A semana que passou foi de tristes acontecimentos. Tristes porque sendo limites, fica-se com a impressão de que a vida fortuita, um presente divino ou como querem alguns, um feliz acaso do destino; seja uma sucessão de efemeridades e uma incontestável perda de tempo com assuntos sem real importancia.
Porque é dificil explicar como dois programas tão antagônicos conseguem espaço nas ondas sonoras e televisivas.
De um lado, um documentário que está sendo exibido pela HBO sobre Malaui produzido por Madona. Ela conta a estória do menino que ela adotou e outros e o documentário é um soco no estomâgo. Um jovenzinho teve seus orgãos sexuais cortados para ser usado em rituais de magia; e Madona bancou o tratamento dele, dando-lhe uma casinha para morar. Era uma casinha literalmente e a felicidade do menino era indescritivel mostrando sua casa e sua cama; uma esteira de palha enrolada. Uma jovem cujos pais morreram precisava passar por um ritual da tribo que envolve ter relações com os homens da aldeia para afastar o mal que matou seus pais. Não é a toa o alto número de pessoas infectadas com o virus da aids.
A sensação é de desolação ao terminar o filme.
De outro lado, mudando os canais a esmo, deparo-me com a edição do BBB na Globo, justamente em um momento no qual uma das protagonistas momentos antes de escolher alguem para ser votada para permanecer na casa ou não, está aos prantos, falando que as pessoas não sabem como aquilo é dificil.
A desolação deu lugar ao asco. Quem sabe a edição do programa, se bom senso tivesse, programasse um presente digamos assim para os participantes e mostrasse o documentário da Madona sobre Malaui. Quem sabe, aqueles "desocupados" tivesse motivo real para chorar ou caissem em si, reconhecendo que são enormemente privilegiados.
As discussões existenciais entre eles se aproximam da dificuldade de um menino que não compreende porque teve seu pênis cortado ou da menina que precisa fazer sexo com vários homens?
Tá certo, não é porque pessoas passam fome que agora vamos ficar nos limitando a comer arroz puro três vezes por semana. Devemos aproveitar e aproveitar bem o tempo que nos é dado nesta terra, porque não sabemos a quantidade deste tempo, e se for cm conforto tanto melhor.
Mas não podemos ser cegos ao que ocorre ao redor do mundo e as incontáveis injustiças que ocorrem; porque se é fato que dificilmente podemos resolve-las, igualmente é um fato que podemos ao menos, sermos menos mediocres com nossos "pequenos" problemas, que até podem ser grandes, já que dor é algo pessoal, instranferivel e impossivel de ser medido.
Mas podemos contemporizar e olhar as coisas com mais equilibrio. Se temos problemas, há que se enfrenta-los e resolve-los na medida do possivel, mas não somos o centro do mundo. Existem outros passando por situações que oramos dia-a-dia para conhecer apenas teoricamente pelos livros e jornais.
Mas a semana ainda estava em seu começo e fomos brindados com um trailer do Armagedon, com o terremoto no Haiti e assistimos quase em tempo real o pavor e a desesperança de milhares e o que fazer diante da sucessão de tragédias que se sucedem sobre um povo que nada possui além de sua força de vontade de superar os problemas?
Minhas sinceras condolências a todos que de alguma forma perderam familiares e amigos nesta tragédia.
Meu repúdio aos programas de "realidade" que apresentam uma realidade pra lá de irreal.
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