sexta-feira, 25 de março de 2011

Olha ai a religião cavalgando o movimento político novamente, como haviámos previsto

É chato ficar falando, mas em posts anteriores falei sobre o perigo descrito abaixo. A chance da Libia e outros se tornarem ditaduras religiosas mesmo com uma capa de democracia como ocorre no Irã, conflagrando ainda mais a situação no oriente médio é enorme.

Os primeiros sinais de divisão no movimento contra o regime de Muamar Kadafi estão surgindo em Benghazi. Correntes conservadoras descontentes com o perfil - na sua visão excessivamente secularista e liberal - do Conselho Provisório Líbio preparam o que chamam de uma “contrarrevolução”. De sua parte, pessoas ligadas ao Conselho afirmam que não vão tolerar esse tipo de oposição e seus participantes estão sendo perseguidos e presos

Jovens envolvidos nesse movimento disseram ao Estado que pretendem fazer uma manifestação na segunda-feira em Benghazi. “Não estamos contentes com o tipo de pessoas que assumiram a liderança da revolução”, disse um jovem de classe média alta que participa do movimento e falou sob a condição de não ser identificado. Citando pelo nome o advogado de direitos humanos Abdel-Hafiz Ghoga, vice-presidente do Conselho, o jovem continuou: “Eles são tolerantes com o consumo de álcool e de haxixe, a prática de sexo antes do casamento e coisas desse tipo”. “A Líbia é um país muçulmano e deve continuar assim”, continuou o jovem, que participa da organização do protesto de segunda-feira. Ele disse que o grupo quer acrescentar à bandeira da independência do país, adotada pelo movimento anti-Kadafi, a afirmação da fé islâmica: “Não há outro Deus a não ser Alá”.

“Estamos pegando essas pessoas e prendendo”, reagiu um voluntário que trabalha no Conselho. “Esta é nossa revolução e temos de protegê-la a todo custo”, continuou o homem, que não estava dando uma entrevista, mas comentando o assunto informalmente com o repórter. “Temos a situação sob controle.”

Já Mustafa Gheriani, porta-voz do Conselho, disse não ter conhecimento do assunto. “Prender não é a reação correta contra quem está expressando sua opinião”, afirmou ele. “Quem lhe disse isso não parece alguém que está participando da nossa revolução.” Por outro lado, Gheriani pôs em dúvida a representatividade do movimento “contrarrevolucionário”. “Acho muito difícil encontrar alguém disposto a fazer isso agora”, disse ele. “Não há discussões ideológicas entre nós neste momento em que estamos concentrados em derrubar o regime. Parece rumor plantado por Kadafi.

Por Lourival Sant’Anna, no Estadão, replicado por Por Reinaldo Azevedo

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