quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Equador, Paraguai e as dívidas com o Brasil

No penultimo post, reportagem da FSP sobre o assunto.

Equador discute um percentual da dívida externa que possui e quer uma arbitragem internacional para tanto.

Paraguai quer discutir a dívida de Itaipú (sabe aquela história do cara que não tem grana mas tem amizade com um cara que a tem e esse então fica sócio do primeiro em um negócio e sua parte será paga aos poucos. Passa um tempo e o primeiro pobretão, como dono da metade acha que já pagou a dívida e quer mudar o esquema da sociedade. Ele fica com 50% do negócio, 50% do lucro e 3% das obrigações. E os outros 97%? É do sócio endinheirado porque ele é mais gordo que o outro).

Bolívia e Venezuela querem fazer o mesmo. Advinha quem será alvo?

Do ponto de vista prático, no mundo real, não há problema algum em querer renegociar dívidas. Na verdade isso é uma obrigação de governantes porque envolve no limite, o bem estar de uma nação. Pode-se discutir é claro, os meios que serão usados para atingir essa renegociação e não adianta depois reclamar que os 'credores" usem das mesmas armas, como pressão internacional, mídia, dedo em riste, convocações de diplomatas, etc. Também não se poderá reclamar depois da sensação de insegurança jurídica e da perda de confiabilidade.

Mas é do jogo, discutir prazos, juros, novos empréstimos, deságios. Porque não? Vence quem tiver a melhor equipe de negociadores. Ademais, no mundo real, sabemos, a boa negociação é aquela que resulta em bom resultado para um dos lados e a sensação de bom resultado para o outro. Na grande maioria das vezes negociações não são um jogo de soma 0. Alguem sempre ganha algo a mais que o outro lado. E isso não quer dizer que o outro lado tenha tido prejuizo.

Esses acordos comerciais que o Brasil possui com esses paises, é óbvio, não são predatórios como o mítico acordo cretense contra Atenas exigindo que 14 jovens fossem entregues para alimentar o Minotauro e na terceira remessa apareceu o heroi Teseu que matou o monstro.

Decerto o Brasil não é Creta, esses paises não são Atenas e muito menos seus governantes são ou agem como o heroi grego. Claro, querem matar o minotauro imperialista e neo-liberal brasileiro que, na visão deles, devora seus jovens.

Mas então, se tentar renegociar dívidas é OK; qual o problema?

O problema está no fundo, bem no fundo, na mesma origem do problema com o sub-prime que alavancou a crise americana tornando-a mundial. Emprestar pra quem não pode pagar e que ainda por cima possui um caráter tão elástico que joga seus problemas nas costas do credor como se este fosse o único responsável pela situação financeira do primeiro.

O Brasil até agora tratou os negócios como alavancas partidárias e ideológicas. Com a idéia de uma tal de "integração sul americana", embora o país tenha sido incapaz de, junto aos sócios, dar e garantir o devido valor e significância ao MercoSul; financiou obras de infra-estrutura na Bolívia, Venezuela, Equador e Paraguai.

Não temos acesso aos documentos desses financiamentos e contratos e decerto não foram feitos e assinados com armas apontadas para a cabeça dos pobrezitos hermanos. Como também não são resultado de caridade é de se supor que foram negociados de forma séria em ambos os lados. Ocorre que agora que as obras foram feitas e com a crise que está atingindo todos as nações; os paises, digamos assim, mais afeitos a uma teatralidade "bolivariana" resolveram que as dívidas, incluso aí a parcela que cabe ao imperialista Brasil, sejam revistas.

Acho curioso que paises conceitualmente mais sérios ou que adquiriram uma imagem de mais seriedade como o Chile, Peru e Colômbia são tratados com indiferença quando não, com uma distância digna de paises separados por hemisférios. E justamente os tratados pelo governo como "irmãos mais novos", "mais pobres", "com uma esquerda vitoriosa" e coincidentemente que circulam esse eixo chamado "bolivariano" são os que tendo buscado e encontrado no Brasil portas abertas agora jogam pedras na janela.

A crise dos sub-prime que foi o empréstimo generalizado sem os devidos lastros de garantia por parte dos devedores, por conta da pouca capacidade financeira levou a essa hecatombe financeira e crise mundial. Se é certo que a liberalidade na concessão dos empréstimos foi o terreno sob o qual vicejou a crise, igualmente é certo que a irresponsabilidade dos que tomaram os empréstimos foi o adubo dessa crise. Se tenho uma renda de 1.000 doláres ao mês eu sou um idiota de fazer um empréstimo que comprometa 600 dolares dessa renda. Se o empréstimo é hipotecário e o imóvel adquirido é a garantia desse empréstimo, o que eu sou se aproveitando os juros extremamente baixos faço duas ou três hipotecas para invetir em imóveis e não os vendo? Não seria irresponsável?

Os paises que agora adotam uma postura mais de "esquerda" possuem economias extremamente fracas ou pequenas em relação e na comparação com o Brasil. Isso não significa que por conta disso os contratos podem ser quebrados e pagamento deixados pra lá.

Até porque existe um forte componente político nisso tudo.

A Venezuela por exemplo, segundo recente reportagem da Reuters, é um dos maiores fornecedores de petróleo dos EUA, costuma agir na Opep (cartel de países exportadores) em favor da elevação de preços. Ou seja, a alta dos petróleo que chegou a bater os US$ 200,00 o barril não é somente um efeito de procura/demanda; mas acerto de cartel. Com a implosão desse preçlo fantasioso para valores mais próximos da realidade por conta da crise, o que fez a Venezuela? Segundoi a Reuters, Chávez acumulou reservas durante o período de alta e organizou empréstimos de países como a China para blindar o seu governo socialista de uma queda prolongada. Mas economistas dizem que ele terá de cortar gastos se o preço do petróleo continuar caindo no ano que vem. Na quarta-feira, a cotação atingiu o menor valor em 20 meses.

Agora ele fala em auditorar sua dívida externa o que pode impactar na dívida com o Brasil, já decretada por ele, no caso do Equador como sendo obra de monopólio econômico. E o que a Venezuela faz alimentando com dinheiro campanhas políticas, sustentando com oléo subsidiado Cuba? Não é monopólio ideológico? Aí pode? O sujeito faz empréstimos com a China para formar "reservas" mantendo os gastos estatais nas nuvens e deseja "auditar" sua dívida para acabar com o monopólio econômico. Faz sentido?

Faz; se a Venezuela com seu perfil e discurso de resolver as coisas na força e no poder acha que o Brasil pelo tamanho é um estorvo. Nesse caso se explica a similaridade dos discursos dos paises "bolivarianos" em vários aspectos como por exemplo o discurso bate-estaca de demonização dos EUA e ao mesmo tempo, mantendo negócios deixando a briga apenas na retórica. Já com o "gigante deitado em berço explêndido", o discurso cede lugar também à prática já que o gigante já comprovou ser manso.

Quer dizer que o Brasil deve mandar aviões e tropas invadirem o Equador e fuzileiros tomarem conta do Paraguais pra mostrar quem manda? Obvio que não. Essa atitude além de burra, posto que sofreria oposição de rigorosamente todos; seria contraproducente; basta ver os custos da guerra no Iraque.

Então deve fazer o quê? Ora se os contratos possuem cláusulas ruins, de verdade, o Brasil deveria correr e negociar. Um mal acordo é sempre pior que uma boa demanda já dizia o ditado e colocar as barbas de molho evitando aumentar a exposição a novos empréstimos.

E se os contratos nada possuem de ruim? O Brasil deve mostrar seus musculos permitindo e exigindo que sejam feitas as auditorias e paralelo a isso exigir a continuidade do pagamento. Ao mesmo tempo fechar as torneiras e lidar com paises realmente sérios.

O Paraguai envolve uma questão mais delicada. Ele usa menos de 6% da economia gerada em Itaipú. Como é? O resto é vendido preferencialmente para o parceiro. Ocorre que não se explica direito ou as pessoas não pesquisam direito; ele não usa mais porque não investiu nas linhas de transmissão. Consegue imaginar isso? O Brasil construiu linhas de transmissão que permitem que a energia de Itaipu chegue até Minas e vá além. O Paraguai tem deficiências de tensão até na própria capital.

Claro, a chamada elite paraguaia e o ditador de plantão tratou o pais como se fosse sua fazenda particular e roubaram dinheiro público até enjoar? É uma pena, mas é de se perguntar o que temos com isso?

O Paraguai pode e deve construir redes de transmissão e energizar o país inteiro. Mesmo que faça isso não irá usar 50% da energia produzida e o excedente continuará sendo vendido ao Brasil que não paga preço de custo como afirma o discurso deles. A Eletrobrás paga o preço médio dolarizado por essa energia. Pesquisem no blog, porque tem um post sobre esse assunto com informações da Itaipú.

O Paraguai no entanto, não fala em investir para usar essa energia. Quer vender para outros paises, a Argentina no caso ou que o Brasil pague mais, muito mais pela energia. E a dívida referente aos empréstimos para a construção? Nesse caso o Brasil que adiantou parte do dinheiro e deu as garantias para tal, deve arcar com mais de 97% da dívida.

Não quer mais nada?

Não quere mais nada?

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