quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O apavorado deputado Willys com os grupos religiosos

Apenas para deixar claro: Considero um enorme erro a religião e a política se misturarem.

Para deixar mais claro ainda: Considero que as leis digamos assim humanas devem reger as sociedades organizadas sem com isso ficarem acima das chamadas leis divinas, da mesma forma que considero um erro crasso que se imponha aquilo que normalmente é um entendimento da vontade divina como uma lei de obrigação geral a todos, gregos e bárbaros, judeus e gentios, crentes e incrédulos. Até porque isso vai de encontro ao principio básico de que Deus respeita como ninguem a capacidade do livre-árbitrio humano. Dito de outro modo: Sua Vontade deve ser aceita como tal livremente e por escolha própria não imposta.

Agora, não é possivel apesar dos principios norteadores acima; concordar com a moda atual na qual os incrédulos se colocam na posição de progressistas, a favor do belo,  do nobre e do justo, e a partir disso criarem toda uma campanha na qual pessoas religiosas são basicamente pessoas idíotas, facilmente manipuláveis com sociopatias variadas e com um indisfárçavel desejo de dominar a tudo e a todos em nome de uma suposta vontade divina.

Ou seja, os principios acima valem também para os grupo não crentes.

Ninguem com um mínimo de bom senso defenderia que coisas tais como o assassínio e a pedofilia fossem coisas liberadas e permitidas. Primeiro porque tais atos representam na outra ponta a destruiçao de uma ou várias vidas humanas; Segundo porque seria impensável, indo para o limite do absurdo, tornar o país um paraiso legal de assassinos e pedófilos. E que se note; basta um passeio pelos jornais para constatar quantos casos diários ocorrem de ambos os crimes. Conclui-se portanto que existem aqueles que não defendem abertamente mas ficariam felizes com a liberação do assassinato e da pedofilia, não é mesmo?

Pois bem, vivemos em um país cujo estado declara-se laico, não religioso. Isso não significa que seja um estado ateu, mas que não se baseia em uma religião oficial para sua atuação e competências. Um estado laico dá proteção a todas as denominações religiosas. E um estado laico preserverá os sentimentos e o norte que rege sua população, seja esse norte religioso no caso dos crentes seja sei lá, filosófico no caso dos descrentes.

É impossivel portanto, legislar leis humanasm, criar todo um arcabouço legal sem que o mesmo considere os sentimentos religiosos de uma maioria sem com isso impor algo a minoria.


Em outras palavras, e pegando o aborto a guisa de exemplo. A lei não permite o aborto na legislação brasileira porque a ampla maioria condena o aborto. Essa é uma das razoes pelas quais nenhum defensor da prática deseja fazer um plesbicito sobre o assunto. Sabem que a defesa do aborto perderia legitimidade.


Ocorre que se o estado brasileiro não fosse laico, o ponto de vista da igreja catolica seria o válido e com isso, não seriam comercializadas as pilulas anticoncepcionais, o diu, a propria camisinha. Como o estado é laico, ele respeita o sentimento da maioria quanto ao aborto mas torna disponivel meios contraceptivos, mesmos aqueles que podem ser considerados abortivos como pilulas do dia seguinte (algumas delas), e o próprio diu.  O uso de tais dispositivos para os que acreditam ser errado não é obrigatório e para aqueles que não desejam filhos mas não poderiam abortar, basta usar os meios contraceptivos.

No caso dos chamados direitos homossexuais, o jurídico deu entendimento conforme para que homossexuais registrassem suas uniões estáveis. Quem é religioso ficou chocado porque entende que a tal prática é um pecado aos olhos de Deus. Mas não consta que associações religiosas tenham defendido o uso de campos de concentração para gays. É uma questão de bom senso: se o sujeito é gay e assim deseja continuar, ele não deve fazer parte de associações religiosas que consideram isso um pecado. Se o sujeito é gay e quer fazer parte de associações religiosas que consideram isso um pecado e ele se convence que esse conceito é correto, ele deixa de praticar tal ato embora talvez sempre terá que lutar contra o que seu digamos assim corpo deseja; da mesma forma que alguem que teve ou tem a tendência de tornar-se escravo de drogas precisa lutar contra a vontade de toma-las todos os dias.

Até ai, tudo certo. Mas o que se vê nos tempos recentes é a tentativa legal de criar constrangemento e repulsa contra religiosos criando uma pec que na prática (antes de algumas alterações ocorridas), poderia levar um religioso a ser preso se um gay se sentisse ofendido se ele lesse em voz alta trechos das escrituras que condenam a pratica do homossexualismo.

Um dos lumiares dessa pec é um deputado ex-bbb. Ele escreveu um texto no qual disse ter ficado apavorado com uma pec que está sendo discutida que dá o direito a associações religiosas de impetrar ações de inconstitucionalidade. O deputado em questão a todo momento chama seu "adversário" de fundamentalista, o que implica em clara desqualificação do mesmo. Ele poderi limitar-se a dizer que o colega é religioso. Como muitos o são e é preciso caracteriza-lo como algo nocivo, deu-lhe a pecha de fundamentalista, um sujeito desarrazoado, fanático e assim por diante.

E o curioso disso tudo é que qualquer tentativa de tirar o peso das religiões ou da religiosidade do povo, que é representado por esses (embora esse deputado não tenha se elegido com votos mas com coeficiente eleitoral), é sempre vista como a luta do bom, do belo e do justo contra o atraso e o obscurantismo; e na mão inversa, qualque ação similar que vise proteger principios religiosos (e não estamos a discutir se estão certos ou errados), são artificios ditatoriais objetivando criar uma teocracia.

Eu até poderia terminar como de costume, dizendo "só rindo mesmo!". Mas como essa campanha tem sido vitoriosa, não é motivo de alegria, porém preocupação. Assim só nos resta orar...

Oremos!










4 comentários:

Luiz Brasileiro disse...

O discurso religioso é também um instrumento da liderança, pelos valores, princípios e forma ideal de convivência entre os cidadãos entre si e entre os cidadãos e a autoridade religiosa ou laica, o Estado, que cada religião defende ou simula defender.

Como a base da religião é o sacrifício da razão, um salto no escuro, acreditar em coisas não provadas e improváveis, líderes políticos sem escrúpulos encontrarão entre pessoas religiosas o nicho ideal para vender suas idéias absurdas, irracionais e discriminatórias.

Alguns líderes religiosos o são só pela sede de poder, estão na política pois esta é expressão laica de suas aspirações. Se engalfinham no debate aparentemente religioso pois assim deve ser, a religião foi o meio de chegar ao poder que escolheram.

Em um ambiente em que não é preciso provar nada do que se diz, nem se tolera questionamentos de natureza racional, mesmo se enunciando narrativas absolutamente improváveis; em um ambiente em que se interpreta livros dificílimos de ler tais são os livros da Bíblia, com a maior impudência, não se pode esperar boa coisa.

Neste tipo de ambiente a canalhice, o oportunismo, a pregação do ódio, o desrespeito pela verdade factual, o fanatismo que impede a razão de atuar - e propicia a manipulação dos incautos -, haverão de predominar. São instrumentos de trabalho dos líderes religiosos, com honrosas exceções.

Sem estes meios de atuação que propiciam a manipulação a religião não tem razão se de ser, atuar longe da análise racional exigindo o sacrifício da razão é seu espaço, a matéria com que molda o rebanho, o caminho mais fácil pra se criar a máquina de influência e chegar ao poder.

Um sujeito sinistro mas que entendia deste assunto como poucos, Hitler, escreveu que "Toda religião aspira a ser universal.", ou seja, aspira a ser absoluta, sem contrastes de qualquer ordem. A intolerância é ínsita às religiões.

O mundo já foi pior, quando existia menos racionalidade e a religião dominava absoluta. No Brasil onde predomina o analfabetismo de uns 80% da população, a religião e os que dela fazem uso para alcançar poder, riqueza e prestígio ainda têm grande espaço para vender seu peixe estragado, intolerância, pregação do ódio, perseguição e discriminação aos que não acreditam em suas narrativas improváveis e em seus valores exclusivistas e discriminatórios.

Não devemos orar, devemos estudar e nos guiar pelos caminhos da razão e da verdade para não darmos poder a gente perigosa que só quer poder, riqueza e prestígio para si em troca da vida das vítimas da intolerância, do sacrifício da liberdade de livre exame mediante provas e miséria mental e intelectual de milhões de seguidores.

Marco Aurélio Fedeli disse...

É sempre um prazer ter os comentários do Luiz, porque em geral em faz o contraponto à minha análise.

Se tivesse que escrever sobre religião, e já o fiz no blog, o texto teria uma sentido bem próximo do que o Luiz intencionou dizer.

A religião, cotidianamente é usada como instrumentos para objetivos políticos e vice-versa. Isso é fato notório.

Entretanto discordo de que é preciso abdicar da razão para aceitar a biblia como a palavra de Deus, até porque aonde ela cruza os caminhos da ciência, da geografia e da história ela mostrou-se ser exata, mesmo não sendo seu objetivo ser um livro cientifico, geográfico ou histórico.

Curiosamente, há um oceano de críticos que questionam tudo sobre a biblia, embora certas cópias dela tenham sido feitas apenas 100 anos depois dos originais. Já os escritos de Platão, há somente sete cópias manuscritas dos escritos de Platão, escritas aproximadamente 1.200 anos após os originais; e ninguem escreve uma linha questionando a autenticidade, etc.

Pode-se e deve-se questionar a interpretação que muitos dão às licões da Biblia, em boa parte torcidas para adequar-se a interesses diversos que o do criador.

Embora o comentarista realce a razão a frente da digamos assim fé; foge a razão declarar que 80% da população é analfabeta. Isso não é verdade. A afirmação foi feita apenas para realçar que a maior parte da população por se declarar religiosa tem a base disso no fato de ser "analfabeta". Isso realçaria o fato de uma porcentagem mínima declarar-se atéia o que condiziria com o excedente não citado de 20% letrados.

Embora seja verdade que muitos saiam das escolas como "analfabetos funcionais", que é o sujeito que lê mas tem dificuldade de interpretar textos; afirmar que 80% da população é analfabeta não é verdade.

Luiz Brasileiro disse...

Em pesquisa de 2005 o IBOPE constatou que 75% dos brasileiros são analfabetos funcionais. O fato foi divulgado amplamente, eis o que consta em um dos sites que divulgaram a notícia: “Apenas 25% da população brasileira entre 15 e 64 consegue ler e escrever plenamente. Os outros 75% apresentam muita dificuldade ou nenhuma habilidade na leitura e na escrita. É o que atesta a terceira pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) no Brasil sobre analfabetismo funcional e absoluto.

Entre os dois mil entrevistados, 68% são analfabetos funcionais, isto é, apresentam dificuldade em interpretar textos e não têm muita habilidade na escrita.” http://www.educacional.com.br/noticias/noticiaseduc.asp?id=226926

A verdade é que analfabeto é analfabeto, se o sujeito lê mas não sabe interpretar então não sabe ler, é analfabeto e não adianta procurar contornar o conceito.

Vamos a outros fatos. Vários motoristas de ônibus aqui em Salvador por pouco não ficaram sem emprego pois são analfabetos funcionais e pelo Código de Trânsito analfabeto não pode ter CNH. Se o DETRAN não fecha os olhos para a situação real estes cidadãos iriam ficar sem emprego, não poderiam renovar a CNH. Tenho como provar o que digo, o advogado que presenciou o imbróglio todo é testemunha.

Será que só os motoristas aqui de Salvador estão nesta situação, analfabetos embuçados pelas estatísticas e pelo “jeitinho brasileiro”?

Não tenho dúvidas: uns 80% da população brasileira é analfabeta, concluem o ensino médio sem saber ler. Só pelo fato de ler uma palavra ou assinar o nome não faz de alguém alfabetizado, como é o caso dos motoristas citados.

Paulo Freire tinha um conceito de analfabeto que para mim espelha toda a verdade: "Analfabeto não é só aquele que não sabe ler, mas também aquele que sabendo ler não ler." Por estas e outras que acredito que 75% é um número muito baixo; conheço pessoas, muitas, que irão morrer com mais de 70 anos e nunca leram um único livro e que lêem uma ou outra palavra, e pelas estatísticas não são analfabetos, mas na realidade são; é por conta do que sei e não está nas estatísticas que acredito que uns 80% da população brasileira é analfabeta.

A briga por estes números é esquisitice pois ninguém tem o número exato do percentual de analfabetos na população brasileira.

Mas não tenho dúvidas que quem mais se aproxima da realidade são os números do IBOPE que apontam 75% da população brasileira como analfabeta.

Portanto, tenho mais elementos para afirmar que 80% da população é analfabeta do que meu amigo Marco Aurélio para dizer que não estou dizendo a verdade e ajustando números para corroborar minha hipótese.

Eis minha réplica. Vai também um grande abraço Marcão.

Marco Aurélio Fedeli disse...

Taí. O Luiz explicou de onde saiu esses 80% de analfabetos.

Isso mereçe uma análise mais aprofundada. Triste situação

Abraços Luis