segunda-feira, 31 de março de 2008

O brasileiro e sua religiosidade

A mídia noticiou algum tempo atrás que o Brasil, país com o maior número de catôlicos do mundo era também o país com o maior número de pentencostais ou evangélicos do mundo.

Claro que choveu análises sobre o assunto.

Não é de hoje que a igreja católica sentindo-se atacada vê seu rebanho diminuir sensivelmente e isso não é uma questão apenas brasileira. Em muitos paises a religião tem perdido sua importância.

No caso brasileiro a questão talvez seja mais emblemática justamente por ser o maior país católico do mundo e o que aqui acontece sem dúvida dá peso à situação global.

Não sei dizer se o mesmo ocorre em outros países, mas no Brasil existe a categoria do “católico não praticante”, situação inexistente em outras religiões.

Em segundo lugar, a igreja católica é por demais politizada, tanto quanto algumas denominações evangélicas, no entanto o discurso político, nas denominações evangélicas fica mais (não porém unicamente), circunscrito a atuação de fieis na política enquanto que na igreja católica tomou corpo dentro do próprio discurso religioso.

Não é demais lembrar que a igreja católica “sancionou” mais santos coreanos que “brasileiros”. Por acaso fiéis do lado de lá do planeta eram mais elevados de espírito do que os do lado de cá, ou existe o peso político de dar força a devoção católica em paises socialistas e com minoria católica?

Em terceiro lugar, a conversão “católica” é quase resultado de “osmose”, os pais batizam os filhos ainda pequeninos e esses automaticamente passam a constar das fileiras de “fiéis”, o que explica o número enorme de fiéis e a constatação da existência de “não praticantes”.

Em quarto lugar, ha o processo de sincretismo, mais fortemente percebido nas regiões do nordeste brasileiro e na cultura afro-brasileira que mistura religiões animistas e a denominada cristã católica. Isso não é em si um aspecto novo do catolicismo posto que o mesmo nasceu da aprovação do então cristianismo como religião oficial do império romano sob o imperador Constantino que era pagão somente aceitando o batismo perto de sua morte. A adoção de título como sumo pontífice, a mitra, datas sagradas como o 25 de dezembro, etc, todos oriundos de religiões não cristãs, foi o sincretismo da época. Séculos depois, a conquista espanhola da América que obrigou os nativos a conversão forçada e usou os templos para missas foi outra forma de absorção de outras religiões.

Logo não é estranho que atualmente uma parcela tão grande de “fiéis” católicos abram mão de sua “fé” original abraçando outra, ou mesmo adotando critérios, crenças e filosofias de outras religões e origens e somando com sua fé católica criem sua própria idéia de religião e Deus, o que faz com quê em nossos tempos modernos, a religião seja uma espécie de fast food ou self service no qual você agrega a sua “fé” os conceitos que melhor lhe apetecem.

A religião é à busca de Deus pelo homem. Entretanto a situação de descaso, desconforto, desesperança e mau-trato físico faz com que as pessoas busquem uma solução divina para as dificuldades hoje existentes. É ai que reside o encanto de religiões evangélicas. Diante do péssimo tratamento público do SUS e a perspectiva de morrer sem um tratamento adequado como quase sempre é noticiado na mídia, as pessoas preferem o resultado concreto oferecido pelas igrejas que curam de tudo, desde aids e câncer até mau-olhado e chulé. Diante da falta de emprego e da sobrevivência com um salário mínimo, dar esse dinheiro a igreja, porque afinal de contas, pela propaganda das igrejas, empresas de evangélicos vão de vento em popa trazendo sucesso financeiro e profissional ao evangélicos empresários. Só não explicam porque a massa bem sucedida de empresas leva o empresário ao sucesso (o evangélico, bem entendido), mas isso não se reflete no PIB.

Sob esse ponto de vista, a igreja católica não fica atrás porque era sua a prática da venda de indulgências, pregos da cruz, pedaços da cruz, mantos, ossos de santos e mártires, etc; tudo para alcançar a graça celestial. É de se frisar que a venda de indulgências foi um dos pontos que fez Lutero romper com a igreja católica.

Realmente a se levar a sério os milagres que as igrejas evangélicas pregam ocorrer dia a dia, em um só dia realizam mais milagres que o próprio Cristo e os apóstolos juntos realizaram, tendo por base os evangelhos e o relato do livro de Atos. Li nos comentários e nos artigos defesas contra esse argumento, dizendo que os cristãos cumprem o que Cristo disse, que eles fariam obras mais poderosas.

Ele realmente disse isso. Ocorre que as obras não são mais poderosas são apenas mais volumosas e é isso que gera a dúvida, até porque Cristo e os Apóstolos, e pelo menos é isso que está registrado no texto sagrado, ressuscitaram mortos. Desconheço que alguma igreja evangélica não importa qual denominação tenha repetido tal façanha. Aonde fica então as tais obras mais poderosas? A igreja católica, ou melhor, dizendo os fiéis católicos não podem creditar-se em situação melhor, já que contam em centenas de milhares de milhões as “graças” concedidas por “santos” e as catedrais estão atulhadas de imagens e lembranças de tais milagres.

A diferença está, portanto no método. Os fiéis Católicos acham que milagres ocorrem aos milhares pela intercessão de santos e santas e os evangélicos acham que milagres ocorrem aos milhares pela intercessão do Espírito Santo.

Por conclusão, não existe nada que se permita colocar a igreja católica como esteio moral de nada, porque na comparação atual e histórica ela é praticante, de todos os “vícios” que aponta em outras denominações. Por sua vez, as denominações evangélicas que fazem uso da massa de fiéis para enriquecer seus líderes e vendem milagres como se Deus efetivamente operasse maravilhas através delas sem se importar com a hipocrisia de seus líderes demonstram a sabedoria de Paulo, o apostolo de que Satanás também se transforma em anjo de luz...

Por fim, entendo que as atividades das denominações religiosas que não implicam em fins lucrativos, em outras palavras, o que entra de dinheiro sai devem permanecer recebendo isenção de tributos. Não é possível negar que igrejas realmente sérias produzem resultados.

As atividades, no entanto de cunho comercial que resultam em vendas, etc devem ser tachadas como qualquer empresa e indo um pouco mais longe, a legislação deveria proibir que denominações religiosas ou entidades ligadas a religiões direta ou indiretamente usem contribuições de fiéis para aquisição de empresas de comunicação, rádio, televisão e façam a exploração comercial de tais empresas. Uma denominação religiosa pode e deve custear a impressão de jornais, livros e outros meios de disseminação de sua mensagem por meios próprios ou de terceiros, mas não poderia resultar disso algum tipo de venda ou resulte em lucro.

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