quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O estigma do capitão covarde

O Capitão do Titanic optou por afundar com seu navio. Centenas de comandantes de vasos de guerra de todas as nações envolvidas na segunda guerra, preferiram ficar em seus navios à abandonar seus homens.

Não existe lei que obrigue um capitão a ficar e morrer no navio no caso de um acidente sério; mas a tradição naval diz que assim deve ser e assim se espera. Diferentemente de qualquer outro meio de transporte, os paises consideram os navios como parte do território nacional e por isso, as embarcações carregam as bandeiras nacionais dos donos dos mesmos. Um ataque a um navio estrangeiro equivale a uma declaração de guerra e capitães de navio são os únicos fora os clérigos e juizes autorizados a ordenar e fazer casamentos.

Por isso houve o assombro de assistir pelos jornais que o capitão do Costa Concordia fez valer aquela que talvez seja a mais simples e primitiva das emoções humanas, o instinto de sobrevivência.

Antes de qualquer coisa, que seja dito, o sujeito foi um tremendo covarde; mas lá no fundo e bem no fundo, ele talvez tenha feito o que a maioria em pânico talvez fizesse. E pra que ele não seja tomado por uma besta-fera, e bom que se diga que os dois abaixo da linha de comando fizeram o mesmo. Logo pode-se dizer que é uma façanha, uma proeza, porque não dizer quase uma intervenção divina daquelas de figurar no livro dos livros que quase a totalidade dos passageiros tenha se salvado.

Mas não estou aqui a defender esse capitão covarde. Porque se nós os mortais comuns temos o direito de entrar em pânico e sair correndo gritando ao menor dos perigos e não o fazemos; espera-se muito mais fibra daqueles que permitimos que fiquem em posição de autoridade sobre nós nas mais diversas situações.

Porque o outro capitão, por simplesmente ter gritado que o covardão voltasse ao navio, ordem essa incrementada com um sonoro palavrão para não deixar dúvidas de quem era o macho alí; torna-se um herói da república se estava simplesmente fazendo o que se esperava dele? - Porque o mundo inteiro e a Itália nesse particular está assistindo uma desconstrução da autoridade como nunca se viu. Convenha-se que se o primeiro-ministro abre mão do cargo, porque envolvido está em processos que demonstram, se comprovados, um sujeito amoral e sem caráter,  que fornicou até com tomadas elétricas; deixando seu país adernando em uma das piores crises de sua história; porque um capitão de um navio de passageiro, não pode, com o perdão do trocadilho, saltar do barco na primeira oportunidade?

O atual sistema em que vivemos, a muito tempo colidiu com o iceberg da realidade e estamos assistindo o navio afundando em todos os seus sentidos; e o mais triste é que não haverá capitães a frente do resgate porque estão todos a disputar um lugar nos botes.

Tristes Tempos!

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