sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Questões de preconceito

A matilha anda alvoroçada. Reparo na www e em partes da blogosfera, duas situações opostas. Em uma delas um dos mais completos espécimes de idiota esmigalha duas lâmpadas fluorescentes no rosto de um transeute e pelo que falam os blogs e jornais, por motivo de preconceito e homofobia.

Com razão, as vozes se levantam contra essa clara e sórdida demonstração de preconceito e desrespeito a uma pessoa que tem o direito de expressar sua opinião e seu modo de vida sem ter o receio de ser atacado como o rapaz foi. E que fique claro, respeitar essa opinião não significa, repito, não significa concordar com ela mas não agir de forma tal que aqueles que pensam diferente sintam-se segregados.

Como sempre, a religião acaba invadindo a questão das escolhas pessoais e é tratada pelo viés errado. Já disse isso antes mas vale a pena repetir:

A Bíblia, posto ser considerada a palavra de Deus e guia orientativo para os que se denominam cristãos, deve obrigatoriamente ser considerada quando da tomada de decisões por aqueles que se declaram cristãos. Se alguem se denomina cristão mas desconsidera o texto sagrado preferindo correntes filosóficas outras, ou explicações provindas de outras religiões ou privilegia suas opiniões pessoais ele não é mais cristão. Dito de outro modo; se alguem deseja ser cristão, precisa por obrigação, digamos assim, contratual com o Deus que escolheu adorar, seguir suas orientações, porque de outro modo estará servindo a si mesmo e não a Deus.

Tudo certo aqui? - Sigamos.

A biblia é clara na condenação das práticas homossexuais. Essa é a postura clara de Deus, o autor do texto sagrado. Logo aquele que deseja ser cristão, deve evitar as práticas homossexuais. Deus não condena ou desconsidera a pessoa do homossexual mas a prática do homossexualismo. Dito de outro modo, alguem que como todos possue o desejo de alimentar-se mas ao faze-lo exagera na dose ou seu corpo por questões de dna produzisse enormes quantidades de gordura levando a pessoa a um peso escessivo e perigoso a sua saúde teria que viver sob intenso regime. A vontade de comer permanece mas ele se policia porque sabe que o sacrificio resulta em boa saúde. Quer dizer que este que vos escreve estã dizendo que homossexualismo é doença? - Não, em muitos casos é resultado de alterações do dna que faz com uma pessoa sinta atração por outra do mesmo sexo. É da natureza do homem essa situação.

Ocorre que do ponto de vista religioso não só não era para ser assim, como a Biblia registra uma promessa na qual o mundo se tornará melhor com todos seguindo as diretrizes de Deus. Logo a pessoa escolhe se deseja as bençãos futuras e para isso se adapta ao que diz o texto sagrado ou opta por seguir sua natureza abrindo mão das bençãos futuras.

É simples assim. O que não pode é querer que o texto sagrado seja alterado para que a vontade divina se adapte a vontade pessoal quando deve ser o contrário.

Portanto as pessoas tem o direito de defender seus pontos de vista desde que não seja com violência, tem o direito de recusar pontos de vista diferentes respeitando o direito dos outros de pensarem diferente e sem que com isso essa recusa não se mostre por meios violentos e por fim, as pessoas tem o direito de no debate, no campo das idéias, de tentar convencer os outros a pensarem como ele, sem que se use para tanto leis e violência.

Esse é o verdadeiro cerne da liberdade. E que se note, da mesma forma que as pessoas até podem ter o direito de achar que suas idéias pessoais estejam acima das divinas em ordem de preferência, as religiões tem o direito de exigir a prática do dia-a-dia baseado na vontade divina e quem quer pensar diferente que saia da religião arcando com os ônus dessa decisão.

Na pratica, vejam vocês, a blogosfera fala o mesmo que eu disse acima usando outras palavras.

Agora vejam outro caso. Um casal do litoral de SP depois de mais de 16 anos foi condenada a juri popular porque optou por seguir a orientação do texto sagrado quanto ao uso de sangue para uma filha, com 13 anos à época.

Na blogosfera, os comentaristas de sempre, os que se acham sábios e a favor da raça humana, condenam o casal sem sequer uma olhada nos autos, mas movido pelo puro e simples preconceito e a crença que a pessoa deve colocar suas idéias acima das divinas.

O casal responderá por homicidio doloso. Esse termo indica que havia intenção de levar a vítima a óbito.

Conheço pessoalmente o casal. São gente de bem, humildes. Na ocasião, Hélio sendo policial militar não queria ter nada a ver com a religião da esposa, embora respeitasse porque a mesma não vê com bons olhos o porte de armas, tanto que se recusam a servir o exército. A menina acompanhava a mãe na rotina religiosa e sua fé era claramente genuina.

A menina era portada de anemia falciforme. Segundo a Rev de saúde pública de 2005 publicada pela fsp.usp, a taxa de mortalidade de pessoas portadoras de anemia falciforme era de 78,6%. A elevada letalidade demonstra a gravidade da doença que é hereditária e não tem cura.

A menina era portadora do caso mais grave e portanto poder-se-ia dizer, tinha uma sentença de morte já decretada.

Atentaram, leitores para o fato da doença ser hereditária? A menina Juliana nasceu com a doença. Os velozes críticos do casal e da religião, poderiam tentar buscar nos autos e no hospital, o número de vezes sem conta que os pais correram com a menina para o hospital nas crises que a doença provoca.

Seria realmente crivel imaginar que pais dispostos a deixar a filha morrer, logo homicidas culposos, levariam a mesma filha ao hospital vez após vez mesmo naquela crise que se demonstrava ser a fatídica e final? Venhamos e convenhamos.

Resgatem os jornais da época, o jornal A tribuna de Santos, por exemplo. A médica que iniciou esse processo verdadeiramente inquisitorial respondeu ao jornal que a menina consciente declarou não querer receber sangue. Notem, a menina foi movida por sua fé e não pela dos pais.

Aos incautos que desejem atacar o casal, seria bom observar que o pai da menina não sendo à época, da mesma religião que a esposa, disse a médica que autorizaria o uso do sangue se ela garantisse que a menina não morreria e se isso curaria a doença. A médica disse que não, que era apenas um paliativo e que novas crises ocorreriam se aquela fosse sanada e com isso, o pai disse que sendo assim preferia evitar magoar a consciência da filha e apoiou a decisão dela.

Embora com todas as pesquisas realizadas até agora, o câncer não possui cura assim como a anemia falciforme. É bem verdade que determinados tipos de câncer podem ser eliminados do corpo e depois de cinco anos sem o retorno, considera-se a pessoa curada. Mas no geral, o resultado do câncer mais cedo ou mais tarde ainda é a morte.

Por conta disso, muitos afligidos pela doença, cujo tratamento é mais violento que a doença optam por deixar a natureza seguir seu rumo e não aceitam o tratamento quimioterápico e radioterápico. Seria de se perguntar se os críticos irão propor leis obrigando a tais a serem forçados a fazer o tratamento contra sua vontade. Irão fazer isso? Os promotores irão punir familiares por apoiarem a decisão dos familiares pacientes?

E o que dizer das centenas de pessoas que aguardam exames que comprovam a existência de câncer corroendo seus corpos e outras centenas que aguardam fazer tratamento pelo SUS, que são marcados para meses a frente eliminando a possibilidade de cura, já que todos sabem que a chave do sucesso no combate ao câncer é o quão cedo o tratamento começa? Os promotores irão punir os membros do governo responsáveis pelo SUS como homicidas culposos por todos os que morrerem nas filas do SUS?

Pois é...essa é a questão.

Se os pais tivesse deixado a menina em casa sem tratamento algum, não só deveriam ser presos mas de alguma expostos em praça pública. Mas considerando como tudo realmente aconteceu, os pais estão a partir de agora expostos em praça pública sem realmente terem culpa alguma.

Por fim uma questão de ordem prática. Se a menina estava tão ruim que o sangue "salvaria sua vida", porque ela não estava em uma CTI ou UTI de forma que o hospital agisse com ou sem o consentimento dos pais? Porque a médica não solicitou autorização de um juiz que facilmente concederia mas preferiu abrir uma queixa-crime contra os pais?

Pois é...a turminha defende a luta contra o preconceito até fim, ao mesmo tempo que o pratica desbragadamente.

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