As coisas são muito curiosas neste pedaço do planeta abaixo da linha do Equador.
Uma navegação sem destino certo na blogosfera demonstraria ao internauta que existem três grandes assuntos sendo tratados:
a) A "unção" de Barack Obama como a pedra de toque que faltava para a "esquerda" tomar o poder e não perca seu tempo, leitor amigo, de tentar convencer os, como direi, analistas e pensadores, que o que se chama de esquerda americana não tem nada ver com a esquerda petista, com Lula e muito menos com a visão de esquerda de Evo Molares, de Chavez e daquele padre com nome que lembra brinquedo de armar, Lugo. Ah!, é claro, não perca seu tempo em faze-los voltar a razão porque a maioria imagina um mundo dourado com o novo presidente mudando tudo que lá está aí e sendo o redentor do mundo. Só dois exemplos apenas: McCain e sua vice usaram aviões da Embraer porque ou já estavam disponiveis ou inham custo mais barato e foram pressionados a usar Boeings, produtos americanos. McCain é favorável ao fim de subsídios ao etanol americano favorecendo o produto brasileiro e Obama votou contra o fim dos subsídios.
b) Construção de explicações para a derrota do PT em São Paulo ou descontrução das vitórias e não perca tempo, leitor amigo, de tentar convence-los, até porque a maioria é militante, de que não tem nada a ver dizer:
- Que houve preconceito contra a candidata, por ser mulher. Não adianta argumentar com o fato de que a cidade já escolheu mulheres antes e desse mesmo partido. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a desconstruir as próprias vitórias num enome paradoxo, para legitimar a explicação. Dizem que Erundina só ganhou porque na época não havia segundo turno, e no caso de Marta, ela só ganhou porque o governo anterior, de Pitta foi extremamente ruim. Viram? Não houve mérito ou qualidade nas candidatas para atingirem a vitória, houve falha ou defeito nos outros.
- Que houve preconceito pela questão homossexual. Não adianta argumentar com a fato de a cidade escolheu como prefeito justamente alguem acusado de esconder ser homossexual. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a descontruir as próprias ações do partido como por exemplo a reação ruim a campanha pelo pessoal GLT e a retirada da peça publicitária. Alegam que nunca ocorreu nada, mas a imprensa, essa malvada de sempre, fez as ilações terriveis para que o povo mandasse a candidata petista para escanteio.
- Que houve apoio de malufistas e dessa turma nojenta da direita. Não adianta desenhar que o partido de Maluf é o PP que é por sua vez o antigo PDS e que por sua vez era a antiga Arena, partido de apoio aos governos militares; partido esse que nadou de braçada no mensalão e que tem ministério no governo Lula, por ser da BASE de apoio do governo federal. Sabe porque não adianta? Porque os militantes chegam a desconstruir as proprias alianças porque o que vale é a contextualização, a relativização, a troca dos fatos por sua particular interpretação.
- Tem um monte de outras explicações e contra-explicações. A que me causa mais risos é a força como os militantes petistas afirmam que o governador Serra não ganhou nada com a vitória do candidato do DEM. Os risos vem de saber que se eventualmente a candidata do PT tivesse levado a eleição, os mesmos militantes e "analistas" estariam escrevendo como a vitória da candidata foi uma vitória do Lula por causa de seus 80% de popularidade.
c) A crise e os efeitos dela no Brasil.
Enquanto isso, um importante assunto vai se consolidando e que está meio que entrameado com outros assuntos que estão em aberto. Esse assunto importante é a fusão da Brt e Oi.
A Brasil Telecom era uma empresa de telefonia resultante da privatização do sistema telebrás. Essa em especial ficou com Daniel Dantas, telecom Italia e fundos de pensão, enquanto que a Telemar ficou com Carlos Jereissati do grupo Laforte e fundos de pensão. A telesp ficou com a telefonica espanhola. O BNDES entrou com empréstimos para os interessados que em troca cederam as ações e participações como garantias.
De lá pra cá, uma série de brigas e disputas foram se sucedendo entre planos de pensão, Daniel Dantas e sócios estrangeiros. Enquanto isso; as empresas de telefonia iam marcando posições e o mercado de celular era o filão. Assim as teles atráves de participações tinham empresas na área de telefonia móvel além da fixa. Com a compra da Embratel por Carlos Slim, mexicano, o sistema de telecomunicação brasileiro não tinha nenhuma estatal mas diversas empresas e as chamadas concorrentes espelhos com áreas de concessão determinadas pelo govenro e controladas pela ANATEL e sua lei de outorga.
Uma das cláusulas dessa lei era o impedimento de um grupo ser controlador de mais de uma empresa de telecom. Na prática essa cláusula impede que uma empresa compre a outra ou se funda, evitando assim uma dominância de mercado, ainda mais porque esse mercado é dividido em concessões, não é um mercado livre. Explico: o cliente é livre em termos, para escolher sua operadora de celular desde que ela tenha autorização para operar na aréa de concessão aonde está o cliente. Por exemplo, em SP, você pode escolher usar um celular da Vivo, da Claro, da Tim, mas não podia usar da OI, porque a OI não tinha concessão para operar em SP. No caso das tarifas de DDD você pode usar as disponiveis no mercado; mas se quiser adquirir uma linha fixa de telefone, em SP você é obrigado a comprar essa linha da Telesp. Adiante;
Com o crescimento e incremento do uso do sistema celular; essa operação foi ficando tão importante que a OI, a operadora de serviço de celular da Telemar ficou maior que a mesma e a Telemar passou a comunicar como Oi-Telemar e agora simplesmente Oi.
A BrasilTelecom, designada Brt não adquiriu a mesma força que a Oi ou mesmo outras empresas da área.
Falemos dos donos;
Daniel Dantas era a estrela dos anos 90 adquirindo essa fama e posição, pelos contatos que tinha no governo e sua ascenção no mundo dos negócio na época do governo FHC. Ele era sem sombra de dúvidas um dos grandes financiadores de campanha do então PFL atual DEM e PSDB. Daí o ojeriza com que a militância de esquerda e do PT o tratam até hoje.
Ocorre que agora sabe-se o que alguns já haviam advertido e muitos fecharam os olhos; que Daniel Dantas também financiava os partidos agora no poder, e da pior forma possivel, aquela por baixo do pano. Segundo Mainardi, que foi o primeiro a falar nisso, Dantas era a verdadeira fonte do mensalão.
Então temos em uma ponta, Daniel Dantas, que sempre apoiou financeiramente partidos e políticos, com um problema enorme nas mãos que era a briga pelo controle da Brasil Telecom com a itália Telecom, fundos de pensão e Citibank. (Não esqueça, leitor amigo, que em parte essa briga ocorre porque um lado dos petistas no governo, que controlam os fundos de pensão eram contra Dantas e outra facção, nos ministérios era a favor).
Na outra ponta, temos os donos da Oi que são os maiores financiadores e apoiadores de campanha do PT e do presidente Lula.
Adular o presidente e criar meios de força na área de telecom é um caminho natural, embora não seja lá muito ético, de defender interesses comerciais.
Dantas fez isso, bancando despesas de uma empresa pequena que começava seus primeiros passos e que tinha como sócios, filhos de petistas, um deles, filho de Lula. Após bancar despesas pequenas, Danta deu o bote com proposta de capitalização da empresa, a gamecorp, através da BrasilTelemar. Lula, no entanto, aconselhado por petistas amigos, fez o filho rejeitar a oferta.
Mas a empresa precisava de sustentação e em socorro dela apareceu a Oi então ainda Telemar comprando participação ao custo de alguns milhões de reais e a gamecorp passou a desenhar jogos para celular para a Oi.
O crescimento foi tão frenético que a gamecorp fez um acordo comercial com a TV Bandeirantes e passou a controlar a programação de televisão do canal 21 com o nome de PlayTV.
Lembram-se das pontas? De um lado, temos a BrT, de Daniel Dantas que deu sustentação a base do governo alimentando o mensalão e na outra ponta a Oi, do grupo La fonte, que não é qualquer empresa mas é a empresa que deu sustentação a gamecorp, empresa do filho de Lula e tambem foram grandes se não foram os maiores, financiadores da campanha petista e da campanha de Lula.
Como amarrar essas pontas que são do mesmo novelo, o emaranhado resultante da mistura de interesses comerciais, políticos, financeiros?
A resposta é a fusão da Brt com a OI. Porque?
1) A receita da fusão, enquanto negócio, é sem dúvida um belo retorno pelo financiamento de uma campanha tão vitoriosa quanto a petista. Abre caminho para o OI ter atuação nacional, com uma campanha promocional no mínimo simpática ao cliente e que tem e terá enorme resultado.
2) É um meio de ressarcir Dantas do jogo em que esteve metido e como a BrT não tem tamanho nem poder para comprar a OI, o jogo lógico é a OI comprar a Brt e dessa compra, Daniel Dantas sai com mais de 01 bilhão de reais no bolso, sem as pendengas judiciais com os sócios e os fundos de pensão com tamanho e poder de decisão mais reduzidos, fortalecendo a atual e mais forte facção do PT no poder, já que a fusão encerra uma disputa interna dos militantes.
Como explicar no entanto, uma operação comercial dessas, além do que, é ilegal, já que a lei de outorga entçao vigente proibe essa operação?
Deve-se mudar a lei, obviamente, mas como fazer isso e ainda contar com apoio da turma, da manada?
Usa-se a velha tática do nacionalismo bocó.
O governo passado foi entreguista e estamos nas mãos dos malvados estrangeiros. O que fazer? Criar uma estatal? Não dá! Convenhamos, esse motivo "nacionalista" é só uma desculpa. A resposta é fortalecer uma empresa NACIONAL. Qual? a Oi. Mas ela não é Nacional em termos de abrangência. Então tá, ela se funde com a Brt, outra coitadinha, pequenina, que está no meio de uma briga de investidores estrangeiros malvados e elas, juntas terão "sinergia" para negociar com fornecedores e fazer frente ao mexicano capitalista, aos espanhois imperialistas e ao ET de Varginha.
A coisa é tão certa, que o BNDES entrou com um financiamento gigantesco para que a Oi e Brt façam a fusão. Mais a frente, a OI conseguiu outro empréstimo gigante com o Banco do Brasil.
Com tantos nobres interesses a serem atingidos, o governo indica para a cadeira vaga na direção da ANATEL, uma pessoa indicada por José Sarney que por mera coincidência, era favorável a fusão das teles e votou a favor da mudança da lei. (é curioso que esse raciocinio torto a favor dessa mudança, não considera que o malvado mexicano com o talão de cheques recheadissímo, pode adquirir por exemplo a Telefonica dos espanhois, a VIVO dos portugueses e espanhois, a TIM dos italianos e ficar dez vezes maior que a OI).
Enquanto isso, tem jornalistas e blogueiros que lançam uma cortina expessa de fumaça em torno do assunto, levantando uma bandeira de luta contra Daniel Dantas e acusando revistas, jornais e outros profissionais da mídia de vender sua "pena" aos interesses de Dantas. Quando o governo age em favor desses mesmos interesses, concordam por conta da "sinergia". Quando o BNDES financia uma operação até então ilegal, concordam com seu silêncio. Quando a FSP, a revista VEJA, Mainardi e outros publicam críticas ao governo, a Lula, a Dantas; tudo não passa de armação para defender Dantas.
E assim as coisas vão se sucedendo...
Tem mais uma coisa interessante. Paulo Henrique Amorim, acusou a Brasil Telemar ou Brt, dona do portal IG de censura-lo e manda-lo embora por sua luta contra a fusão Brt e OI. Ele então cria uma página e passa a cantar as glórias de ser independente. Mas se você olhar o registro do site verá que a empresa que mantêm o site tem como um de seus principais clientes com direito a banner enorme no site da empresa, adivinha quem? a OI que na verdade é telemar, uma das pontas da fusão BrtOI.
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