É ruim ficar analisando questões políticas, porque em geral o que sobra e a sujeira presa no sapato, se é que me entendem.
Mas não posso deixar de analisar o discurso e o método por tráz dele; e refiro-me a ultima e mais recente fala do presidente Lula.
Em uma entrevista, afirmou que: "...Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de prender as pessoas em função da lei de Cuba, assim como quero que respeitem o Brasil...".
Porque chamo de incoerente o discurso?
Em primeiro lugar, se fosse uma questão de respeito ao regime judiciário e leis de um local ou época, seria o caso do próprio presidente e a grande maioria dos que recebem pensão por conta de terem sido "perseguidos" pela ditadura militar devolverem o dinheiro porque afinal de contas, embora errada e íniqua, a ditadura militar tinha um arcabouço de leis para se sustentar. Entretanto, como se tratou de uma ditadura de direita e as "vitimas" eram de esquerda, cabe-lhes todas as honras, pensões vitálicias e rapapés. Mas em Cuba, deve-se observar silêncio obsequioso porque a ditadura militar é de esquerda e as vítimas não sào vítimas, mas habitantes do sistema carcerário de lá.
Que se note: O atual presidente Lula era o antigo metalurgico presidente do sindicado que liderou as famosas greves no ABC que resultaram na sua prisão por cerca de 30 ou 45 dias. A lei na época não previa o direito de fazer greve. Na verdade a lei, na ditadura militar proibia a greve. Logo Lula foi preso com base na lei e justiça então em vigor e nem por isso, deixou de ser considerado prisioneiro politico tanto que recebe pensão vitálicia.
Em segundo lugar, existe a incoerência de decretar respeito a uns e a bradar a ira divina a outros, dependendo quem está levando o chute no traseiro. Por exemplo, quando o ex-presidente de Honduras teve sua deposição decretada com base na constituição de lá, estranha para nós é certo, mas aceita lá; logo ocorreu dentro do regime de justiça hondurenho; o governo brasileiro liderou as críticas, ataques e ações visando o retorno do companheiro deposto. Mas quando se trata de criticar um governo também de companheiros por abuso de direitos humanos, exige-se o respeito a justiça local mesmo que ela seja...inexistente.
Em terceiro lugar, existe o tão prezado sentimento de independência do imperialismo ianque. Como os EUA são críticos ao extremo do governo cubano, deve-se demonstrar independência indo na direção contrária. Mas não existe o mesmo sentimento de independência ao se alinhar com o regime Cubano, que tem o direito de prender quem quiser ou o Venezuelano, que tem democracia até demais.
Em quarto lugar, existe o caso Batisti, no qual o governo se esforçou além do necessário para manter no país um terrorista condenado na Itália, acusando em primeiro plano , o suposto desrespeito aos direitos humanos por parte da Itália, uma democracia. Nem se deve considerar aqui que o sujeito teve direito a defesa até em cortes internacionais e presos cubanos sequer a julgamento; mas va lá; como o STF entendeu que cabe a extradição do marginal condenado, o executivo pelo andar da carruagem, o manterá no Brasil por questões humanitárias. Já os prisioneiros em Cuba não merecem sequer uma desagravo por questões humanitárias mas levam um pito no lugar além de comparações com marginais condenados no Brasil.
Se o presidente tivesse, sei lá eu, defendido o direito de Cuba de ter o governo que deseja, pouco importando se é uma ditadura ou um democracia, mas que deveria zelar pelos direito humanos libertando os prisioneiros de opinião; e usando seu próprio exemplo como gosta tanto de lembrar, que é criticado todo dia nos jornais mas tem mais de 80% de popularidade, ou seja, opinar não mata ninguem; ele seria aplaudido de pé, por todos e haveria uma espécie de unanimidade, nessa questão, como é do gosto dele.
Mas o que ocorre é que os jornais deram destaque a entrevista dele, os críticos desceram com razão o porrete, os defensores, especialmente na blogosfera militante fazem um silêncio obsequioso e logo surgirão postagens e comentários ora defendendo ora explicitando que houve distorção do realmente dito, etc e tal.
E por ai continuamos, tomando o cuidado de não sujar os sapatos, embora seja impossivel não ficar nauseado com o cheiro.
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