Mino Carta era até poucos dias o queridinho das esquerdas e a "alternativa" a VEJA. No entanto bastou criticar o governo no caso do bandido italiano condenado, Cesar Battisti; para ser bombardeado pela turminha saudosa do conjuntinho boina, barba, estrela vermelha.
Cito o caso do Mino Carta, apenas para demonstrar que para um certo grupo de como chamarei, pensadores, a constância é uma qualidade posta em prática. A constância com que batem indicriminadamente em quem canta fora do tom exigido por essa turma, não importando ser amigo ou inimigo é de deixar o queixo caido.
E ai, na semana anterior ao carnaval, eu um verdadeiro grito de pré-carnaval, o que ocorreu?
A FSP, notória, no ponto de vista dessa troupe, como sendo membro fundador de um tal de pig; fez um editorial sobre a vitória de Hugo Chavez nas suas ultimas eleições, na qual ele levou o, como direi, direito de se reeleger ad eternun no cargo de presidente, como fazia Fidel, sendo que lá a eleição pró-forma era indireta, com ele como candidato único e na Venezuela, supostamente serão eleições majoritarias livres, com supostamente, vários candidatos.
Em dado momento do editorial, houve um brevissimo comentário chamando os sucessivos governos militares que o Brasil sofreu na década de 60 e 70 do século passado como ditabrandas, num trocadilho com o termo ditadura; porque esses governos embora ditaduras na acepção da palavra, permitiam uma certa liberdade politica e acesso ao judiciário.
O artigo em nenhum momento foi uma defesa da ditadura militar, mas uma comparação entre essa e outros governos que apareceram na américa latina, autoritários em seus projetos de poder, encabeçados como origem por Alberto Fujimori no Peru.
O artigo porém, por ter usado o termo "ditabranda" está sendo alvo da furia iracunda da mesma turminha que desceu o porrete no Mino Carta.
O festival de chiliques por conta do termo usado, claro, com o agravante de ser num texto crítico a Chavez, o segundo queridinho desse pessoal (o primeiro é Fidel, obvio); poderia ser hilário se não fosse simplesmente triste pela ausência de inteligência do debate.
Gravataí Merengue, postou que Emir Sader lançou um abaixo assinado contra o jornal. Essa turma gosta de abaixos assinados e quem os apoia, porque acham que assinando recebem uma aura de moralidade superior ao alvo do ataque sem ser preciso demonstrar atráves de raciocinio lógico o erro da tese sob ataque se é que existe erro.
Ora, convenhamos, se o artigo em sí não era uma análise sobre o período militar; mas um artigo sobre o autoritarismo, então a reação quase lisérgica ao texto por conta de uma miserável palavra é rídiculo.
Segundo, o artigo posiciona o termo "branda" na comparação não com outras ditaduras sul-americanas, mas compara a situação da organização política e social então permitida com a criada em outros governos totalitários, isso posto na percepção de que o governante acumulou poder em sí ou no seu cargo em detrimento de outro, baseado no desejo popular e cita a gênese desse tipo de autoritarismo com Fujimori no Perú e cujo exemplar máximo hoje seria Chavez na Venezuela. No entanto, até o presente momento não li artigos rebatendo a análise contida no texto mas uma séria de discursos, digamos assim, contra o termo "ditabranda".
Terceiro, a história prova e para verificar basta apenas saber ler, que a ditadura militar brasileira, matou menos que as ditaduras então vigentes na américa. Se tivesse matado apenas uma pessoa e ainda assim com um tiro acidental, o governo de então ainda seria uma ditadura na acepção da palavra por conta da falta de democracia plena e limitação das liberdades civis. Ora se ninguem tivesse morrido, por esses fatores ainda seria uma ditadura. Dizer que o governo de então embora ditatorial era uma ditabranda porque partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça...não implica em dizer que não houve erros, excessos, crimes, etc, ou relativizar as mortes ocorridas; até porque tanto as mortes, torturas, etc; como o número de ocorrências são uma questão de fato e não de gosto.
Quarto, também é questão de fato e não de gosto, que os que lutaram contra a ditadura militar, tinham por objetivo; a) derrubar o governo; b) instalar um governo do "povo" e c) o poder de decisão seria do grupo a ou b a depender do tipo de socialismo que o grupo a ou b defendia, já que uns até hoje são adeptos das idéias de Kruschev ou Stálin, outros liam com afinco o livrinho do Mao, muitos foram treinados em Cuba. Uma vez perdida a guerra física, passou a ocorrer uma luta pela mente; gerando com ajuda da mídia a idéia dos "lutadores pela liberdade", os bons contra os maus, etc. Esse vitimismo, de alguns até com enorme sentido e o peso da verdade dos fatos, em outros por pura malandragem; criou a fábrica de pensões vitálicias, demonstrando que essa guerra de imagem foi vencida pelos "vencidos" e talvez essa seja a principal mola propulsora dos chiliques em torno de uma palavra.
Quinto, ainda que aceite-se com eu aceito, a questão de que a mera comparação aritmética de vítimas de um regime não permitem absolver ninguem, ela serve para identificar um vício, que na verdade é um método. Um repórter da FSP escreveu contra o editorial por conta do uso dessa palavra e tocou na questão da aritmética dizendo que baseando-se apenas nela, Hitler que matou 6 milhões de judeus foi suave perto dos 20 milhões que morrerão sob as ordens de Stálin. Ocorre que o repórter erra no uso da aritmética e erra ao atacar aquilo que o texto não dizia. Até porque Stálin só matou muitos mais porque ficou mais tempo no poder e Hitler não. Stálin matou os que se opunham ou supostamente se opunham ao seu regime e Hitler queria uma pureza da "raça" com a eliminação de etnias inteiras principalmente judeus. Significa que motivos diferentes tornam um ou outro mais palatável? Significa apenas que o homem, não importa sua ideologia, quando dotado de poder supremo é capaz das piores atrocidades possiveis, justificando-as como admissiveis apenas no caso dele, por se sentir moralmente superior aos outros. Em outras palavras, ainda que Hitler não tivesse matado um único judeu, ainda assim ele seria um monstro sanguinário, um ditador frio, a talvez mais próxima encarnação do demônio que já tenha ocorrido no planeta, e isso porque ele não perseguiu unica e exclusivamente judeus, mas perseguiu quase todos os outros seres humanos do planeta.
Da mesma forma, mesmo que Stálin tivesse matado "apenas" 20.000 e não 20 milhões, isso não o tornaria um ser humano mais sádio que Hitler
Por isso a pura e simples aritmética não é o que está em jogo nesse caso mas o método por trás do discurso.
É inegável que assim como Stáline em relação a Hitler, a ditadura de Fidel matou muitos mais que as ditaduras sul americanas hoje a décadas extintas. Isso não significa que aquelas eram mais virtuosas que essa. Mas é questão de fato novamente e não de gosto que o governo cubano é homicida e é uma ditadura.
É nesse ponto que se registra a questão do método. Os mesmos que estão tendo ataques e desmaios por conta do "malvado" artigo da FSP são os mesmos, exatamente os mesmos, que piscam um dos olhos para a ditadura cubana e fazem que não enxergam, o número de mortos, torturados, exilados, etc, mas enxergam apenas o, pelo menos em tese, avanço da medicina cubana; como se isso de alguma forma atenuasse os erros do regime que são exatamente os mesmos de qualquer outra ditadura de esquerda ou de direita.
Vá você, falar do "milagre brasileiro", de itaipú, ou sei lá do quê e logo um turma vem babando pra cima lembrando da tortura e mortes. Cite o nome Cuba e não conseguirá pronunciar mais nada porque virá um discurso interminavel sobre a beleza da ilha; a altivez do povo cubano frente ao vizinho branco e malvado, os EUA; a medicina que não é nem mais de primeiro mundo mas extraterreste; a paixão do povo pelo Fidel.
Sobre a repressão, tortura e mortes, dirão que boa parte é propaganda americana.
E assim vai seguindo a vida nesse carnaval de 2009 com os enredos oscilando entre os escombros da crise, a chamada marolinha por Lula, e os chiliques dessa turma. E nós atrás desse trio elétrico vestindo a fantasia de palhaços.
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