sábado, 27 de setembro de 2008

O celular do Google

Da revista VEJA:


Google quer engolir o iPhone

Na semana em que o celular da Apple chega ao Brasil, o gigante
da internet lança no exterior o telefone que pretende superá-lo


Leandro Narloch

Mark Lennihan/AP
Armas da disputa
O G1, com teclado embutido (acima): aposta num futuro em que mais gente vai se conectar à internet pelo celular. Abaixo, anúncio do iPhone em shopping de São Paulo
Mark Lennihan/AP

O Google lançou na semana passada o celular com o qual pretende revolucionar o mundo dos aparelhos portáteis de comunicação. Batizado de G1, o modelo tem muitas das funcionalidades que equipam os smartphones mais avançados, como tela sensível ao toque e conexão wireless de terceira geração (3G). Além disso, carrega a marca da maior empresa de internet do mundo. Tais características tornam inevitável sua comparação com o iPhone, da Apple, a estrela entre os smartphones, que na sexta-feira passada foi lançado no Brasil por duas operadoras de telefonia. À primeira vista, na disputa entre os dois, o iPhone leva a melhor. O G1 é maior e mais pesado, e seu design não é exatamente um exemplo de elegância. A comparação entre os dois aparelhos, porém, é indevida. A principal novidade do celular do Google não é propriamente o aparelho, mas o sistema operacional que o equipa, o Android. Esse sistema é uma aposta do Google num futuro em que mais pessoas vão se conectar à internet por meio do celular. Hoje, apenas 11% dos celulares vendidos no mundo são smartphones, equipamentos capazes de executar tarefas semelhantes às de um computador e de estabelecer conexões rápidas à internet. O Android é uma interface que dá novas possibilidades de acesso à rede.

O primeiro passo para usar as funcionalidades do G1 é entrar com o login do Google, como quem acessa um e-mail. Contatos, compromissos e arquivos não ficam guardados no celular, mas na conta on-line. A caixa de diálogo para uma busca no Google aparece a um clique da tela inicial – uma navegação mais simples até que a do iPhone. O Google Maps indica em que parte da cidade ou do planeta estão os interlocutores do programa de bate-papo. Uma característica que diferencia o Android é ser um sistema operacional aberto. Isso significa que qualquer programador pode criar versões personalizadas do sistema e nele introduzir novos aplicativos. É possível, por exemplo, colocar no G1 um programa que lê códigos de barra e, com isso, comparar preços na internet. Na maioria dos celulares, inclusive os smartphones, os sistemas só podem ser alterados pelo fabricante. Trabalhar com um sistema operacional aberto é parte da estratégia do Google para transformar o Android na plataforma-padrão dos celulares no mundo. O G1 é fabricado pela empresa HTC, de Taiwan, mas gigantes do setor, como Samsung e LG, já anunciaram que vão lançar aparelhos usando o Android. O Google não ganha dinheiro diretamente com o sistema operacional, mas a audiência que ele atrai para seus sites é garantia de lucro com a publicidade on-line – que representa 98% do faturamento da companhia.

O Android é também uma forma de o Google manter sua supremacia na internet. Fundada há dez anos por dois garotões da Califórnia, a companhia é hoje a marca mais valiosa do planeta. Seu valor de mercado é de 86 bilhões de dólares. Em seguida, vêm GE, Microsoft e a centenária Coca-Cola. Na hora de fazer buscas na internet, o site é o preferido por 63% dos americanos, 80% dos europeus e 90% dos brasileiros. A intenção do Google é que programadores independentes criem uma grande massa de aplicativos para o Android, tornando o sistema cada vez mais atraente, divertido e rico em possibilidades. Para atingir esse objetivo, no ano passado a empresa instituiu um concurso aberto a desenvolvedores de softwares, que deu às vinte melhores idéias prêmios de 100 000 a 275 000 dólares.

A briga que se desenha entre os celulares com o Android e o iPhone reaviva outra disputa, esta ocorrida no mundo dos computadores pessoais. Nos anos 80, a Apple e a Microsoft competiam para ver qual de seus sistemas operacionais – respectivamente, o Mac OS e o Windows – seria o escolhido pelos desenvolvedores de softwares para criar seus programas. O Windows levou a melhor. O G1 vai chegar às lojas dos Estados Unidos no fim de outubro. Não há previsão de lançamento do aparelho no Brasil. Em compensação, finalmente os brasileiros já podem comprar um iPhone. O modelo disponível é o 3G, capaz de se conectar à internet com velocidade equivalente à da banda larga caseira. O preço do iPhone no Brasil, dependendo do plano escolhido, vai de 899 a 2 599 reais – nos Estados Unidos, a opção mais cara sai pelo equivalente a 550 reais. Uma das novidades que o iPhone oferece no Brasil é um atalho para o site de VEJA (veja o quadro abaixo). Num mundo que depende da internet até para as ações mais corriqueiras, é natural que aparelhos como o G1 e o iPhone se tornem objeto do desejo de muita gente.

As mil utilidades do G1

• A grande atração é o sistema operacional Android, feito para rodar também em outros smartphones. Mais que um celular, o G1 é uma máquina portátil de acesso à internet

• O Android é um sistema operacional aberto. Pode ser modificado e personalizado por qualquer programador

• Contatos, compromissos e arquivos não ficam guardados no celular, mas na conta on-line do Google

• O sistema de GPS localiza os contatos que estão on-line e mostra no Google Maps em que parte da cidade cada um deles está. Útil para localizar os filhos – ou o cônjuge

Aplicativos

• A câmera do celular lê códigos de barra de produtos e compara preços na internet

• O Google Maps mostra quais os pontos de táxi mais próximos. Para chamar o táxi, basta clicar no link que aparece no mapa

• O Pocket Journey usa o GPS para reconhecer as atrações turísticas próximas e exibe informações sobre elas

• O Ecorio memoriza os trajetos que o dono do celular realizou durante o dia e calcula quanto de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, foi emitido nos deslocamentos

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