A única nota algo dissonante nessa cruzada dos aiatolás da saúde é a tolerância com as drogas — e até o estímulo ao consumo. Mas até ela se explica se formos fazer a genealogia dessas “idéias purificadoras”: os “inteliquituais” dessa nova cultura são caudatários daquele tempo em que elas contestavam o “sistema”, entendem? Não beber, não fumar, não consumir gorduras, tudo isso é uma variante contemporânea daquela “contestação”. Não por acaso, acusam-se os lobbies de fazer pressão contra as proibições por razões “puramente de mercado”. Há uns idiotas achando que, assim, ajudam a combater o capitalismo.

Não deixa de ser irônico
No fim das contas, isso tudo não deixa de ser irônico — e olhem que não dirijo; a lei nem me atinge pessoalmente. Já aconteceu de eu me dizer católico aqui e ali, e as pessoas me olharem como se eu fosse um ET. Algumas me vêem até com certa piedade. Outros desandam a falar de sua vida venturosa, tão plena daquelas alegrias que, para uma pobre vítima do Vaticano, estariam vedados. Porque vocês sabem, não? Católicos ficam vendo pecado em tudo, torturando-se diante de qualquer prenúncio de prazer, mortificando-se... Ou, então, hipócritas que somos, caímos em tentação para rezar uma penca de ave-marias depois.

Quem diria, não? Estou começando a me sentir permissivo diante do triunfo dessa nova religião. Daqui a pouco, teremos de rezar algumas vezes por dia com a cabeça voltada para o Ministério da Saúde: sem fumar, sem beber, sem consumir gorduras, prontos para, com o sangue limpinho, ser sugados pelos mosquitos de José Gomes Temporão.

Estatísticas enganosas
Caso se espalhem alguns milhares ou milhões de bafômetros e se imponha o terror, é bem possível que caia o número de acidentes provocados por ingestão de álcool. É que os realmente embriagados terão sido tirados de circulação. E os idiotas dirão então: “Estão vendo? A lei foi eficaz”.

Ela foi eficaz porque pegou os bêbados — o que se pode fazer com uma lei mais racional —, não porque agrediu os nossos direitos e diminuiu a nossa joie de vivre.

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