domingo, 30 de março de 2008

Sobre a Liberdade de imprensa e a religião

Há pouco tempo, uma reportagem da Folha de São Paulo sobre o sucesso financeiro e empresarial da IURD, Igreja Universal do Reino de Deus; foi recebida com ira pelos dirigentes da igreja e seus fiéis. Num tentativa de calar a boca da imprensa ou puni-la pelo que publicou, os fiéis da igreja em várias e isoladas localidades abriram ações judiciais contra a reporter e a Folha de São Paulo. Muitas dessas ações possuiam o mesmo texto padrão, o que significa que a fonte foi a mesma levando juizes a proclamarem a vitória da Folha de São Paulo acusando o outro lado de litigância de má fé. Como de hábito, opositores da grande mídia apontaram a reportagem dao jornal como exemplo de erro e louvaram as ações da igreja. Outros desceram o pau no lombo dos religiosos por conta não só da reportagem como também do óbvio preconceito que "evangélicos" geram.

Será que pode-se dizer como colocado pelos blogs e jornais que a imprensa cometeu um pecado no uso da sua liberdade ao "atacar" uma igreja?

O sentido da palavra "pecado" é "errar o alvo"; já escrevi em um outro post. Logo a liberdade para algo em si mesmo não pode ser considerado pecado, mas o mau uso dessa liberdade pode levar ao pecado, ao erro, a errar o alvo.

Em sentido religioso pecado seria tudo que é contrário aos ditames biblicos ou aquilo que Deus deseja dos homens. Como então é possivel afirmar que a imprensa que é um ser abstrato pode errar contra Deus? É claro que nesse sentido não pode. Mas ela pode ser instrumento de perseguição contra pessoas que desejam seguir a Deus e isso é fato. Porém nesse sentido o pecado seria dos homens que da imprensa fazem uso para tais atos e práticas. Concluo portanto que a imprensa ao fazer uso da liberdade de informar, não pratica um pecado, não erra o alvo e a verdade o faria se não fizesse uso da liberdade que possui, que possuimos para bem informar, mesmo que esse bem informar seja contra interesses, não de Deus, mas de pessoas que dizem representa-lo.

Neste ponto, seria interessante observar o outro lado. A reportagem em questão não era um ataque gratuito e fortuito contra a igreja em questão, mas a partir do aniversário de fundação da mesma traçar o perfil da mesma. Após constatar coisas óbvias até, sobre o crescimento da igreja no campo empresarial; ela levanta hipóteses e não afirmações de que o dinheiro de fiéis seria lavado em paraisos fiscais. O resultado como já foi dito, foi uma avalanche de ações judiciais contra a jornalista e os veiculos de informação.

Além disso, a TV Record que é alimentada em grande parte pelo dinheiro da igreja, fez uma reportagem sobre assunto. Foco jornalistico? Seria se tivesse informado que as ações tem sido rejeitadas pelos juizes e algumas receberam condenação por litigância de má fé. Como ela simplesmente colocou fiéis da igreja falando e apontando a reporter e os veiculos, a sensação de uso da reportagem como arma de disuassão é muito forte.

E o que falou a reportagem de tão malevôlo? O principal representante da igreja era funcionário público quando fundou a igreja. 30 anos depois esse mesmo ex-funcionário público é um homem milionário já que em seu nome estão jornais, rádios, emissoras de televisão, empresas. Pergunto: Com qual dinheiro? herdou bens de familia de posses? Não. Ganhou em algum tipo de jogo? Não. Qual sua fonte de renda se a exatos 30 anos, o sujeito passa tempo integral na sua digamos assim, pregação? Ora é óbvio que a igreja custeou, custeia e continuará custeando seus empreendimentos comerciais e sua vida pessoal. É fato e contra fatos não há argumentos.

Grande parte dos recursos da emissora vem da venda do espaço noturno para a própria igreja. Como essa também compra o espaço em outras emissoras a comparação de números é quase obrigatória e segundo noticiou setores da mídia, o espaço vendido pela Record para a IURD é mais que o dobro do pedido por outras emissoras, inclusive a Globo que por conta da audiência possui os preços mais caros.

Assim está claro que a igreja, fundada pelo Sr. Edir Macedo, ajuda a sustentar a TV Record que é de quem? Do mesmo Sr. Edir Macedo. Somem o resto dos empreendimentos e tem-se um idéia do lucrativo negócio que foi fundar a igreja.

E pensar que o filho do Deus que esse pessoal diz servir declarou a certa feita, segundo um dos seus seguidores, que não possuia sequer um lugar para pousar a cabeça. Quanta ironia, não!

É claro que não sou idiota de dizer que todos devem agora atear fogo a seus bens. Acho natural e chega a ser óbvio que uma igreja ou denominação religiosa mantenha meios de produzir livros, revistas, audios que expliquem e espalhem sua fé. Isso é tão óvio que a legislação dá isenção de impostos para tais atividades. Também entendo como natural e importante que os fiéis de determinada igreja sustentem essa igreja; afinal é necessário que se pague a luz e água consumida, que se faça a limpeza dos locais, que se sustente os voluntários ou profissionais que dediquem suas vidas aquela "missão".

Agora, a partir desse donativo que em geral é dado por pessoas das classes sociais mais humildes para dar uma vida de riqueza para pastores, padres e familiares e com esse dinheiro construirem empresas e impérios financeiros, aí já é um pouco demais e o direito de se criticar tais coisas é inerente à cidadania e ao jornalismo.

Não faço aqui uma critica aos fieis dessa igreja, porque a mesma lei que dá liberdade de imprensa também dá liberdade de credo. Se um sujeito pensa que um pastor em um culto consegue fazer mais milagres que o próprio Cristo em toda a sua vida (paradoxalmente nenhum deles se atreve a tentar ressussitar os mortos mas conseguem vejam vocês curar aids, câncer e frieira), é um problema dele.

Se esse mesmo sujeito acha que deve entregar dinheiro para essa igreja e depois não se preocupar com o que é feito dele, é um problema dele.

Se esse mesmo sujeito acha que Deus é justo de curar sei lá quem, de câncer por ser fiel da igreja e dar o dízimo ou pagar sei lá o que pra ser levado na fogueira santa de sei lá aonde, ao mesmo tempo que permite crianças morrerem de fome no Sudão ou centenas morrerem de câncer em hospitais, é um problema dele.

Se esse mesmo sujeito acha que a riqueza do "bispo", de sua família (pesquisem na mídia sobre a casa que a mulher dele está construindo), ou de suas empresas é resultado da benção de Deus enquanto centenas de fiéis lutam para sobreviver apenas com "bolsas-família" dadas pelo governo, é um problem dele.

Quando esse mesmo sujeito se deixa usar como massa de manobra abrindo ações por sentir-se ofendido com reportagens que trazem atenção a tudo que está aí em cima, embora ele mesmo talvez sequer seja pastor ou dirigente da igreja, aí o problema passa a ser nosso, porque o direito de opinião e crítica passa a ser confundido com calúnia mesmo que o fato seja verdadeiro e logo poderá ser eu ou você a sermos calados porque criticamos esse ou aquele.

Religião relaciona-se com o sagrado, com a busca do homem por Deus e não a busca de Deus pelo homem. Logo se a religião tem um quê de sagrado, o que muitos fazem dela a torna a mais mundana das coisas.

Em nome do Deus cristão, de Jesus, de Alá, etc; pessoas mataram e foram mortas. Pessoas foram perseguidas pela inquisição. Cruzadas e ataques militares foram realizados por cristãos e mulçumanos. Guerras foram abençoadas por padres e capelães militares catôlicos e protestantes. Hindus e mulçumanos mataram-se uns aos outros na Índia. Tanta atrocidades em nome da religião, será tão inverossimel que homens usem essa mesma religião para enriquecer? Claro que não!

Faço uma sugestão aos fiéis dessa igreja. Antes de exigir dos outros pratique aquilo que deles está a exigir. Antes de se ofender com hipóteses sobre o que é feito com o seu dinheiro, peça ao seu pastor uma prestação de contas, o que entrou, o que saiu e aonde foi gasto o dinheiro. Depois disso, processe se achar que tem direito de faze-lo.

Por fim acabo de lembrar-me de Gandhi que disse ao vice-rei da Índia que ele "amava Cristo, mas odiava os cristãos porque não vivem como cristo vivia". Ah! isso me fez lembrar o Mestre que disse que os homens haviam invalidado a palavra de Deus trocando-a pelas tradições e era em vão que persitiam em adorar a Deus porque ensinavam por doutrina o mandato de homens.

É isso!

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