FERNANDO DE BARROS E SILVA Geisy na folia
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/02/10
SÃO PAULO - Com a palavra, o apresentador do "Fantástico": "A polêmica acabou em samba. Lembra da Geisy, aquela do vestidinho rosa que provocou um rebuliço numa universidade em São Paulo? Ela está de volta, modificada, revista e ampliada". Assim começava a reportagem do dominical da Globo sobre a lipoescultura a que se submeteu a estudante Geisy Arruda. Tratava-se de mostrar em primeira mão o "novo visual" que a musa acidental da Uniban iria exibir durante os festejos momescos.
"Samba, vestidinho rosa, rebuliço" -as expressões engraçadinhas do locutor dão o tom acafajestado do suflê destinado a entreter os lares no final do domingão.
Uma das coisas que mais chamam a atenção no caso Geisy é a conversão do trauma em oportunidade, da humilhação em dinheiro, da selvageria em diversão de massa. A passagem entre uma coisa e outra se deu de maneira instantânea, sem que houvesse tempo para a elaboração do luto ou preocupação em refletir sobre o que aconteceu.
Depois de dizer que cinco litros de gordura foram pelo ralo, que "a barriga virou bumbum" e que Geisy ganhou quase meio litro de silicone em cada peito, o repórter pergunta: "Será que uma lourona dessas passa despercebida nas ruas?"
Vemos então miss Uniban desfilar pelos bares, entre marmanjos ouriçados a emitir sons de aprovação e correr para clicar a "nova Geisy" com os celulares. A cena lembra a turba em fúria nos corredores da universidade.
Aquilo que a escola prometia como perspectiva remota (uma vida melhor com o canudo na mão), Geisy alcançou num estalo, não pelo que aprendeu, mas como vítima da estupidez e da atrocidade do ambiente de ensino que frequentava.
Talvez ainda exista a tentação de criticar o deslumbramento da garota com sua fama descartável. Mas por quê? Ela não é mais vulgar do que as apelações da mídia a seu respeito. Ela não é mais frívola do que o jornalismo de celebridades e seus espectadores.
SÃO PAULO - Com a palavra, o apresentador do "Fantástico": "A polêmica acabou em samba. Lembra da Geisy, aquela do vestidinho rosa que provocou um rebuliço numa universidade em São Paulo? Ela está de volta, modificada, revista e ampliada". Assim começava a reportagem do dominical da Globo sobre a lipoescultura a que se submeteu a estudante Geisy Arruda. Tratava-se de mostrar em primeira mão o "novo visual" que a musa acidental da Uniban iria exibir durante os festejos momescos.
"Samba, vestidinho rosa, rebuliço" -as expressões engraçadinhas do locutor dão o tom acafajestado do suflê destinado a entreter os lares no final do domingão.
Uma das coisas que mais chamam a atenção no caso Geisy é a conversão do trauma em oportunidade, da humilhação em dinheiro, da selvageria em diversão de massa. A passagem entre uma coisa e outra se deu de maneira instantânea, sem que houvesse tempo para a elaboração do luto ou preocupação em refletir sobre o que aconteceu.
Depois de dizer que cinco litros de gordura foram pelo ralo, que "a barriga virou bumbum" e que Geisy ganhou quase meio litro de silicone em cada peito, o repórter pergunta: "Será que uma lourona dessas passa despercebida nas ruas?"
Vemos então miss Uniban desfilar pelos bares, entre marmanjos ouriçados a emitir sons de aprovação e correr para clicar a "nova Geisy" com os celulares. A cena lembra a turba em fúria nos corredores da universidade.
Aquilo que a escola prometia como perspectiva remota (uma vida melhor com o canudo na mão), Geisy alcançou num estalo, não pelo que aprendeu, mas como vítima da estupidez e da atrocidade do ambiente de ensino que frequentava.
Talvez ainda exista a tentação de criticar o deslumbramento da garota com sua fama descartável. Mas por quê? Ela não é mais vulgar do que as apelações da mídia a seu respeito. Ela não é mais frívola do que o jornalismo de celebridades e seus espectadores.
Voltei e comento:
Quando ocorreu o fato, escrevi a respeito dizendo que os alunos que atiçaram, ofenderam e ameaçaram deveriam ter sido presos.
O argumento, usado até por profissionais da universidade, de que a estudante havia instigado os demais alunos levantando ainda mais a saia; é o mesmo argumento tosco de que uma vítima de estupro instigou seu atacante por ter usado uma saia mais curta ou uma decote maior. Um estrupador vai atacar se tiver uma chance e não se a vítima usava uma roupa mais ou menos instigante. Se assim fosse, prostitutas e travestis seriam vítimas de estupros todas as noites porque vendem o sexo usando roupas ainda mais atrevidas e qualquer um que trabalhe na polícia ou em pronto socorro sabe que isso não ocorre com tanta frequencia.
O que temos então é que pode ter sido inconveniente ou imprópria a roupa da moça para a ocasião, mas decerto não é motivo para ser objeto de linchamento moral e do jeito que a coisa ia, físico. Curiosamente, os mesmos jovens tão ciosos da moral e dos bons costumes são exatamente os mesmos que adquirem resvistas masculinas e não recusam pornografia na web e em filmes; ou vão querer me convencer que todos eles participaram de agum retiro espiritual durante o ultimo carnaval?
E é por justamente por isso que que sobressalta dúvidas sobre a veracidade do fato original, da agressão. A repercussão na mídia falava em traumas, impedimento de sair a rua, vergonha e por ai foi a coisa. Depois de súbito, a moça aparece em programas de televisão, em comerciais, esculpe o corpo para aproveitar o momento, faz ensaios, sai desfilando na passarela do samba...mas aonde está o trauma, a vergonha, o medo de sair na rua?
Para alguem cujo perfil indicavacerta timidez antes do ocorrido, manifestou-se rapidamente outra personalidade.
Vítimas reais, a experiencia mostra, surfam suas popularidades instantaneas para alavancar movimentos contra o vilão de sua experiencia, seja um marginal, a violencia, a doença, etc.
Quando uma vítima surfa essa mesma popularidade para fazer justamente aquilo que dizia ser impossivel por conta do trauma, começo a ter dúvidas se foi realmente uma vítima e a partir disso começo a tecer os fios de uma trama conspiratória.
Porque a "turba"não pode ter se iniciado a partir de amigos, digamos assim, que se propuseram criar um fato para a moça conseguir atrair os holofotes...tá certo, estou exagerando, mas veja bem, a mídia só ficou sabendo porque o pessoal da turba que xingava foram os mesmos que filmaram e colocaram os videos no youtube.
De resto foi esperar a muvuca ficar conhecida, ai vem o papel da vítima vilipendiada e o esplendor da volta por cima com direito a tudo aquilo que alguem que sonha com a fama almeja ter e depende para conseguir de ser escolhida para um bbb da vida.
Claro, tudo pode ter ocorrido como explicado por ela e que se note, mesmo que ela decidisse andar pelada, as agressões que sofreu ainda assim seriam criminosas.
Mas é triste pensar que os atos posteriores dela, não façam jus a uma vítima de agressão sexista ou sexual.
Isso não diminue o peso da agressão mas com certeza diminue o papel da vítima.
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